O silêncio de Miguel Maia diz tudo antes mesmo que Marta abra a boca. Quando ela se aproxima, o irmão fecha os olhos com força, como quem tenta conter o inevitável. Ele não precisa ouvir. Ele sente. No cheiro da manhã úmida, no som dos passos que conhece desde criança, no peso quase invisível que recai sobre o ar entre eles. Marta vai embora.
Ela para diante dele. Miguel não diz nada. Abre os olhos devagar, o olhar cansado, mas lúcido, aceitando o que precisa ser aceito. Ele percebeu, antes de todos, o quanto a irmã está conectada a Jonathan de um jeito que não tem mais volta. Amor, saudade, dor, alívio. Ele vê tudo nos olhos dela. E entende.
Marta estende a mão.
Miguel a segura.
Eles caminham, como sempre fazem quando não há palavras, apenas sentimentos que não cabem no peito. O campo se estende verde ao redor, como se também observasse em silêncio. As folhas se agitam com a brisa leve, cúmplices de uma despedida ainda não dita. Andam lado a lado por longos minutos, até que os pés os conduzem automaticamente até a árvore frondosa que guarda tantas conversas de infância. Sentam-se juntos, mas distantes o suficiente para o vento passar entre eles.
Ficam ali, sem trocar palavras. Os olhares dizem muito, mas não tudo.
Até que Marta inspira fundo, e finalmente quebra o silêncio.
— Eu preciso ir, Miguel — diz ela, a voz embargada. — Preciso ir porque... porque o amo. E neguei isso por tempo demais. Achei que tava calma, em paz, que tinha superado. Mas bastou vê-lo... ouvir a voz dele... o toque dele... e eu soube que tava só me enganando. Eu amo o Jonathan. Loucamente. E... eu também preciso dele.
Miguel a escuta com o maxilar tenso. Não olha de imediato. Apenas foca em uma folha que cai lentamente à frente deles.
— Preciso dele para buscar forças para procurar o Jeff. Preciso do amor dele pra continuar. E ele... ele também me ama, Miguel. Eu sei disso. Só que ele é quebrado. Como a gente. Como todos nós. E a gente vai aprender junto. Como reconstruir. Como viver.
Ela suspira, depois continua:
— Eu vou continuar ajudando a empresa. A fazenda é parte de mim, mas... eu tô saindo da sociedade. Não é justo você trabalhar sozinho e ter que dividir o lucro.
— Não — Miguel diz imediatamente, virando-se para ela. — Se for assim, eu largo tudo. Eu também vou embora.
O silêncio se instala, denso, e os olhares se cruzam como lâminas afiadas. Marta vê a firmeza nos olhos do irmão. Ele está irredutível.
Ela recua um pouco, depois respira fundo. Sabe que com Miguel, não se ganha na força. É preciso ceder com sabedoria.
— Então... ficamos como estamos. Mas combinamos uma coisa, por agora, toda a minha parte do lucro vai ser reinvestido. Eu não vou tirar nada. Vou continuar administrando à distância com a ajuda do Jonathan e da Islanne. Eles têm visão ampla, experiência, e me ensinaram tanto... Vou vir sempre, com a família. Mas você também tem que ir. Visitar a gente em São Paulo. Os nossos pais precisam disso. Eu preciso.
Miguel abaixa os olhos por um segundo, depois levanta e a encara de novo. Silêncio. Concorda com um aceno leve. Os dois se levantam. E como sempre fazem, como marca registrada dos irmãos Maia, se encaram por mais alguns minutos em silêncio absoluto. Olhos nos olhos, os corações transbordando.
Porque mesmo decidida, mesmo apaixonada, mesmo amparada por aqueles que ama, ela ainda se pergunta, em silêncio:
Será que terá forças para enfrentar tudo o que está por vir?
Então ela encara o horizonte, o vento brincando com as cortinas, o cheiro de café fresco ainda pairando no ar. O coração pulsa mais forte só de pensar na mansão Schneider. Tantas lembranças, tantas dores e recomeços contidos naquele lugar. Voltar lá não será apenas voltar para Jonathan, será confrontar tudo o que viveu, tudo o que sentiu, tudo o que quase a destruiu e, ao mesmo tempo, a moldou.
O que será que me espera por trás daqueles portões de ferro? — pensa, apertando de leve a mão sobre a barriga.
Jonathan é um homem novo, ela sabe. Mas a mansão guarda fantasmas. Os corredores testemunharam brigas, promessas, noites em claro. E agora, com Lua em seus braços, a busca por Jeff se impõe como um grito. Não há mais espaço para esperar. Ele precisa ser encontrado.
Será que ele está bem? E se... e se não conseguir? E se for tarde demais?"
O peito aperta. Mas há também uma chama viva queimando em sua alma, a chama de uma mãe. Ela sabe que nada a impedirá. Vai até o fim. Mesmo que tenha que enfrentar os mesmos corredores escuros da mansão, os olhares antigos, os ecos do passado... vai entrar de cabeça nessa nova fase.
E quando atravessar aquele portão outra vez… será que, desta vez, encontrará respostas? Ou apenas mais perguntas?

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