O mundo parece prender o fôlego.
O vento sopra devagar, como se tivesse aprendido a respeitar o silêncio do Sítio dos Maia. Nem as folhas se movem, nem os pássaros cantam. Há um silêncio tão denso, tão dolorosamente vivo, que parece ter peso. É o tipo de silêncio que só nasce nos minutos que antecedem o adeus, o verdadeiro, o que arranca pedaços. O tempo, ali, não anda. Ele apenas observa, respeitoso.
A poeira da estrada ainda não subiu. Mas os olhos já marejam. Os corações estão apertados, e a garganta presa como se engolisse espinhos.
O fim chegou.
E por mais que todos soubessem que um dia ele viria, ninguém se preparou para a dor que isso traria. Ninguém quer soltar. Ninguém sabe como reagir.
Ravi está parado no meio do terreiro, imóvel. As mãos cerradas, o maxilar trincado, a respiração entrecortada. Ele tenta ser forte, tenta não desmoronar, apenas tenta. Mas seus olhos, tão azuis quanto a coragem que sempre carregou, vacilam. Procuram uma saída, um esconderijo… e então encontram os braços abertos de Dona Maria.
Ele não pensa. Solta um soluço que explode no peito e corre. Corre como um menino machucado, desesperado por colo. Se j**a nos braços dela e ali, naquele abraço materno, Ravi se despedaça.
— Meu menino… você virou meu menino também, Ravi… — cochicha ela, acariciando os seus cabelos loiros, embalando-o como quem embala o próprio filho de sangue.
E Ravi chora. Chora com o peito. Chora com a alma. Chora pelo que perdeu, pelo que ganhou, pelo que não sabia que precisava. E o mundo inteiro parece chorar com ele.
Miguel abaixa a cabeça, morde os lábios. Eduardo fecha os olhos com força. Darlene segura as próprias mãos para não tremer. Até o céu parece cinza, mesmo sob o sol. A dor ali é de todo mundo.
— Quando eu for visitar Marta… quero te ver também, viu? — diz Dona Maria, ainda sem soltá-lo.
— É só me chamar… eu vou correndo. A senhora virou lar, Dona Maria… virou abrigo.
Seu Heitor se aproxima devagar, com os olhos marejados e o coração na mão. Pousa a mão firme no ombro de Ravi, e o puxa para um abraço que fala mais do que qualquer palavra.
— Você tem lugar aqui, moleque. Tem chão. Tem casa. Sempre vai ter.
Ravi apenas assente, tremendo.
Darlene, com os olhos cheios d’água, chega sorrindo com dificuldade. Ravi a abraça como quem segura um pedaço bom da vida. Como quem agradece pela luz que ela foi nos dias nublados. Eles não falam nada. Não precisam.
Islanne segura firme a mão de Dona Maria, respira fundo e então diz:
— A senhora nos acolheu como ninguém. Nem no melhor hotel do mundo alguém cuidou da gente assim…
— Aqui não é hotel, minha filha. Aqui é casa de gente. E vocês… vocês viraram gente da gente, família — diz Dona Maria, já com lágrimas escorrendo.
Seu Heitor a abraça como um pai que reconhece a grandeza do que foi vivido ali.
— Esse terreiro vai parecer vazio… mas vocês deixaram tanta coisa aqui, tanto amor, tanta história…
Miguel se aproxima de Islanne e a envolve num abraço forte, genuíno.
— Você é da cidade grande… mas me ensinou muita coisa sobre ser gente. Ganhei uma irmã.
Ela sorri entre as lágrimas. O abraço fica ali, suspenso no tempo.
E então, Jonathan se move.
Caminha até Dona Maria como quem caminha para o próprio julgamento. Ela o abraça antes mesmo dele dizer qualquer coisa. Apertado. Profundo. Um abraço de mãe. Um perdão sem culpa, um amor que não cobra.
— Cuida da minha filha. E da minha neta. Por tudo que é mais sagrado, Jonathan… cuida delas como se fossem a tua alma.
— Eu juro, a voz dele falha. Ele treme. — Eu juro que vou cuidar. E obrigado. Obrigado por tudo… até pelas broncas quando apanhei das fraldas da Lua.
— Você virou filho. E filho da gente, a gente não esquece.
Darlene se aproxima e o abraça com força.
— Cuida bem da minha melhor amiga. Ela confia em você mais do que confia nela mesma. Não decepciona.
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