O coração de Darlene aperta como se mãos invisíveis o esmagassem dentro do peito. A saudade é afiada, cruel, um veneno lento que percorre as suas veias enquanto ela aperta o volante do seu carro, estacionado em frente o lugar que sempre lhe foi abrigo, a casa de dona Maria. O céu está limpo, um azul profundo tingido pelas primeiras sombras da noite, mas dentro dela, tudo parece nublado. O nome de Eduardo ecoa como uma prece silenciosa que ela se recusa a dizer em voz alta. Não quer parecer fraca. Não quer parecer carente. Mas sente. E sente demais.
Ela desce do carro com passos decididos, mas o coração está vulnerável, latejando pela ausência dele. A cada dia, espera uma ligação, uma mensagem. Algo. Mas Eduardo se cala. E Darlene, inexperiente, se cala, não por orgulho, mas por acreditar que ele precisa de espaço para pensar, trabalhar…
Porque ama… mas aprendeu a respeitar o espaço de quem não a procura.
No quintal da casa simples, Miguel está sentado no degrau da varanda, com uma camiseta clara e o boné virado para trás, analisando algumas anotações. Ao vê-la, abre um sorriso largo.
— Olha só quem resolveu aparecer! — ele brinca, levantando-se para abraçá-la.
Darlene se deixa abraçar, e naquele toque amigo encontra um pouco de consolo. Miguel é o irmão que a vida não lhe deu, um porto seguro nas horas de silêncio.
— Precisava sair um pouco — diz ela, forçando um sorriso. — A cabeça tá… cheia.
— Quer rachar o lote comigo no galpão hoje? Tô soltando amanhã e preciso adiantar umas coisas.
— Quero — responde, sem hesitar.
Ela troca de roupa e os dois seguem para os galpões, onde o cheiro de ração e o som frenético dos pintinhos os recebem como uma melodia familiar. Darlene mergulha no trabalho com entusiasmo, ajuda Miguel a limpar bebedouros, alimentar os pequenos, e em outro setor, a preparar o ambiente para a liberação dos frangos do lote final.
Eles riem de bobagens, trocam piadas antigas, mas em alguns momentos, o silêncio entre eles se alonga. E Miguel nota. Ele sempre nota.
— Ele não te procurou mais, não é? — pergunta, com a voz baixa, enquanto coloca ração num dispensador.
Darlene abaixa os olhos. Umedecidos.
— Não. Mas também… ele tá ocupado, tá cuidando da Marta e da pequena Lua. E, sei lá, talvez seja só isso mesmo. Talvez tenha sido só aqueles momentos para ele.
Miguel a encara com firmeza.
— E para você?
— Pra mim foi mais. — Ela respira fundo, engolindo a dor. — Mas eu não vou correr atrás. Não depois de tudo que entreguei. Ele sabe onde me encontrar e Eduardo não mentiu para mim, sempre jogou limpo, não me prometeu nada.
Miguel não responde, mas a expressão no rosto dele endurece. Ele vê a verdade que Darlene não verbaliza: ela está se afundando em silêncio por causa de um cara que provavelmente está fingindo que não sente nada. E ele odeia isso por ela.
Depois do trabalho, voltam para a casa da dona Maria. Sentam-se à mesa, jantam algo simples, mas saboroso, arroz, frango ensopado, salada fresca, e a conversa segue leve, até que Miguel se levanta com um sorriso maroto.
— Vamos lá para o quarto. Quero te mostrar umas fotos dos lotes anteriores.
Ela ri, achando graça do entusiasmo, e os dois seguem. O quarto de Miguel tem cheiro de limpeza e madeira. Ele se deita na cama e ela se deita ao lado, com a cabeça apoiada no peito dele. Ele mostra algumas fotos do celular, comenta técnicas, e enquanto ela se distrai com a tela, Miguel move o aparelho de leve e, num clique silencioso, propositalmente registra aquele momento: Darlene deitada sobre ele, serena, linda, tão natural quanto se pertencesse àquele lugar.
Sem que ela perceba, ele posta a foto nos stories. E marca para que apenas uma única pessoa veja, o Eduardo.
O estrago não demora. Minutos depois, a visualização aparece. E Miguel sorri.
Do outro lado do Estado de São Paulo, Eduardo trava o celular nas mãos, o maxilar tenso, os olhos queimando de ciúmes. Vê a imagem e sente como se levasse um soco no estômago.
Darlene.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino