O som suave de um choro interrompe o silêncio da madrugada antes mesmo que o sol comece a tingir o céu do Rio de Janeiro com as suas cores douradas. Alan Moretti desperta com os olhos ainda pesados de sono, mas o coração leve. Ele se levanta com cuidado, evitando acordar Vivian, e caminha até o berço no canto do quarto. Vítor, o pequeno milagre que agora é o centro de suas vidas, o encara com olhos brilhantes e úmidos, o rostinho franzido num pedido silencioso por conforto.
— Ei, meu campeão... já tá com saudade do papai? — murmura Alan, pegando o bebê nos braços com delicadeza.
Com gestos cuidadosos, ele troca a fralda do filho, conversa com ele em sussurros e sorri quando o pequeno segura o seu dedo com força. Alan se vê refletido naquele gesto, naquela fragilidade forte e confiante. Por longos minutos, esquece o mundo lá fora. Senta-se no tapete do quarto, com Vítor no colo, e começa a brincar, fazendo vozes engraçadas, imitando sons de animais e arrancando os primeiros sorrisos sonolentos do bebê.
Vivian acorda devagar, os olhos ainda pesados, e observa a cena. Encostada no batente da porta, com o coração aquecido, agradece em silêncio pela transformação do homem que ama. Por tudo que já suportou, pelas noites em claro quando Alan se perdia em sua dor e no álcool, pelas palavras ásperas que muitas vezes vinham no lugar do carinho. Mas agora... agora, ele é outro. E mesmo que o passado tenha deixado cicatrizes, vê-lo assim, inteiro, com o filho nos braços, é mais do que redenção. É um renascimento.
Ela caminha até os dois, toca o ombro de Alan suavemente. Ele a olha e sorri.
— Bom dia, amor — diz ele, beijando-a na testa. — Já troquei a fralda dele. Só falta o leite agora.
— Obrigada, meu amor. — Vivian pega Vítor nos braços com ternura. — Você está se saindo um pai incrível, sabia?
Alan se estica, faz um gesto de cansaço brincalhão e murmura:
— Um pai com olheiras, mas feliz da vida.
Enquanto ela prepara o leite na cozinha, Alan toma um banho rápido. Pouco depois, ele desce e encontra a mesa do café posta com cuidado. O aroma de pão fresco e café se mistura ao som baixo do rádio na estação de músicas clássicas.
Vivian senta-se à mesa com Vítor no colo, e eles partilham o café como uma pequena celebração diária da família que estão construindo.
— Você já parou para pensar, diz Vivian, depois de um gole de café.
— Por mais cansativo que seja, por mais noites sem dormir... a gente não trocaria nada disso por nada no mundo?
Alan segura sua mão por cima da mesa.
— Eu penso nisso todos os dias, meu amor. E sabe o que é louco? Eu achava que minha vida já estava decidida. Que o meu destino era seguir um caminho solitário... e hoje, esse pequeno aqui, ele toca o pé de Vítor, que repousa nos seus braços, me ensinou mais sobre amor do que qualquer outra coisa.
Vivian sorri, mas seus olhos brilham com uma sombra de emoção.
— Eu sinto o mesmo. Às vezes, me pego pensando em como tudo aconteceu... e mesmo com todas as dificuldades, todos os medos, eu nunca me senti tão completa.
Alan se levanta, beija o topo da cabeça dela e se despede com um aceno carinhoso.
Na despedida, Alan beija a mão da esposa e o topo da cabeça do filho.
— Te amo. Vocês são meu mundo.
Vivian sorri.
— Vai com Deus. A gente te espera.
No hospital, Alan reencontra o mundo da medicina, dos diagnósticos precisos e da responsabilidade afiada. Atende pacientes com a mesma dedicação com que segura o filho nos braços. Mas, entre um atendimento e outro, a imagem de Vítor não sai de sua mente.
— É engraçado. Eu costumava pensar no futuro em termos de metas, prazos, cargos. Agora, quando penso em futuro, vejo o Vítor correndo pela casa, falando suas primeiras palavras... vejo a gente tentando ensiná-lo a ser um bom homem.
— E fazendo papel de bobo para fazê-lo rir — completa Vivian, rindo baixinho. — Às vezes eu me pergunto se a gente vai dar conta.
Alan se vira um pouco e segura a mão dela.
— A gente vai errar, com certeza. Vai se atrapalhar, se cansar, ficar sem saber o que fazer. Mas vamos estar juntos. Isso basta. O resto... a gente aprende.
Vivian aperta os dedos dele, emocionada.
— Tem dias que eu acordo e ainda acho que estou sonhando. Quando te vi hoje de manhã trocando a fralda, brincando com ele… eu só consegui agradecer a Deus por não ter desistido de você. Por não ter deixado você desistir de si mesmo.
— Você foi e é a minha âncora, Vivian. Ainda é e vai continuar sendo até o meu último dia de vida. Se hoje existe um "nós", é porque você me manteve inteiro quando eu estava despedaçado.
Eles ficam em silêncio por alguns segundos, contemplando o pequeno que respira profundamente no berço. A noite avança em calma.
Mas Alan não diz em voz alta algo que vem lhe martelando desde que viu a notícia de Hermes. Uma inquietação silenciosa, como uma brisa fria entrando por uma janela entreaberta. Ele olha para o filho e sente um leve aperto no peito. Um instinto. Uma dúvida.
E se o passado ainda não tiver terminado com eles?
E se o que foi enterrado... estiver prestes a vir à tona?

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