Lua começa a chorar às 15 horas e 17 minutos, e não para mais!
Até então, o dia tinha sido de uma calmaria quase poética. O sol entra pelas janelas com delicadeza, esquentando o chão da sala. Marta sente-se estranhamente em paz enquanto vê, no celular, as fotos que a arquiteta enviou do quartinho de Lua e Jeff. Móveis lindos, detalhes por cores, um cantinho de leitura com almofadas e estrelinhas penduradas no teto. É lindo. É delicado. É um quarto feito com amor, o quarto dos filhos que ela tanto ama.
— Que coisa mais linda… — sussurra Marta, emocionada, passando os dedos sobre a tela como se pudesse tocar cada detalhe.
Na cozinha, enquanto corta tomates para o almoço, ela observa Eduardo fazendo palhaçadas para Lua no sofá da sala. A bebê ri, com as mãozinhas agitadas, e Eduardo faz uma reverência exagerada como se estivesse num palco.
— Sua plateia é exigente — brinca Marta, rindo.
Mas Eduardo não responde. Apenas sorri de lado, meio contido. Há algo no olhar dele que a faz franzir a testa. Algo ausente. Como se ele estivesse ali, mas com metade da alma em outro lugar.
— Tá tudo bem? — ela pergunta, virando-se da pia.
— Tudo. — A resposta vem rápida demais, um reflexo.
Marta não insiste. Por ora. Sabe que ele é fechado, que às vezes prefere silenciar. Mas algo dentro dela diz que tem mais coisa ali do que ele está deixando transparecer.
Mas então vem o choro.
Começa como um gemido. Marta pega Lua no colo, verifica a fralda, mas está limpa. Oferece o sei0, mas a menina recusa, virando o rostinho. Caminha com ela nos braços, balança, canta baixinho. O choro aumenta. Marta tenta as brincadeiras de sempre, as que sempre funcionam. Nada.
— Lua, filha… o que foi, meu amor? — ela pergunta, a voz já embargada, tentando manter a calma.
Eduardo se aproxima, também tenso.
— Quer que eu tente? — oferece.
Ele a pega, anda pela sala, canta uma canção infantil da infância dele. Mas a bebê grita mais alto, como se algo dentro dela doesse. Marta sente o pânico subir. As mãos tremem. O peito aperta.
Ela liga para Jonathan.
Uma vez. Duas. Três.
Sem resposta.
— Ele não atende! — diz, agora chorando, o desespero saindo pela garganta.
Eduardo segura Lua nos braços com delicadeza, mas os olhos estão arregalados.
— Marta, isso não tá normal. Ela está com dor. Vamos para o hospital.
— Espera. Só mais uma tentativa.
Ela liga de novo. Nada. Eduardo já pega o celular e, sem hesitar, chama Islanne.
— Eduardo? — a voz dela atende no segundo toque.
— Islanne, é a Lua… ela não para de chorar… a Marta tá em pânico…
A mudança na respiração de Islanne é imediata.
— Jonathan está em reunião. Eu tô indo agora avisar. — E desliga sem cerimônia.
Na sede da empresa, a porta da sala de reuniões se escancara.
— Jonathan! — diz Islanne, atravessando a sala com passos firmes.
— Papai tá aqui. Papai tá aqui, filha.
Ela aninha o rostinho no peito dele. Os soluços se tornam fungadas. Os gritinhos se transformam em suspiros.
Marta cobre a boca, desabando de alívio. As lágrimas escorrem, silenciosas.
Eduardo fecha os olhos por um instante, sentando-se no sofá, exausto.
Jonathan caminha devagar pela sala, ninando Lua, sussurrando palavras que só eles dois entendem. A pequena brinca com a gola da camisa dele, agarra com força, como quem reencontra o próprio ar.
— Tá tudo bem agora… papai tá aqui… e nada de ruim vai te alcançar, minha Lua…
E ali, naquela casa comum, algo extraordinário se revela, um vínculo. Um laço tão forte que não precisa de explicações, nem de lógica. Apenas existe. Respira. Vive.
Marta observa, emocionada, enquanto Lua finalmente adormece nos braços do pai. Jonathan a encara com os olhos marejados e sorri, pequeno, mas inteiro.
— Obrigado por cuidar dela… por cuidar de mim, mesmo à distância.
Ela se aproxima e o beija na testa, com amor e reverência.
Mas, à medida que a calmaria se instala, uma inquietação permanece no ar.
Por que Lua reagiu com tanto desespero, justamente naquele momento?
Foi apenas uma cólica, ou será que ela sentiu algo que os adultos não conseguem entender?
E se o choro da filha for mais do que um sintoma… for um sinal?

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