A noite chega com pressa, como se quisesse esconder a dor que o dia expôs. As sombras invadem os cantos da casa, e os sons da roça, antes familiares, agora parecem sussurros de um mundo que não está em paz. Do lado de fora, o vento balança as árvores, e cada folha que cai soa como um sussurro de lamento. O nome de Jeff, não dito em voz alta, agora parece ecoar entre as paredes, nos olhos cansados de cada um.
Marta não consegue descansar. Caminha de um lado para o outro no quarto, os pés descalços tocando o chão frio, Lua no colo, dormindo sem saber do peso que a mãe carrega. Jonathan a observa em silêncio, recostado na moldura da porta. Sabe que não há palavra capaz de consolar, apenas presença. Marta beija a testa da filha com ternura, mas a dor em seu rosto denuncia que aquele gesto não é leveza, é sobrevivência.
— Eu sinto que ele está vivo, Jonathan... — ela diz, com os olhos fixos em algum ponto além da parede. — Eu sinto. Toda mãe sabe quando seu filho parte. Eu saberia se ele tivesse morrido. Mas não... Jeff ainda está aqui, em algum lugar.
Jonathan se aproxima devagar, toca o ombro dela com delicadeza.
— Então vamos encontrá-lo. Mesmo que demore. Mesmo que doa.
Marta assente, mas uma lágrima escorre, solitária. Lua resmunga no colo, e ela a acomoda no berço. Por um instante, ela olha os dois berços, lado a lado — um com a filha que pôde trazer para casa. Outro vazio, esperando por alguém que nunca chegou.
A sala está silenciosa. Ravi segura um copo de água, mas não bebe. Olha fixamente para o nada, como se esperasse que ele contasse segredos escondidos. Darlene acaricia o cabelo de Eduardo, que está deitado com a cabeça em seu colo. Mesmo cansados, nenhum deles consegue dormir. Miguel passa os olhos em uma pasta sobre a mesa: recortes de jornal, anotações, registros do hospital. Tudo parece fragmentado, inconclusivo.
Dona Maria costura em silêncio na cadeira de balanço. Costura uma manta, como se isso fosse o fio que ainda a liga à sanidade. Heitor está ao seu lado, quieto, mas com os olhos vermelhos. Já não chora, mas parece mais velho hoje do que nunca. De vez em quando, os olhos dele se perdem pela janela, como se esperasse ver uma pequena sombra correndo pelo quintal.
— Ninguém nunca o viu, não temos idéia do rostinho dele… — murmura Dona Maria, sem olhar para ninguém. — Será que parece mais com o pai ou a mãe?
Todos param. É a primeira vez que ela fala de Jeff assim. Como se ele estivesse entre eles. Como se sua memória estivesse mais viva do que o corpo ausente.
— Não vamos esquecer dele, não é? — diz Islanne, com a voz baixa. — Mesmo que ele cresça em outro lugar... mesmo que mude... a gente vai saber. O coração vai reconhecer.
— Eu sonho com ele — Eduardo fala de repente, erguendo-se no colo de Darlene. — Não é invenção. Eu vejo ele... só que não consigo ouvir o seu choro. Ele está cercado de gente... mas ninguém fala. Nem ele.
— Eu também sonhei... — diz Miguel, levantando o olhar. — Em um lugar úmido. Como um porão. Com uma lâmpada fraca balançando no teto. Ele chorava e sorria. Brincava muito com um ursinho.
Silêncio. Todos se encaram.
— Vocês acham... — Darlene começa, engolindo o choro. — Que pode ser mais do que instinto? Que esses sonhos são sinais?
— Eu não sei — responde Marta, surgindo na escada com passos lentos. — Mas até os sonhos são tudo o que temos. E se o coração está dizendo, então talvez seja hora de escutar com mais atenção.
Ela se aproxima do grupo. Está mais serena, mas com uma intensidade que assusta. Senta-se no sofá, o olhar firme em todos.
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