O céu ainda está pintado em tons azulados quando Jonathan já está desperto, vestindo uma camisa clara e os pensamentos cheios de imagens da noite anterior. Ele caminha descalço até o berço da filha. Lua dorme com o rosto sereno, o peito subindo e descendo devagar sob o cobertor leve. Jonathan se senta na beirada da cama e observa a menina com os olhos marejados de um carinho que não sabe como conter. Ali, naquele instante, o mundo poderia parar e estaria tudo bem.
— Papai tá aqui, meu amor — sussurra, acariciando os cabelos dela com delicadeza.
Na cozinha, Marta já movimenta a casa. A chaleira apita, o aroma de café se espalha pelo ambiente, e o som da frigideira anuncia ovos sendo mexidos com manteiga. Ela ajeita a mesa como faz todos os dias, mas há algo mais leve em seu semblante hoje, talvez o alívio de ver Lua bem, talvez a presença constante de Jonathan.
Logo o som do portão se abre. Eduardo entra apressado, carregando a expressão habitual de quem não nasceu para suportar o trânsito.
— Mas que inferno essas avenidas travadas! Eu juro que hoje pensei em abandonar o carro no meio da pista e vir a pé.
Marta solta uma gargalhada gostosa enquanto estende uma xícara de café para ele.
— Você é um velho ranzinza, Eduardo. E nem tomou café ainda. Agora senta. Vai comer como gente.
— Marta…
—Deixa de frescura. Quem manda aqui sou eu. Senta.
Jonathan surge no corredor, ajeitando os punhos da camisa.
— Eu volto para o almoço. Façam a gentileza de deixar alguma coisa para mim — diz, dando um beijo leve na testa de Lua antes de sair.
— Você está parecendo uma criança indo para a escola contrariada — provoca Marta, sorrindo ao vê-lo bufar.
— Eu queria ficar com ela… — resmunga, enquanto caminha para a garagem.
O trajeto até a empresa é uma sequência de suspiros impacientes e comentários sobre motoristas lentos. Jonathan se segura para não ligar o alerta e cortar por onde não deve. Sua mente ainda está lá, naquela cama pequena com o corpo frágil da filha deitado, olhando para ele como se tudo dependesse de sua força.
Assim que chega ao Grupo Schneider, não espera nem a secretária. Entra direto em sua sala, larga a pasta sobre a mesa e solta um suspiro fundo. Poucos segundos depois, Mônica entra com uma bandeja e o café.
— Bom dia, chefe. Sobreviveu ao trânsito?
— Mais ou menos — ele responde, ainda olhando para a janela.
Mônica se senta, abre a agenda e aguarda.
— A partir de hoje, tudo meu será pela manhã — diz ele de forma direta.
— Tudo? — ela ergue as sobrancelhas.
— Tudo que for possível. A tarde eu fico em casa. Com a minha filha. E só abro exceção para reunião que não tiver como remarcar.
— Claro. Entendi. — Ela anota, discreta.
Jonathan atravessa a sala sem dizer uma palavra. Os olhos já fixos na pequena figura encolhida sob uma manta fina de algodão colorido. Lua olha para ele e sorri, os olhos iluminando o rosto miúdo com um brilho que só ele consegue despertar.
Ele não hesita. A pega com cuidado, como se fosse feita de vidro, e a levanta até colá-la ao peito. Lua se aninha nele como se o mundo inteiro coubesse naquele abraço. A cabecinha repousa em seu ombro, e Jonathan fecha os olhos por um instante, sentindo o cheiro doce do cabelo da filha, o calorzinho do corpo leve, o bater tranquilo do coração dela contra o seu.
— Que saudade do meu amorzinho — murmura ele, apertando-a com ternura.
Jonathan sorri, emocionado, e beija a testa dela demoradamente.
— Eu prometi que voltaria, filha. E vou sempre voltar. Sempre.
Eles ficam assim por alguns instantes, colados, num silêncio que só quem ama entende. Marta observa de longe, o pano de prato nas mãos, e sente um aperto bom no peito. Há algo profundamente bonito naquele reencontro. Um pai reencontrando sua prioridade. Uma filha descansando, em segurança.
— Já está quase tudo pronto, viu? Se quiserem almoçar, é só sentar.
Jonathan leva Lua ainda no colo até a mesa. Ela permanece no colo dele.
Mas enquanto brinca com uma mecha do cabelo da filha, imagina que logo estará também abraçando os seus pais e seu coração aquece mais, e então se pergunta:
Será que o coração da sua mãe vai suportar tanta dor pelo neto que ainda está desaparecido?

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