A madrugada ainda veste a fazenda com seu manto espesso e silencioso quando Marta, sentada na rede da varanda, embala Lua com o mesmo cuidado que se embala um fio de esperança. Seus olhos estão vermelhos, não apenas de cansaço, mas da dor crua que insiste em pulsar como um tambor em sua alma. A brisa fria acaricia os cabelos soltos, e o som abafado dos grilos não consegue competir com o barulho dentro de sua mente. Ainda que o mundo tenha desabado, ela não desgruda da filha nem por um segundo. Cuidar de Lua é a única maneira de não se perder de vez.
Jonathan, a poucos passos dali, a observa com um respeito silencioso. Não ousa interromper. Vê na cena algo mais que sagrado, uma mãe em vigília. Mas dentro dele, ao contrário da inquietude ao redor, pulsa um sentimento inesperado. Pela primeira vez em anos, sente-se exatamente onde deveria estar. Aquela criança é sua, aquela mulher é sua, e aquele amor, embora nascido da forma mais impensada, é a coisa mais sólida que já teve em mãos.
Mas a paz tênue da madrugada não é compartilhada por todos. No outro extremo do sítio, Islanne caminha de um lado para o outro com os braços cruzados e a expressão elétrica de quem está prestes a explodir.
— Eduardo! — ela resmunga, a voz cortando a quietude. — Pega as tuas coisas, agora! A gente vai sair.
— Aonde, criatura? — ele retruca, ainda meio divertido.
— Fazenda da Darlene. Não discute. Bora!
Em minutos, a caminhonete Ram já rasga a estrada de terra, jogando poeira no céu enquanto o motor ruge como se compartilhasse da urgência de Islanne. Eduardo ainda tenta entender o que está acontecendo, mas ela está fechada. Rígida. Determinada.
Ao chegarem, a paisagem muda. O portão da fazenda de Darlene se abre como um abraço e, logo depois, é isso mesmo que recebem — um sorriso escancarado e braços abertos.
— Olha só quem chegou! — Darlene diz, rindo e puxando os dois para perto.
Mas Islanne não perde tempo com rodeios.
— Tu tá com ele, né? — pergunta, cravando os olhos em Darlene.
Há um breve silêncio, mas Eduardo responde sem hesitar:
— Sim. A gente tá junto. Mas ainda não contamos pra ninguém. A Marta tá... você sabe. Frágil.
Darlene assente, sem culpa, mas com consciência. Sabe o peso daquilo. Ainda assim, o momento não permite mais segredos. O trio troca um olhar cúmplice e segue em direção ao galpão.
— Vamos levantar esses drones. Mas ninguém fala para o Ravi. Ele tá... possuído ultimamente.
Montam a estrutura com rapidez. Lona estendida, controles preparados, monitores ligados. Mas antes que os drones decolem, Islanne se afasta ao ver uma vaca se aproximando.
— AI MEU DEUS, O QUE É ISSO?! — ela grita, se escondendo atrás de Eduardo. — Isso aí é... uma vaca mesmo?
— Mulher! — Darlene ri alto. — É a Zizinha! Ela é mais mansa que muita gente que eu conheço.
Rindo, ela a puxa pela mão até o curral.
Ali, dezenas de bezerros de olhos curiosos e narizes molhados se aproximam. Islanne estica a mão, receosa, mas encantada.
— São lindos... e tão mansos!
— Porque são criados com a gente desde pequenos — explica Darlene, enquanto cura o umbigo de um recém nascido com uma solução antisséptica.
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