Laços que Aquecem
O relógio marca pouco depois do meio dia quando o portão da mansão Schneider se abre. Jonathan entra dirigindo o seu carro e Islanne logo atrás, com Dante dirigindo, rindo de algo que ele disse no caminho. Marta, da cozinha, se apressa para recebê-los, com um sorriso enorme e o avental amarrado à cintura.
— Aí sim, almoço na casa da chefe! — Islanne anuncia, entrando já fazendo barulho, como de costume. — Cheiro bom, minha Nossa Senhora da Culinária!
Antes mesmo de cumprimentar Marta direito, ela vai direto em direção a Lua, que está deitadinha no sofá da sala com Eduardo, brincando com um ursinho.
— Olha quem tá aqui! Meu pedacinho de nuvem fofa! — Islanne se abaixa e pega Lua no colo com cuidado, enchendo-a de beijinhos estalados nas bochechas.
— Ah, que saudade da minha sobrinha mais linda do mundo!
Lua solta um gritinho e ri, encantada com a agitação da “tia Islanne”, enquanto Marta observa a cena com os olhos marejados de tanto carinho.
— Você não tem jeito, não é? Chega como um furacão. — Marta brinca, rindo.
— E você ainda me deixa entrar — rebate Islanne, piscando.
— Agora vamos falar sobre essa abundância que Dona Maria mandou!
Ela vai até a bancada onde ainda organiza algumas das encomendas da horta. Islanne arregala os olhos diante de tantas delícias: ovos caipiras, doces de leite caseiros, legumes frescos, bolos de milho, queijos e até os presentinhos para Lua embalados com laços de fita.
— Meu Deus, isso aqui parece um festival rural! — diz Islanne emocionada.
— Dona Maria é um anjo na terra.
Sem pensar duas vezes, ela pega o celular e liga.
— Oi, Dona Maria! Sou eu, Islanne... só queria dizer que a senhora me fez chorar hoje! — fala, já rindo e fungando.
— A senhora lembrou de mim, mandou o doce de leite que eu amo, os ovos que o Ravi adora... — respira fundo, tocada — ...obrigada, de verdade.
Do outro lado, Dona Maria solta uma risadinha emocionada.
— Minha filha... eu nunca esqueço de vocês, não. Vocês moram no meu coração. E o menino Ravi, como tá?
— Tá ótimo! Inclusive vou levar tudo isso para ele hoje, vou entregar em mãos. Pode esperar que ele vai te ligar, e vai se derreter todo como sempre.
— Então dá um abraço apertado nele por mim. Diz que a mãe dele ama ele com todo o coração.
Islanne desliga ainda sorrindo, enxugando as lágrimas discretas no canto dos olhos.
— Se for pra comer bem, então eu trabalho daqui. — diz ele, lançando um olhar cúmplice para Marta, que se aproxima para ajeitar sua camisa. — E você caprichou, hein?
— Só retribuindo todo carinho que recebemos. — Marta sorri, enquanto Eduardo ajuda a servir os pratos.
Depois do almoço, Islanne se despede com um beijo estalado na bochecha de Marta e um abraço apertado em Eduardo. Antes de sair, ainda pega Lua mais uma vez no colo, apertando com carinho.
— Tchau, meu amorzinho! Titia volta logo! — diz, dando vários beijinhos estalados na bochecha da bebê, que solta gritinhos encantados.
Jonathan concorda com um aceno, olhando para Marta com uma verdadeira adoração.
E mesmo sem saber o que o dia reserva... todos carregam no peito a certeza de que o amor mora nas pequenas coisas.
Eduardo os observa em silêncio. E naquele momento, todos ali sabem, há dias em que a vida simplesmente acerta. E nesses dias, basta um olhar, um cheiro de café, uma casa cheia de amor e tudo faz sentido.
Jonathan observa Eduardo de longe, sentado na varanda com a xícara de café esquecida na mão e o olhar perdido, provavelmente pensando em Darlene. Ele não diz nada, mas um leve sorriso surge no canto dos lábios, um sorriso que mistura afeto, entendimento... e uma ponta de preocupação.
Ele conhece aquele olhar. Já viu no espelho. O mesmo olhar que carregava quando começou a perceber que estava fodidamente apaixonado por Marta, mas ainda não sabia como lidar com aquilo. A diferença é que, ao contrário de Eduardo, Jonathan demorou demais para assumir, errou feio, destruiu o que estava construindo e quase perdeu a mulher da vida dele.
Quase.
Encosta-se melhor na cadeira, respira fundo e pensa:
Tá apaixonado, irmão. Tá até tentando disfarçar, mas eu vejo... e tá na cara. No jeito que fala dela. No jeito que sorri com o celular na mão depois de mandar mensagem. No silêncio quando o nome dela aparece. Tá f0dido e nem percebe o quanto. Só espero que não estrague tudo como eu estraguei.
O olhar dele vai até Marta, dentro da casa, rindo baixinho com Lua nos braços. O coração aperta com a lembrança do tempo perdido, das noites vazias, das escolhas ruins.
Quando chegar a hora, vou conversar com ele. Vou alertar. Porque amor de verdade não se j**a fora. E a Darlene… ela merece um homem inteiro, não um covarde se escondendo atrás de traumas e orgulhos.
Jonathan fecha os olhos por um instante e conclui em silêncio, com uma certeza que só os que quase perdem tudo conhecem:
Não vou deixar ele fazer com ela o que eu quase fiz com a Marta. Não mesmo.

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