O portão da fazenda range ao abrir, mas nem o som metálico quebra o riso solto que escapa de Darlene e Eduardo. Eles descem da caminhonete rindo como se o mundo não tivesse pressa, como se ali, entre árvores silenciosas e céu estrelado, tudo fosse possível. A poeira da estrada ainda os acompanha, mas é como se não importasse. Há algo mais intenso no ar, talvez desejo, talvez alívio. Talvez os dois.
— Você é louco, Eduardo! — Darlene diz entre gargalhadas, enquanto desce ajeitando o cabelo desgrenhado pelo vento.
— Louco por você, e você sabe — ele responde com um sorriso enviesado, os olhos fixos nela, brilhando.
O banho é rápido, mas quente o suficiente para amenizar a poeira do corpo, não do desejo. Trocando provocações e toques apressados, eles se separam com dificuldade. Darlene, de cabelos úmidos enrolados numa toalha, veste uma camiseta larga e um short jeans. Parece despreocupada, mas Eduardo não consegue tirar os olhos dela.
Há algo em vê-la assim, simples, linda, de pés descalços pela casa, e isso o desconcerta.
Ela vai direto para o escritório e se debruça sobre a mesa, concentrada nas planilhas que deixou acumuladas. Os olhos acompanham gráficos, os dedos correm pelo teclado, os lábios murmuram contas. Eduardo fica à porta, apoiado no batente, observando em silêncio.
Ele sempre soube que Darlene era forte, mas vê-la naquele papel, uma mulher decidida, que entende tudo sobre gado Nelore, mercado, genética, manejo de pastagens, tudo isso o impressiona. Ela fala de peso de carcaça e de taxas de fertilidade como se falasse de moda, de forma leve, natural. Linda, focada, mulher para a vida toda.
É quando uma lembrança o atravessa.
Mariana.
A irmãzinha que ele criou como uma boneca viva, que depois virou fera nos tatames. Judô, jiu-jitsu, krav magá... e agora, obstetra, a sua menina, Mari. Está na reta final da residência e prometeu voltar para casa no mês que vem. Faz uma semana que eles não se falam, e a saudade aperta no peito dele como um aperto de cinto. Mariana sempre foi a doçura no caos dele. A irmã mais nova, mas que muitas vezes foi o seu centro de equilíbrio, ela o deixou mais humano, depois que o pai deles se foi. Ele sente falta da risada dela, dos conselhos debochados, da cumplicidade silenciosa que sempre tiveram.
— Ei — a voz de Darlene quebra o devaneio, arrastando-o de volta.
— Tá me olhando assim por quê? Tô com olheira? Ou você caiu de vez?
Eduardo sorri, caminha até ela e, sem responder, a puxa pela cintura, roubando um beijo lento e quente.
— Acho que caí faz tempo — murmura contra seus lábios.
Ela retribui o beijo, depois o afasta com uma leve mordida no lábio inferior.
— Vamos comer, “seu apaixonadinho”. Dei folga para a cozinheira achando que ia passar o final de semana todo sozinha. Ai você apareceu do nada… vai ter que ajudar.
Na cozinha, viram um casal comum. Brincam, trocam beijos e pequenas carícias entre os talheres, se sujam de farinha, de vinho, de desejo. Darlene provoca mais uma vez ao ver que ele demora para cortar um tomate.
— Até meu gado é mais ágil que você. Anda logo, Eduardo. Ou vou repensar esse relacionamento.
— Não provoca... — ele avisa, com a voz grave, e ela ri alto, jogando um pano de prato nele.
O jantar é simples, mas cheio de sorrisos e olhares cúmplices. E, quando terminam, Darlene encosta na bancada e lambe devagar a colher, olhando nos olhos dele com um ar de pura provocação.
— E agora? Vai lavar a louça ou vai me provar que ainda aguenta o tranco?
A resposta dele vem em ação. Eduardo a puxa pela mão com firmeza, a conduz para o quarto sem pedir licença ao bom senso. Darlene tropeça no próprio riso, quase perde a sandália, mas o acompanha com prazer.
— Calma! Vai rasgar minha roupa! — ela brinca enquanto ele já tenta arrancá-lo com pressa.
— Não tenho paciência para isso, tira tudo porrah — ele responde rouco, já sem camisa, já colado nela, já sem lógica nenhuma além do toque.
O beijo que vem não é delicado. É urgente. É faminto. É o resultado de tantas noites em que se desejaram em silêncio, em que o toque ficou preso na garganta, em que o olhar dizia o que o orgulho calava.
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