A manhã em São Paulo nasce com o céu tingido de cinza e um vento leve que varre as ruas com uma promessa de mudança imediata. No portão da mansão Schneider, um carro preto para suavemente, Afonso baixa o vidro e é reconhecido imediatamente pelo chefe da segurança, a entrada é liberada, ele estaciona o carro e dele descem três figuras que carregam consigo muito mais do que malas. Afonso Schneider, com os seus cabelos bem penteados, os olhos atentos e o semblante firme, caminha à frente. Ao lado, Cátia segura a bolsa contra o peito como se nela guardasse o coração. E um passo atrás, com o olhar atento e a postura sóbria, vem Cici Rossi, a governanta que, por décadas, cuidou dos Schneider como se fossem seus.
O chefe da segurança, ao ver os rostos que há tanto tempo não cruzavam os portões da mansão, nem pensa duas vezes. O homem dá um sorriso discreto, respeitoso. Ele se endireita e leva a mão à orelha, avisando aos demais:
— A família Schneider chegou. O senhor Afonso está entrando com a dona Cátia e a dona Cici.
O trio atravessa a entrada em silêncio. O portão se fecha lentamente atrás deles, como se selasse o início de um novo capítulo. Cada passo pelo jardim é um mergulho no passado, cada flor, cada pedra do caminho, uma lembrança contida. Afonso, firme, toca a campainha.
Do lado de dentro, Marta ouve o som e, com Lua no colo, caminha até a porta. Ela está com o rosto sereno, o olhar levemente cansado da maternidade recente, mas ainda vibrante com o amor que sente por aquela criança. Ao abrir a porta, ela se vê diante de três estranhos. Ou quase isso.
Afonso, alto, elegante e sereno, sorri com gentileza. Cátia segura a bolsa com mais força e seus olhos brilham, e Cici... ah, Cici observa com intensidade, seus olhos indo direto ao bebê nos braços de Marta.
— Bom dia... — diz Marta, hesitante, seu corpo enrijecendo sem que perceba. Algo naqueles rostos lhe é familiar. Traços de Jonathan. Traços que ela já aprendeu a reconhecer.
Mas antes que qualquer palavra seja dita, Cátia dá um passo adiante, os olhos marejados, o corpo tremendo de emoção e instinto.
— É ela? — sussurra, quase sem voz. — Essa criança é …?
E avança para pegar Lua nos braços.
Marta, tomada de um impulso protetor, recua dois passos num rompante de medo, os olhos arregalados, o coração disparando como um tambor de guerra.
Ela aperta Lua contra o peito com força. Lágrimas caem dos olhos sem controle. A imagem do desaparecimento de Jeff invade sua mente com violência. A angústia de ter perdido um filho. O medo constante de que levem Lua também.
— Não... por favor... não leva ela... a minha filha — sussurra Marta, quase sem voz.
Afonso percebe o pânico estampado no rosto dela e, em um gesto calmo, impede que Cátia dê mais um passo.
— Espere, meu amor. Espere — diz ele com delicadeza, colocando a mão no ombro da esposa.
Ele então se volta para Marta e fala com a suavidade de quem entende a dor:
— Desculpe, querida. Nós não queríamos assustar você. Eu sou Afonso... pai do Jonathan. E essa é minha esposa, a Cátia. Essa é Cici, que ajudou a criá-lo. Nós viemos... porque soubemos do que está acontecendo. Do Jeff. E do quanto vocês estão precisando de apoio.
Marta permanece muda, paralisada. É como se seu corpo tivesse esquecido como reagir.
Mas então... passos ecoam no corredor. E a voz calma e profunda de Jonathan se aproxima.
— Marta?
Ela se vira, os olhos molhados, o corpo ainda em alerta, e vê Jonathan. Ele para, observando a cena.
— São os meus pais — diz ele, com gentileza.
— Eles vieram nos ajudar. Vieram para ficar com a gente.
O alívio explode em lágrimas. Marta desaba nos braços dele, soluçando com intensidade.
— Me desculpa... me desculpa... eu só fiquei com medo... pensei que fossem levar ela também... eu...
— Ei... — Jonathan a envolve com ternura.
— Você fez o certo. Protegeu a nossa filha. Está tudo bem agora.
A emoção se espalha pela entrada. Cátia leva as mãos ao rosto, emocionada, e Cici respira fundo, controlando as próprias lágrimas.
— Está tudo bem agora, minha filha — diz Afonso, com um olhar que transmite segurança.
Jonathan os convida a entrar. Marta, ainda abalada, caminha com eles até a sala, apertando Lua com carinho, como quem ainda teme soltá-la. Só quando Jonathan os apresenta oficialmente, ela parece voltar ao presente.
— Marta, essa é a minha mãe, Cátia. Meu pai, Afonso. E essa é a Cici, quem me criou.
Marta, com os olhos ainda marejados, sorri timidamente.
— Desculpem-me... foi o susto... o medo...
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