A tarde pesa sobre São Paulo com uma melancolia quase física. O céu, tingido de cinza e dourado, parece refletir o que se passa no coração de Marta. Dentro da Range Rover Evoque preta, o silêncio reina absoluto. Eduardo dirige com concentração, os olhos fixos na estrada, mas um bolo na garganta, e esse bolo tem nome.
Darlene.
No banco traseiro, Marta permanece imóvel, apertando contra o peito um cobertor rosa que envolve seu pequeno milagre, a sua Lua.
O perfume suave da filha, misturado ao aroma das roupinhas recém lavadas, aquece o seu peito de forma tênue. Ainda assim, há uma ausência impossível de ignorar. Não é apenas o filho perdido. É também a lacuna deixada por todas as promessas não cumpridas.
Jonathan está ao seu lado, calado. A mão repousa sobre a perna dela, em um gesto silencioso de apoio. O toque é firme, protetor, mas ele sente a tensão do corpo dela reverberar no ar entre eles. Sabe que ela precisa de tempo. E ele também.
Em determinado ponto do caminho, um buzinaço suave se faz ouvir. Ravi, dirigindo a RAM branca, emparelha ao lado por alguns segundos. Acena com um sorriso discreto enquanto Islanne, sentada ao lado, também os cumprimenta com o olhar. A troca é rápida, mas há algo reconfortante nela. Um lembrete de que não estão sozinhos. Em seguida, Ravi acelera, dobrando uma rua lateral em direção à mansão de Islanne.
A Evoque segue adiante até os portões altos da mansão Schneider, no coração da cidade. Quando o veículo para diante da entrada imponente, Eduardo apenas troca um olhar com Jonathan pelo espelho retrovisor. Jonathan agradece com um aceno de cabeça, abre a porta e desce. Caminha até o outro lado e abre a porta para Marta.
— Chegamos — diz ele, quase num sussurro.
Marta desce devagar, com Lua aninhada nos braços, como se o mundo lá fora fosse mais pesado do que suas pernas suportam. A menininha, alheia ao caos emocional da mãe, encosta a cabeça no ombro dela com a serenidade de quem não precisa entender para amar.
O coração de Marta b**e em ritmo irregular. Estar de volta à mansão deveria significar alívio, um recomeço. Mas cada tijolo, cada janela, cada flor no jardim parece gritar o nome de Jeff.
A dor de não tê-lo nos braços ainda a cortar como uma lâmina. O filho roubado. O cheiro que nunca sentiu. O calor que nunca acolheu. A lembrança do que poderia ter sido a assombra com força total enquanto ela sobe os degraus da entrada.
— Amor... vamos encontrá-lo, eu prometo — murmura Jonathan, encostando os lábios no ouvido dela com a voz trêmula, mas firme. — Juro pela minha vida.
Ela se vira para encará-lo. Os olhos estão cheios, mas sua voz não falha:
— Eu nunca o segurei, Jonathan... nunca senti o perfume dele. Você consegue imaginar isso?
Jonathan a abraça com força. Um abraço pesado, feito de culpa, de ternura, e de promessas não ditas. Ele a segura como quem segura um segredo precioso prestes a se desfazer.
— O que fizeram conosco foi cruel — diz ele, apertando-a com ainda mais força.
— Mas todos vão pagar. Nem que eu precise ir até o inferno.
Lua se remexe nos braços da mãe, solta um gemido leve. Marta a embala instintivamente, com um gesto que parece ter nascido com ela. Mesmo com o corpo cansado, sua alma se curva em reverência àquele amor materno. Mas no fundo… o nome de Jeff ecoa como um rugido que ninguém mais parece ouvir.
Ela caminha até uma das janelas da mansão. O jardim, ainda florido, balança com a brisa da tarde. A luz dourada atravessa as cortinas, derramando sobre o chão memórias demais para se contar. Marta permanece ali, em silêncio. Os olhos perdidos nas folhas dançantes. Dentro dela, tudo está exposto, cru, como uma ferida sem gaze.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino