A noite cai sobre São Paulo como um véu pesado, abafando os ruídos da cidade e revelando, no escuro, dores que a luz não deixa transparecer. Eduardo desce os últimos degraus da casa de Jonathan com os passos firmes, mas o peso em seus ombros não é da arma na cintura ou do cansaço no corpo, é do vazio no peito.
O portão automático se fecha atrás dele com um som metálico e lento, que parece gritar aquilo que ele mais tenta esconder, ele está sozinho.
Ele se acomoda ao volante do seu carro, com os músculos ainda tensos. O trabalho como guarda costas lhe exige atenção constante, mas, naquele dia, como nos últimos, esteve mais envolvido do que gostaria de admitir.
Marta é uma mulher forte, mas quebrada, e Lua... Lua é um raio de luz que desarma qualquer defesa. A menina sorri para ele como se o conhecesse com a alma, como se fosse parte dele e, de certo modo, é. Porque nesses dias junto a elas, Eduardo sente algo que não sabe nomear. Algo que vai além do profissionalismo. Que arranha o seu íntimo.
O motor ronrona, cortando o silêncio da rua como um aviso de que ele está partindo. Mas para onde? O condomínio onde mora é seguro, discreto, mas não é lar, já não se sente tão completo ali. É apenas o lugar onde se recolhe quando precisa se esconder do mundo. E ultimamente, tem se escondido demais.
As mãos grandes se fecham ao redor do volante, os olhos fixos no retrovisor por alguns segundos. Talvez esperasse ver alguém. Talvez desejasse que alguém viesse correndo, o chamando de volta. Mas não. Como nas últimas noites, ele parte sozinho.
Enquanto dirige pelas avenidas amplas e iluminadas, a cabeça se enche do rosto que tenta esquecer, mas que insiste em voltar com a força de uma maré forte. devastadora.
Darlene.
O nome dela ecoa no peito como um mantra triste. E mais uma vez, como acontece desde que voltou a São Paulo, ele se pergunta por que ela não o procura. Por que o silêncio dela é tão absoluto. Eles trocaram algumas mensagens, curtas, impessoais. Mas ele não quer cordialidade. Quer a voz dela. A presença. O olhar.
Será que ela sente falta? Será que pensa nele como ele pensa nela?
Ele tenta afastar as perguntas, mas não consegue. E então, surge uma lembrança. Um golpe certeiro, que o faz quase perder o ar.
Darlene. Nos braços dele. Entregue. Frágil e corajosa ao mesmo tempo. Ela confiou nele com o que tinha de mais precioso, a sua inocência. Foi intensa, doce, verdadeira. Ele lembra da forma como ela o olhou quando tudo terminou, como se ele fosse o mundo inteiro. Como se nunca quisesse estar em outro lugar.
E Eduardo, naquele instante, soube que aquilo não teria volta. Que não era apenas desejo. Era algo que crescia com força e medo. Algo que o assustava porque nunca havia sentido antes. E agora... tudo o que tem é o eco dos momentos vividos com ela. O calor dela. O cheiro do cabelo. O som da respiração entrecortada.
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