Ravi tamborila os dedos na mesa da cozinha, o prato à sua frente quase intocado. O café da manhã já se dispersa em conversas baixas, olhares perdidos e uma atmosfera espessa que se arrasta por toda a casa como neblina. A cada minuto, a tensão parece se condensar mais, sufocando o ar e puxando todos para um silêncio incômodo.
— Marta — ele diz de repente, com a voz seca, sem preâmbulos.
— Evita entrar no seu escritório por enquanto, tá?
Ela o encara, sem entender. Ravi desvia o olhar por um breve segundo e suspira.
— Eu... tomei conta dele nesses dias. Montei uma base de investigação lá. Está meio bagunçado, com muito fio, equipamentos... mapas. Se você for usar, me avise antes. Assim organizo tudo para você. Só peço que não toque nos meus computadores. E, se puder... evita olhar as telas. Tem coisa demais rolando, e sei que você entende perfeitamente o que pode aparecer nas telas, então evite certas informações.
Marta assente em silêncio, respeitosa, talvez ainda tocada demais pela dor para argumentar. Mas há algo em sua expressão que indica curiosidade. Ravi percebe e dá de ombros.
— Vou para lá agora. Não consigo mais ficar parado.
Ele se levanta com impaciência, passa as mãos nos bolsos e caminha até o corredor. Antes de sair da cozinha, para e a observa por um instante.
— Quer vir? — pergunta, mais suave.
Ela hesita por alguns segundos, mas se levanta e o acompanha. Os passos pela casa ecoam como tambores surdos. O corredor parece mais longo do que de costume. Quando Ravi abre a porta do escritório, Marta instintivamente leva a mão ao peito.
O cômodo, antes acolhedor e repleto de livros, agora se parece com uma pequena central de operações. Fios percorrem o chão como serpentes. Quatro monitores estão ligados simultaneamente, mostrando mapas digitais, fotos, gráficos e planilhas criptografadas. Um projetor j**a imagens num quadro branco repleto de anotações. Há rastreios de localização, nomes circulados com marca texto, registros médicos e notificações policiais coladas com fita.
— Meu Deus... — Marta murmura, estupefata.
— Eu avisei — Ravi responde, com um meio sorriso cansado.
— Não vou atrapalhar. É muita coisa... — ela diz, saindo devagar. Mas antes de fechar a porta, lança um último olhar para ele. — Obrigada, Ravi. De verdade.
Ele apenas balança a cabeça. Assim que a porta se fecha, seu semblante muda. Os olhos fixam em uma das telas principais. Seus dedos já deslizam pelo teclado com precisão.
— Vamos lá... vamos ver se você aparece agora, desgraçado — murmura.
Minutos se passam. Ravi mergulha nos dados como um cão de caça farejando uma trilha invisível. De repente, um nome reaparece, piscando em destaque em uma busca cruzada entre arquivos médicos e registros de demissão hospitalar.
Hermes de Castro.
Ele congela. Senta-se mais ereto. Um enfermeiro que pediu demissão no dia seguinte ao desaparecimento de Jeff. Nunca foi interrogado. Nenhum relatório aprofundado. Mas... agora, há burburinhos. Ele começa a cruzar dados.
Última localização confirmada: sul do estado.
Estado civil: solteiro.
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