O silêncio da casa pesa mais que qualquer grito. Jonathan senta-se à beira da cama, os cotovelos nos joelhos, a cabeça baixa. O celular em sua mão vibra com uma notificação. Ele já sabe do que se trata. Há dias, semanas, sua vida inteira se resume a isso, esperar uma resposta que não vem. E hoje, finalmente, ela chegou. Ele se levanta, dá um beijo apressado em Marta, que embala Lua com um olhar calmo demais para a tormenta silenciosa que também a habita, e diz:
— Preciso dar uma saída rápida. Coisa da empresa.
— Jonathan... — ela tenta perguntar mais, mas ele já está na porta.
Ele não quer mentir. Mas também não quer que ela carregue ainda mais peso. Porque o que está prestes a ouvir... pode ser o fim de tudo.
No centro de São Paulo, atrás de uma fachada discreta, Jonathan encontra Ravi. O amigo que está por dentro de tudo e continua investigando, ele o espera em silêncio, mãos nos bolsos e olhos fixos no nada. Ambos sabem o que essa reunião significa. Sem cumprimentos calorosos, sem palavras inúteis. Apenas caminham lado a lado pelo corredor até a sala de reuniões reforçada. Lá dentro, estão o Secretário de Segurança Pública do Estado, o Delegado Geral da Polícia Civil, dois peritos, e um agente da inteligência federal.
Jonathan respira fundo e entra.
— Senhor Schneider, senhor Smith — diz o secretário, sério. — Obrigado por virem.
— Vamos direto ao ponto — pede Jonathan, a voz tensa. — Qualquer informação, por mínima que seja.
O delegado abre a pasta. O ar na sala parece congelar.
— Estamos prestes a completar um mês desde o desaparecimento de Jeff, o seu filho. O cenário, como sabem, foi atípico. A cidade do interior estava em alerta máximo por conta da tempestade. Alagamentos, falta de energia, e todas as câmeras da maternidade estavam offline na noite do parto. As geradoras falharam.
—Não me conformo com isso? — resmunga Ravi. — Nenhuma câmera de segurança, nenhum alarme, nada?
— Foi um colapso total. E talvez... premeditado. Ou aproveitado por alguém.
Jonathan fecha os punhos. Ele se lembra de tudo que ouviu sobre aquele dia com clareza brutal. O atropelamento de Marta, a correria até a maternidade, a confusão, o nascimento prematuro, e depois… o vazio. O bebê simplesmente sumiu.
— Vocês chegaram a alguma conclusão? — pergunta Jonathan, o tom mais baixo.
O secretário troca um olhar com o delegado antes de responder.
— Há um nome. Um enfermeiro que estava de plantão naquela noite: Hermes. Ele não apareceu para o turno seguinte. Sumiu. Depois pediu demissão. Nós rastreamos movimentações bancárias suspeitas, ligações apagadas. E então, três dias atrás...
O delegado desliza uma foto pela mesa.
— O corpo dele foi encontrado em uma área rural, no sul do estado. Torturado. Executado. Estava irreconhecível, mas o DNA confirmou.
Jonathan fecha os olhos por um segundo. Hermes era a única ponta solta. E agora, todos já sabem que ele está morto.
— Torturado? — pergunta Ravi, olhando para a imagem com frieza treinada. — Isso indica que ele sabia de algo. E que alguém... quis calá-lo.
— Exatamente — responde o delegado. — Não foi latrocínio. Nem acerto de contas comum. Foi uma execução limpa, cirúrgica. E temos indícios de que ele fez um contato anônimo com um endereço criptografado em um fórum investigado por tráfico humano.
— Vocês acham que Jeff foi levado por... uma rede de tráfico? — A voz de Jonathan falha pela primeira vez.
— É uma hipótese — diz o secretário, com pesar. — Ainda não podemos confirmar. Mas é o caminho mais provável, infelizmente. As primeiras horas de um sequestro são cruciais. Nesse caso, perdemos dias. Talvez... semanas.
Silêncio.
— Então vocês estão me dizendo que meu filho foi levado... que sumiu do mapa... e que não temos nada?
— Temos perguntas — responde o delegado.
— E um aviso: quem fez isso, fez com precisão. Isso não é ação amadora. Alguém investiu muito para que esse bebê desaparecesse. A questão é, por quê?
Jonathan levanta, caminha até a janela fechada da sala e apoia as mãos no parapeito. O reflexo de sua expressão parece envelhecido pela dor.
— Continuem investigando. Use quem precisar. Eu não vou enterrar meu filho sem saber onde ele está. Nem vou aceitar que ele “evaporou”.
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