O silêncio o engole assim que cruza a porta de casa. Jonathan esperava encontrar luzes acesas, talvez o som baixo da televisão ou até mesmo os passos suaves de Marta pelo corredor. Mas nada. A mansão está mergulhada em uma quietude incômoda, quase cruel. Ele larga a mala no chão e solta um suspiro pesado. Por que diabos essa sensação de vazio o incomoda tanto?
Ele sobe as escadas lentamente, como se esperasse que, a qualquer momento, Marta surgisse de algum canto. Mas a única coisa que encontra é o eco dos próprios passos. Passa pela cozinha e vê a louça lavada, a organização impecável, tudo feito por ela. Um pequeno sorriso puxa o canto de sua boca. Ela realmente cuidou de tudo.
Ao chegar no corredor dos quartos, ele hesita diante da porta do quarto dela. A ideia de bater passa por sua mente, mas ele se controla. O que diria? Que queria vê-la? Que sentiu sua falta? Isso seria admitir demais, e ele não está pronto para isso.
Ele se dirige ao próprio quarto, desfazendo os botões da camisa, mas algo o impede de relaxar. Pega o celular e hesita. Será que manda uma mensagem? Pergunta se ela está bem? Com Eduardo? Jonathan fecha os olhos e respira fundo. O pensamento de Marta ao lado do motorista volta a assombrá-lo. Será que ela sorriu para ele? Será que Eduardo mudou de ideia e passou a deseja-la?
A noite avança e Jonathan se deita, mas o sono não vem. Ele se vira na cama, inquieto, dominado por pensamentos que não deveria ter.
E se Marta realmente começasse a olhar para outro homem? E se Eduardo não fosse o único homem próximo a ela?
E, pior… e se ela já estivesse gostando de alguém?
Jonathan aperta os olhos com força, como se isso pudesse expulsar os pensamentos imorais que invadem sua mente. Ele se sente um canalha, um homem desprezível por sequer cogitar o que está cogitando. Marta é jovem, vulnerável, e ele sabe que tem poder sobre ela. Poder que não deveria usar.
Mas o desejo o corrói. Ele tenta se convencer de que não quer tocá-la, de que é apenas instinto, carência física, qualquer coisa que não seja essa fome incontrolável que o faz imaginar o gosto da pele dela sob seus lábios. O problema é que, no fundo, ele sabe a verdade. Sabe que se quisesse, se investisse pesado, ela cederia. Pela diferença de idade, pela posição em que está, pela gratidão. Ela se entregaria a ele.
E isso o faz se odiar.
Ele se levanta da cama num rompante, vai até o banheiro e j**a água fria no rosto, tentando se livrar da tensão que o domina. Seu reflexo no espelho o encara com desprezo. Ele sempre se orgulhou de ser um homem que não se aproveita da fraqueza de ninguém, que mantém controle sobre suas vontades. Mas Marta está destruindo esse controle com uma facilidade absurda.
Jonathan sabia que, se a tomasse, ela se apaixonaria. Ele conhecia seu próprio poder entre quatro paredes. Sabia que, uma vez que tivesse Marta debaixo dele, não conseguiria se controlar. Ela se perderia nele, e ele faria questão de levá-la ao limite, até não restar mais nada além do seu nome nos lábios dela. Mas ele não pode fazer isso. Não com ela.
Porque Marta não é uma mulher qualquer. Não é uma prostittuta de luxo treinada para não se apegar, não é uma desconhecida em uma boate que ele pode virar de costas e esquecer depois. E essa é a malldita diferença que o assusta.
Jonathan volta para a cama, mas o sono se recusa a vir. Ele se vira de um lado para o outro, tentando afastar a tentação, mas a imagem dela continua ali. A forma como ela morde o lábio quando está concentrada, o jeito delicado de mexer nos cabelos, a curva do pescoço quando se vira para ele. Pequenos detalhes que, contra sua vontade, estão ficando marcados em sua mente.
Ele fecha os olhos e solta um suspiro longo. Talvez seja só uma fase. Talvez seja só a solidão falando mais alto. Talvez, se ele ignorar isso, passe.
Ou talvez seja só o começo do seu maior erro.
Ele acorda no seu horário de sempre, se arruma e desce, mas o vazio da mesa do café da manhã o irrita mais do que deveria. Jonathan se senta, tamborilando os dedos na madeira fria, esperando que a qualquer momento Marta surgisse com a sua tapioca. Mas nada. Nenhum sinal de sua rotina habitual.
A frustração aumenta, mas antes que possa reclamar, ela aparece, sorridente, iluminando o ambiente como se não houvesse nada de errado. Sem pensar, ela corre para ele e o abraça, apertando-se contra seu peito. O perfume suave e os sei0s fartos pressionados contra seu corpo o fazem prender a respiração. Jonathan se sente na porta do inferno, dividido entre o desejo e a raiva pela própria fraqueza. Marta percebe que se empolgou demais, se afasta depressa e pede desculpas, corada.
— Eu… Eu vou preparar o seu café e a sua tapioca, como gosta.
Ele apenas assente, tentando mascarar o sorriso satisfeito enquanto a observa desaparecer na cozinha. Pouco depois, ela retorna, servindo-lhe a refeição com delicadeza. Ele agradece e come satisfeito, mas a mente continua perturbada.
— Meu advogado está vindo. Vamos formalizar o seu contrato de trabalho hoje.
Marta apenas concorda e volta a organizar a cozinha, enquanto ele segue para seu escritório. Se prende aos números da bolsa de valores, analisando Ibovespa e Dow Jones e o desempenho das ações do Grupo Schneider e dos seus concorrentes.
Logo, Rui chega. Jonathan levanta o olhar apenas para encontrar a expressão de apreciação que o advogado lança para Marta. Ela, por sorte, não percebe, mas Jonathan ferve de raiva. Marta oferece um café, e ele aceita apenas para que ela saia da sala por um momento.
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