A paz que envolve a casa de Vivian Moretti, em um dos bairros mais arborizados da zona sul do Rio de Janeiro, não é apenas uma sensação, é quase um abraço permanente. O aroma fresco se mistura ao de bolo recém saído do forno, a brisa suave acaricia as cortinas abertas e, ao fundo, o som doce e sincero dos balbucios de um bebê preenche cada canto como uma melodia improvisada de amor. Naquela casa, o silêncio é cheio de significado. Ali, o amor não tem nome de sangue, tem nome de escolha, coragem e redenção.
Alan Moretti observa a cena da varanda com um olhar que já não sabe conter a emoção. É como se cada pequeno gesto de Vivian acendesse nele uma esperança nova, uma certeza antiga que ele nunca teve antes. Vivian está sentada no sofá, com o bebê nos braços, e o embala com um carinho quase sagrado. Ela canta baixinho, desafinada, mas com uma doçura tão genuína que Alan sente o coração estremecer. A criança dorme tranquila, aninhada entre os braços dela como se tivesse voltado ao ventre. E, de certo modo, voltou. Não ao ventre biológico, mas ao ventre da alma, o lugar onde o amor verdadeiro nasce.
Nada naquela casa é improvisado, mesmo que a vida tenha lhes dado um filho de forma inesperada. Tudo ali pulsa em sintonia com o que eles escolheram ser. Não é o DNA que define uma família. É o afeto, o cuidado, o desejo imenso de proteger e acolher. E disso, Vivian e Alan estão cheios.
A mudança para o Rio foi mais do que profissional. Alan, renomado médico, aceitou uma proposta irrecusável para trabalhar em um dos maiores centros de medicina do país. Mas a nova fase significava muito mais: um recomeço. A chance de deixar para trás os destroços do passado. Para Vivian, voltar à cidade onde cresceu e poder se reconectar com a própria família era um presente que o tempo enfim permitia. A antiga casa dos avós a esperava de portas abertas, e parecia sorrir ao vê-los ali, juntos, renascendo como família.
Naquele lar, construído de afeto e cuidado, eles decidiram apagar o passado com atitudes do presente. Não com negação, mas com superação. O bebê chegou de forma sigilosa, envolto em circunstâncias que exigiam silêncio e confiança. Mas nenhuma dessas condições impediu o amor de florescer. Desde o primeiro instante em que Vivian segurou o pequeno nos braços, ela soube. Era dela. Não por obrigação, mas por destino. Amou com o corpo inteiro, como se aquele bebê tivesse brotado de dentro dela, do útero, do coração.
Vivian é mais do que mãe. É um universo inteiro de acolhimento. Ama com os olhos, com os gestos, com a voz. É presença firme e ternura líquida. Alan a vê com o filho nos braços e entende, com uma clareza cortante, que aquele é o lar que ele sempre quis, mas achava que não merecia.
Alan também se transformou. O homem que antes andava em ruínas, assombrado por noites de bebedeiras, ressentimentos e escolhas erradas, agora encontra redenção nos olhos pequenos que o encaram com confiança cega. Ele nunca imaginou que poderia amar assim. Nunca pensou que seria capaz de sentir esse tipo de ternura: visceral, incondicional, arrebatadora. A cada risada do bebê, a cada gesto de Vivian, ele sente que está sendo reconstruído. Tijolo por tijolo. Dia após dia.
Tudo começou meses antes, no interior de São Paulo, quando Alan ainda trabalhava em um hospital da região. Hermes, o enfermeiro mais confiável e discreto da equipe, o abordou com seriedade:
— Doutor... tem uma moça querendo falar com o senhor. É um caso... muito delicado.
A jovem, que se apresentou como Ana Clara, tinha apenas dezesseis anos. Os cabelos desgrenhados, o olhar quebrado, mas havia firmeza em sua voz embargada. Ela estava grávida. E queria doar o filho. Dizia que o mundo em que vivia não era lugar para criar uma criança.
— Só me promete uma coisa — ela pediu, quase num sussurro, enquanto os olhos se enchiam d’água. — Que ele vá para uma família boa. Que ele seja amado. De verdade.
Alan sentiu o peso daquela confiança depositada em suas mãos.
— Eu prometo — respondeu, sem titubear.
Dias depois, Hermes levou um bebê até sua casa. Vivian recebeu a criança como se fosse feita da mesma carne. Chorou. Riu. Beijou-o na testa com um amor que parecia pré existente, como se o tivesse esperado por toda a vida. Desde então, não havia dúvidas: era o filho deles. Sem "mas", sem "porém", sem espaços para questionamentos.
No Rio, a nova rotina é feita de vida pulsante: brinquedos espalhados, risadas no corredor, cheiros de comida na cozinha, mãos dadas no sofá. A família de Vivian acredita que o menino é biológico e, na verdade, isso nem importa. O que importa é que ele é deles. Com alma. Com verdade. Com entrega.
Naquela tarde, o céu se tinge em tons quentes de mel e ouro. Vivian repousa a cabeça no ombro de Alan, o bebê dorme sereno no berço ao lado. Há uma calmaria ali que parece ter vindo para ficar.
— Eu te amo tanto — sussurra ela, com os olhos marejados pela gratidão.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino