O silêncio entre os dois é pesado como aço e quente como a pista de dança recém abandonada. Eduardo e Darlene se encaram no bar da boate, cercados pelo eco da música eletrônica e das risadas dos últimos que ainda resistem à madrugada. Ele vê nos olhos dela algo que não sabe decifrar, talvez mágoa, talvez orgulho. Ou os dois. Mas o tempo urge, e ele não quer ir embora com mais palavras engasgadas.
— Posso te oferecer uma bebida? — pergunta, quebrando o silêncio com uma voz mais baixa do que o habitual, mas firme.
Darlene ergue uma sobrancelha, hesita por um instante e, então, assente.
— Pode. Mas nada alcoólico. Ainda tenho estrada pra pegar.
Eduardo chama o barman, pede dois sucos. Quando entrega o copo a ela, Darlene o observa com cautela, como quem encara alguém que já foi importante... e perigoso.
— E o que você tá fazendo aqui? — pergunta, com o tom que mistura curiosidade e desconfiança.
— Eu precisava falar com você — ele responde, com honestidade. — Mas aqui... — olha ao redor, desconfortável — não é o melhor lugar pra isso.
Ela dá um gole no suco e, por um instante, o encara com algo próximo de ironia.
— Não é mesmo.
O clima continua estranho. Há palavras não ditas, arrependimentos de ambos os lados, mas nenhum deles parece pronto para colocar tudo na mesa ali, sob luzes coloridas e olhares curiosos. Darlene quebra o silêncio primeiro:
— Preciso ir. Amanhã meu dia começa cedo.
— Claro — Eduardo concorda, engolindo a ansiedade com o suco. — Eu... vou procurar um hotel por aqui. Mas queria conversar com você amanhã. Com calma.
Ela hesita. Olha para ele por um tempo que parece mais longo do que realmente é. E então, com a voz já mais suave, diz:
— Se quiser, pode ir comigo. Dorme lá na fazenda.
Eduardo pisca, surpreso.
— Tem certeza?
— Tenho — ela responde, com um sorriso de canto.
— Mas aviso logo: ou dorme lá, ou no sítio dos Maia.
— Se dona Maria souber que você apareceu aqui na cidade e foi parar num hotel, vai te receber com uma colher de pau numa mão e uma mangueira na outra.
Eduardo solta uma gargalhada espontânea, a primeira da noite.
— Tá certo. Me convenceu. Melhor dormir lá mesmo, então.
Na fazenda, a noite ainda respira nos galhos das árvores e nas sombras que dançam no chão de madeira. Darlene chega primeiro, tirando os sapatos na porta e resmungando com bom humor:
— Tô morrendo de fome.
Eduardo a segue, ainda meio deslocado naquele espaço que um dia já o acolheu tão bem. Darlene vai direto para a cozinha, prepara dois sanduíches com queijo e peito de frango defumado, pega um suco de caju na geladeira e entrega tudo numa bandeja improvisada. Eles comem sentados à mesa da varanda, em silêncio.
Mas não é um silêncio frio, é cauteloso, como se estivessem atravessando um campo minado de lembranças e mal-entendidos. A cada mordida, um pouco da tensão se dissipa, mas ainda há muito não dito entre eles.
Darlene termina o sanduíche, se levanta e diz, casualmente:
— Tem um quarto arrumado perto do meu. Vou te mostrar.
Ela guia Eduardo por um corredor estreito, abre uma porta com cuidado e acende a luz. Um quarto simples, com cama arrumada, lençóis limpos e o aroma de lavanda no ar. Eduardo entra devagar.
— Obrigado, Darlene... de verdade.
Ela apenas assente, o olhar ainda misto de gentileza e proteção. Mas sem intimidade. Não ainda.
— Boa noite — ela diz, e segue para o próprio quarto.
No quarto ao lado, Darlene toma um banho rápido. Quando deita, os cabelos ainda úmidos espalhados sobre o travesseiro, a imagem de Eduardo não sai da mente. Ele parecia abatido, mais quieto, menos orgulhoso. Mas será mesmo arrependimento? Ou só a ausência falando alto?
E então, deita-se ao lado dela.
O colchão cede levemente sob seu peso. Ele se aproxima devagar. Envolve o corpo dela com os braços, com delicadeza. Como se o toque pudesse acordar antigos sentimentos ou, quem sabe, curar os novos.
Encosta o rosto nos cabelos dela e inspira. O cheiro de sabonete floral e terra molhada parece o puxar de volta para casa. Para ela. Para tudo que ele jogou fora com a própria impaciência.
Mas quando os corpos se encostam sob o lençol, ele sente.
Ela está nua.
O instinto grita. O desejo que tentou controlar toda noite se acende como brasa no escuro. Ele fecha os olhos, respira fundo, luta contra si mesmo. “Não, não é assim. Não agora. Não sem ela me querer de volta.”
Fica ali, imóvel, abraçando um universo inteiro que já foi dele.
Darlene, ainda acordada, sente a respiração dele no pescoço. O peito dele, agitado. O desejo dele, evidente. Mas não se mexe. Fingir dormir é o que consegue fazer para se proteger ou talvez, para preservar um último fio de dignidade.
Mas, estranhamente, não há medo. Há um calor novo no peito, uma ternura que ela não esperava. Ele está ali. Não como antes. Não com arrogância ou certeza. Mas com medo. Com arrependimento.
Ela acaba pegando no sono.
E ele, depois de se odiar por todos os sentimentos que o consomem, finalmente cede também ao cansaço. Fecha os olhos, com ela nos braços, o corpo em guerra e o coração entregue.
Na escuridão do quarto, dois corpos que não se tocam além do abraço... mas que se procuram em silêncio.
Será que o amanhecer trará respostas?
Ou novas perguntas os separarão novamente?
Será o silêncio da noite o bastante para reconstruir o que as palavras destruíram?

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