O som agudo rompe o silêncio como uma facada elétrica.
“OBJETOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS EM ZONA MONITORADA.”
Ravi saltou da cadeira como se tivesse levado um choque.
— Que porrah é essa?! — exclamou, os olhos varrendo as telas.
Tropica nos cabos enquanto se lança até o monitor lateral. A câmera externa exibe o céu noturno sobre a fazenda — dois pontos vermelhos pulsando no alto, como olhos de um predador invisível.
Ele amplia.
Drones. Dois. Sobrevoando área crítica.
O maxilar de Ravi trava. Os punhos cerram.
— NÃO... NÃO AGORA, FILHOS DE CHOCADEIRA!
Ele corre até o painel de controle. Frequência civil. Sem autorização. Imediato cruzamento de sinais. Só podia ser…
— Eduardo… seu FILHO DA PUTTA!
A mão voa até o celular com tanta raiva que o aparelho quase entorta. Disca. Viva voz. A linha chama. Uma. Duas vezes.
— Alô?
— TÃO ACHANDO QUE ISSO AQUI É O QUÊ, KARALHO?! UMA FEIRA LIVRE?! DESLIGA ESSA PORRAH DESSA MERDA AGORA, EDUARDO! VOCÊ TÁ QUERENDO F0DER A OPERAÇÃO?! EU RASTREIO TUDO, PORRAH! TUDO! JÁ BASTA O HERMES TODO MUTILADO, AGORA TU ME VEM COM ESSA PALHAÇADA DE DRONE?! EU JURO PELA MINHA MÃE QUE EU VOU
A voz que entra o interrompe não com grito, mas com um veneno sedoso, arrastado:
— Ravi… — diz Islanne, doce e perigosa — se tu continuar com esse tonzinho, eu juro que vou embora sem sentar bem gostoso no teu pau. E aí, querido… tu dorme sozinho essa noite.
Silêncio. Seco. Cortante. Eletrocardiograma em linha reta.
Ravi engole em seco. A mão ainda tremendo. Mas agora… por outro motivo.
— Islanne... amor... eu... — a voz sai baixa, submissa. — Eu só fiquei nervoso... demais. Vocês... podiam voltar para o sítio? Com os drones guardados. E, de preferência... sem perder o clima da noite, sabe?
Lá no fundo, Eduardo tenta conter o riso.
— Isso, Ravi, muito bem. Respira. Relaxa — ela diz, com um sorrisinho de quem sabe que venceu a guerra sem disparar um tiro. — Já estamos indo, querido. Mas só porque eu tô com saudade da sua boca em mim e das tuas mãos bem ocupadas.
A ligação encerra. Ravi solta um longo suspiro e deixa o celular cair no canto.
— Essa mulher vai acabar comigo…
Mas seus olhos voltam para o nome que brilha em vermelho na tela.
Hermes de Castro.
O corpo do enfermeiro fora encontrado ontem. Espancado até virar polpa.
Mas o que gelava o estômago era o ritual macabro: olhos arrancados. Dedos cortados. Cocaína entupindo o nariz.
Ravi aperta as têmporas. Uma única imagem o assombra mais que a cena do crime: a cadeirinha de bebê no carro alugado que Hermes dirigia.
E se o bebê de Marta esteve ali?
E se Hermes era mesmo só um elo?
Quem mandou matá-lo?
E... estariam eles sendo vigiados também?
Ele fecha os olhos, respira fundo e se obriga a voltar à investigação. Movimentações bancárias. Contatos. Transferências. Encontros suspeitos. Viagens fora de rota. Tudo começa a se encaixar.
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