O sol brilha forte no céu, mas Jonathan só sente frio. Um frio que não vem do vento ou da sombra das árvores, mas da ausência. A ausência de um choro, de um cheiro, de um olhar que nunca conheceu. Em pleno sítio da família Maia, ele tenta sorrir, lembra do que viveu na noite anterior com Marta ao girar a aliança no dedo, cercado pela natureza, ele caminha como quem se afasta de um enterro silencioso — o do filho que lhe foi roubado antes mesmo de sentir o seu toque.
Ele precisa se concentrar. Afonso Schneider precisa saber de tudo. E Jonathan sente nos ossos que essa conversa vai ser uma tempestade.
Afasta-se da varanda, pisa na terra fofa e caminha entre os galpões impecáveis. Miguel passa por ele caminhando apressado em direção ao galpão em vazio sanitário, e o contraste entre o caos interno e a organização do sítio só o faz sentir mais... perdido.
Ele para. Respira fundo. Treme.
E faz o que vem evitando há dias.
Liga.
— Oi, pai — diz com a voz falha.
Afonso atende no segundo toque. Reconhece o tom na hora. A voz do filho está quebrada como vidro no asfalto. Sem dizer uma palavra, converte a ligação para vídeo. Ao se encararem, não há tempo para rodeios.
— Vai falar a verdade, Jonathan, ou vai mentir pra mim?
Jonathan se encolhe. De repente é só um menino de novo, com os ombros pesando sob a expectativa do nome que carrega.
— Eu... eu preciso de pai agora. E de mãe também... mas eu tô com medo. Não sei como a mamãe vai reagir quando souber de tudo. Como... como tá a saúde dela?
— Sua mãe tá bem, filho. Mas fala. Ela não tá aqui agora. E se você me ligou assim, sei que é grave. Aconteceu algo com a sua irmã?
— Não, pai. Não é com a Islanne, ela está aqui no interior também. É comigo... e com os meus filhos.
Afonso não respira. Só escuta.
— Há um tempo, eu... eu me envolvi com uma mulher. Me apaixonei. Mas fiz merda com ela. Comigo. Com tudo.
— A Marta.
Jonathan trava.
— Você... você sabia?
— Sou seu pai, Jonathan. Eu vejo. Como também sei do caso da sua irmã com o hacker e o advogado. — Ele suspira, tentando não perder o tom. — Fala, Jonathan.
— A Marta foi atropelada, pai. Grávida. Ela... ela teve os gêmeos. Um casal. A menina sobreviveu, está aqui conosco. Mas o menino... meu filho, pai... foi roubado. Roubado ainda na maternidade. E até agora, ninguém sabe onde ele tá.
Silêncio.
Do outro lado da tela, Afonso fecha os olhos. Leva uma mão à boca. O sangue esquenta, mas ele não explode. Não pode. Não agora. O filho precisa dele inteiro.
— Escuta, Jonathan... você é homem. E homem carrega a culpa, sim. Mas carrega também o dever. E agora você vai fazer o que precisa ser feito — diz, firme, mas contido. — Eu vou preparar a sua mãe. Com jeitinho. Não precisa se preocupar com isso. A gente vai aí. O mais rápido possível.
Jonathan tenta conter o choro. Mas falha.
— Eu tô... eu tô tentando, pai. Mas tem coisa demais, e tudo parece girar. Essa menina... a minha filha... me olha como se já soubesse quem eu sou. E o pior é saber que tem alguém com o meu filho por aí. E esse alguém escolheu o pior lado.
Afonso se endireita na cadeira, a voz agora mais serena.
— Você não vai enfrentar isso sozinho, filho. Um Schneider nunca está sozinho. A gente vai te ajudar. Vamos trazer esse menino de volta. Mas, Jonathan... você precisa manter a cabeça fria. Isso pode ser maior do que imagina.
— Eu sei. Eu sinto. Como se tivesse algo sujo por trás disso tudo... mais do que roubo. Mais do que o um crime comum. Como se alguém quisesse me destruir desde antes dele nascer.
O silêncio pesa de novo.
Afonso encara o filho pela tela, e apesar da distância, parece tocá-lo com o olhar.
— Estamos indo, filho.
— Meu Deus... igual à Islanne quando era bebê... — diz, com a voz embargada.
Se apoia no batente da janela. Uma lágrima solitária escapa, ele a limpa rápido, com certa vergonha de si mesmo.
— A primeira neta... e eu nem sabia que existia.
Ele endireita o corpo. Pega a chave do carro no aparador e já vai rumo à porta quando para. Ainda precisa contar para Catia. Não pode deixá-la no escuro, não assim.
Mas como se conta para uma avó que o neto que ela nunca viu foi roubado?
Como se diz que a vida do filho virou um labirinto de dor e perigo?
Ele fecha os olhos por um instante, respira fundo e sussurra:
— Catia vai me matar... e depois vai matar quem roubou essa criança.
Pelo menos nisso, ele tem certeza.
Ela vai saber o que fazer. Sempre soube. Mas antes...
Será que o coração dela aguenta mais essa dor?
E se essa história esconder algo ainda mais sujo do que pensam?
Será que o inimigo não está lá fora, mas bem mais perto... dentro de casa?
Afonso gira a maçaneta e encara a estrada.
A tempestade está só começando.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino