O dia ainda se mantém preguiçoso, o céu cinza, mas a mansão Schneider já é inundada por um calor que não vem do sol, vem dos braços. Dos olhos marejados. Da memória viva que pulsa entre gerações. Na sala iluminada suavemente pelas luzes indiretas, Catia segura Lua nos braços como quem segura o universo inteiro. Ao lado, Afonso observa em silêncio, uma das mãos repousada na perna da esposa, a outra acariciando de leve a cabecinha da neta. A cena é tão intensa e tão doce que o tempo parece parar.
— Olha só para isso — murmura Catia, os olhos brilhando.
— O mesmo nariz... igualzinho ao do Jonathan quando nasceu.
Afonso sorri com ternura, tocando os dedinhos minúsculos de Lua.
— E esse jeito de franzir a testa quando está com fome? Igual ao meu também... — ele brinca, baixinho.
— Temos um time forte nessa linhagem, hein?
Marta entra na sala discretamente, os cabelos presos, o rosto visivelmente cansado. O corpo pede pausa. Catia, com o olhar de quem sente tudo mesmo sem ouvir, levanta os olhos para ela e imediatamente se coloca de pé, ainda com Lua no colo.
— Marta, querida... você está um caco. — Sua voz é doce, mas firme. — Vá descansar. Vá com o Jonathan, tomem um banho demorado, cuidem um do outro. Quando Lua quiser mamar, a gente sobe com ela.
— Ah, eu não quero incomodar, eu só vim ver se estava tudo...
— Marta — interrompe Catia, maternal e determinada — você não incomoda. Você é mãe. E toda mãe precisa de colo também. Agora vá. Sem discutir.
Jonathan surge no corredor, sorrindo ao ver a filha aninhada no colo da mãe dele.
— A ordem foi dada, amor. E quando a general Catia dá uma ordem... a gente obedece.
Marta sorri, rendida, e aceita a mão do marido. Ele a conduz até a suíte e logo a banheira está enchendo com água morna e espumas perfumadas. Jonathan senta-se atrás dela dentro da banheira, com Marta entre suas pernas, e começa a massagear-lhe os ombros. A água cobre os corpos devagar, o silêncio é cúmplice, e o amor fala no toque, no cuidado.
— Você é incrível, sabia? — diz Jonathan ao ouvido dela. — E eu sou o homem mais sortudo do mundo por ter você... e nossa pequena.
— Eu só tô tentando não desmoronar — ela confessa, a voz baixa, frágil. — Às vezes me sinto inteira e, de repente, só o cansaço.
— Você pode desmoronar. Aqui. Comigo. Quando quiser.
Ela fecha os olhos. E pela primeira vez em muitos dias, respira fundo, em paz.
Enquanto isso, na sala de estar, Catia e Afonso balançam Lua com delicadeza, envoltos numa conversa que os leva de volta a décadas atrás.
— Lembra do dia em que Jonathan nasceu? — pergunta Catia, com um sorriso nostálgico.
— Como esquecer? A primeira vez que eu o segurei nos braços, eu prometi que daria minha vida por ele. E agora... olha a nossa neta aqui. Um pedacinho dele.
— E um pedacinho de nós também. — Ela sorri, e lágrimas escorrem de leve.
— Eu faria tudo de novo. Se tiver outra vida... mais dez... que seja com você. Sempre.
— Com você — responde Afonso, segurando sua mão e a da neta ao mesmo tempo.
— E agora... precisamos descobrir como ajudar o nosso menino. Ele não vai sossegar enquanto não souber onde está o irmão da Lua.
Catia suspira. O sorriso não desaparece, mas o olhar se perde por um instante.
— Já faz um mês... um mês que aquele bebê foi levado. Um mês de silêncio. Um mês de perguntas sem resposta.
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