O silêncio que paira sobre a mansão Schneider nesta manhã não é como os outros silêncios. Ele não traz paz, não descansa. É um silêncio espesso, que pesa nos ombros de quem o escuta. Um silêncio que carrega memórias sufocadas, presenças que fazem falta e ausências que gritam. Um silêncio que chora.
Marta está parada à porta do quarto dos filhos. Seus dedos, trêmulos, repousam no batente como se aquele simples toque fosse sua âncora em um mar revolto de lembranças e saudade. Seus olhos passeiam pelo ambiente com uma intensidade quase reverente, absorvendo cada cor, cada detalhe minuciosamente planejado. Os móveis recém colocados, os tons suaves nas paredes, os adornos delicadamente posicionados… tudo ali foi construído com amor, o amor generoso e sensível de Islanne, e a criatividade gentil da arquiteta Jéssica.
Mas para Marta, aquele espaço é mais do que um projeto. É um santuário.
É o templo onde o amor de mãe pulsa em forma de esperança.
Ela avança alguns passos, o coração apertado dentro do peito como se cada batida ecoasse o nome de um filho ausente. Os seus olhos, marejados, se detêm no berço encostado à parede, um berço branco, com detalhes azuis, quase etéreos. E ali, em meio ao silêncio e à luz suave da manhã filtrada pelas cortinas, está a sua filha. A pequena Lua.
Ela dorme tranquila. O corpinho sereno, os lábios entreabertos, as mãos miúdas fechadas em punhos delicados. Seus cílios longos roçam a pele como penas de anjo, e seu peito sobe e desce em um ritmo quase sagrado. Marta se aproxima devagar, como se temesse quebrar aquele instante sagrado com um gesto brusco. E, ao fitá-la, sente o coração explodir em amor.
Amor. Um amor tão intenso, tão avassalador, que chega a doer.
Lua. Sua filha. Seu milagre. Seu presente em meio ao caos. A prova viva de que Deus não a esqueceu em momento algum. De que ainda existe beleza no mundo, mesmo quando tudo parece escuro. A menina que salvou a sua alma da ruína.
Mas junto ao amor que cresce por Lua, há também uma dor que nunca a abandona. Uma dor que pulsa em cada célula, em cada lembrança. A dor da ausência. Do vazio. Do filho arrancado de seus braços antes mesmo de sentir o calor do seu colo.
O nome ecoa dentro dela com a força de uma prece, de um lamento, de um grito.
Jeff.
Seu filho.
O seu menino.
O gêmeo de Lua. Roubado. Levado da maternidade como se fosse apenas um objeto, uma mercadoria. Como se o amor de uma mãe pudesse ser ignorado, como se o instinto que habita em seu ventre pudesse ser calado. Mas não foi. Nunca será.
Ela fecha os olhos. As lágrimas deslizam sem pedir permissão, ardendo na pele como se lavassem feridas que jamais cicatrizaram. Uma parte dela morreu naquele dia, mas outra parte, a mais teimosa, a mais feroz, sobreviveu. A parte que acredita. Que sente. Que sabe.
Jeff está vivo. Ela sente isso com uma certeza que nenhum teste, nenhuma investigação, nenhuma ausência consegue apagar. É mais do que fé. É uma conexão invisível, inquebrável. Um fio entrelaçado entre dois corações, entre duas almas. E ele ainda pulsa.
— Vai dar tudo certo, meu pequeno Jeff… — sussurra Marta, quase sem voz, mas com uma convicção que estremece o silêncio do quarto.
Nesse instante, Lua abre os olhos.
Negros. Intensos. Iguais aos olhos do pai. Um olhar que parece carregar um universo inteiro. E aquele olhar se encontra com o de Marta, profundo, silencioso… mas cheio de algo que vai além da razão. Lua não fala. Não precisa. É como se dissesse com os olhos:
“Eu também sinto. Eu também sei, mamãe.”
Marta se curva sobre o berço, os dedos deslizando com ternura pela pele quente da filha. Seus braços se tornam abrigo, e ela a acolhe junto ao peito como se quisesse protegê-la de todo o mal do mundo. O cheirinho de bebê, doce, delicado e inconfundível inunda os seus sentidos. É cheiro de vida. De promessa. De recomeço.
— Você sente, não sente, minha princesa? — pergunta, a voz embargada pela emoção. Seus dedos passeiam pelos cabelos finos da menina enquanto ela sorri. E aquele sorriso… ah, aquele sorriso.
É como se o céu abrisse um instante só para elas.
É como se a dor ficasse pequena, diante da grandiosidade daquele gesto simples.
Marta fecha os olhos e beija a testa da filha, com reverência, com gratidão, com amor. Um amor que transborda, que escapa pelas lágrimas, que vibra em cada fibra do seu corpo.
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