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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 24

Jonathan desce as escadas da mansão sentindo o aroma forte e familiar do café fresco. Ele franze a testa. Em dias que viaja de madrugada, nunca encontra o café pronto. Ao se aproximar da cozinha, seus olhos captam a cena que o desarma por um instante, Marta, de avental, colocando uma tapioca fumegante no prato. Queijo, presunto e alcaparras. Ela não havia esquecido. Ele se senta sem dizer uma palavra e experimenta a primeira mordida. O sabor está perfeito.

— Obrigado, Marta. — diz, sem olhar para ela.

Ela apenas assente, com um sorriso discreto. Jonathan retira um cartão de crédito da carteira e entrega a ela.

— A senha está anotada aqui. É para as despesas da casa. Se quiser, pode aproveitar minha ausência e fazer as compras do mês. Eduardo estará à sua disposição.

Marta pega o cartão, hesitante. Há algo na despedida que a entristece, mas ela não entende o porquê. Jonathan também sente um incômodo, mas empurra a sensação para longe. Com um último aceno de cabeça, ele sai, rápido, e segue para o hangar, onde o seu jato o espera rumo à capital baiana.

A viagem foi tranquila, sem turbulências e logo ele chega ao seu destino. Ao aterrissar, um carro previamente locado por Mônica já o aguarda. Ele segue direto para Dias D'Ávila, onde a sua filial da Schneider Chemical está localizada. No prédio da diretoria, a gestora da unidade o aguarda com relatórios detalhados. O balanço está impecável, os lucros são excelentes. Isso confirma a sua maior suspeita, o problema ali não é financeiro, é político.

Ele pede reunião com a equipe de qualidade e passa a anotar todas as sugestões de todos, inclusive dos farmacêuticos do plantão. No almoço, surpreende a toda diretoria, quando, em vez de almoçar na sala reservada aos diretores, pega sua bandeja e entra na fila do refeitório como um funcionário qualquer, o mesmo que faz com a sua irmã na matriz. Disfarçado entre eles, conversa, escuta, absorve. A queixa mais recorrente é sobre o plano de saúde, cobertura limitada, poucos especialistas e uma rede credenciada precária.

À tarde, ele se encontra com o setor comercial, revendo estratégias de expansão e renegociação de contratos. No fim do expediente, convoca uma reunião no auditório para todos os funcionários. Quando ele se apresenta, os murmúrios aumentam. Muitos se lembram dele do refeitório, mas não sabiam quem era. Jonathan observa as expressões atônitas e então fala, direto e firme:

— Sei que há pendências críticas nesta filial, e algumas delas dependem de decisões fora do nosso alcance imediato. Mas já posso garantir que mudaremos a assistência médica da empresa. Quero sugestões de operadoras de planos de saúde que funcionem bem aqui na Bahia. Mandem para a diretoria até sexta-feira.

Ele encerra a reunião com algumas diretrizes e reforça que ficará na unidade por mais alguns dias. Naquela noite, exausto, ele segue para o hotel. Pede comida no quarto e, mesmo cansado, revisa os relatórios em seu notebook. Após um banho, deita-se, mas sua mente insiste em retornar a Marta. Como ela está? Como serão esses dias em casa sem ele?

Jonathan se remexe na cama, incomodado. O cansaço pesa sobre seus ombros, mas o sono não vem fácil. Sua mente insiste em vagar de volta para São Paulo, para aquela casa grande e vazia… vazia? Ele se amaldiçoa em silêncio ao lembrar que deixou Eduardo à disposição de Marta. Eduardo, o seu motorista. Eduardo, solteiro. Eduardo, jovem e bem-apessoado e tão íntimo de Marta.

Ele cerra os dentes. Que droga ele tinha na cabeça quando fez isso? Marta é uma mulher sozinha, linda e agora independente, com um cartão de crédito sem limites em mãos e liberdade para ir e vir. Eduardo vai levá-la ao mercado, ao shopping, onde mais ela quiser. E pior, vai estar ao lado dela o tempo todo. Aquele pensamento o corrói, um incômodo ardente que não faz sentido, mas que ele não consegue ignorar.

E se Eduardo começasse a cortejá-la? Pior, e se Marta aceitasse? Ele se revira na cama, os punhos fechados. Imagina Marta sorrindo para Eduardo, rindo de algo que ele disse, aceitando um café oferecido por ele. Imagina aqueles olhos brilhantes fitando o motorista com interesse…

— Inferno! — rosna, passando as mãos pelo rosto.

Ele precisa resolver essa situação. Precisa voltar antes que faça alguma besteira… ou antes que outro homem tome o que, no fundo, ele já sente que é seu.

Antes que o sono o vença, um pensamento o incomoda. O problema político na Schneider Chemical é muito maior do que aparenta. Mas quem está por trás disso? Quais interesses estão sendo ameaçados? E o mais importante, até onde esses interesses irão para impedi-lo de intervir?

* * *

Ela continua seguindo com a luz, sem olhar para trás. Ele tenta correr, mas seus pés estão presos, sua voz se perde no vazio. A dor rasga o seu peito como uma lâmina afiada, sufocando-o.

— AIRA! — Jonathan acorda sobressaltado, o corpo coberto de suor, o peito arfando como se tivesse corrido uma maratona. O desespero pulsa em suas veias. Ele se senta na cama, os punhos cerrados, a respiração pesada. O cheiro dela ainda está ali. Ou será apenas um fantasma da sua memória?

As lágrimas descem silenciosas, levando consigo um pouco de sua alma despedaçada. Ele leva as mãos ao rosto, tentando conter a dor sufocante, mas todo o seu corpo treme. Como pode doer tanto? Como pode ainda sentir a presença dela tão viva, tão real, para depois ser arrancada de seus braços mais uma vez?

O sonho com Aira o atingiu como uma lâmina afiada, abrindo feridas que nunca cicatrizaram de verdade. O calor do amor deles, a felicidade intensa daquele momento, a surpresa da gravidez... tudo aquilo ainda está tão vivo dentro dele, como se o tempo não tivesse passado. Mas então, a despedida abrupta. A luz que a levou para longe, para sempre. E ele, impotente, incapaz de impedir que ela desaparecesse.

Ele vai para o banheiro, olha o seu reflexo irreconhecível no espelho, resolve se jogar no chuveiro, deixando a água quente escorrer sobre seu corpo tenso. Mas o calor não alivia o frio dentro de si. Ele fecha os olhos e lembra de Marta. Seu corpo reagia a ela de forma primitiva, e isso o atormentava. Ele deveria respeitar a memória de Aira... deveria se controlar. Mas será que conseguiria?

Seu coração aperta. Ela tem algo que o faz lembrar de Aira. O corpo, o olhar, o jeito de mexer no cabelo. Será por isso que se sente tão atraído por ela? Será apenas uma projeção de um amor que nunca morreu?

Jonathan aperta os olhos, frustrado. Ele precisa manter a cabeça no lugar. Mas como, se toda vez que olha para Marta, sente uma atração quase dolorosa? Se seus pensamentos a despem sem a sua permissão?

E, pior… se não sabe mais se é Aira que seu coração ainda deseja ou se, no meio de toda essa dor, Marta está começando a preenchê-lo?

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