O telefone toca no console do carro, e Islanne atende no segundo toque, ainda presa no engarrafamento lento que arrasta a manhã pelas ruas da cidade. Do outro lado da linha, a voz de Jonathan soa leve, mas atenta.
— Não se preocupe em correr, Irmã. Pode tirar o dia de folga. Hoje tô com os nossos pais no grupo, eles queriam ver o andamento de tudo pessoalmente.
Ela agradece, mas a voz carrega um tom vago. Um “obrigada” que mais parece um alívio contido do que uma gratidão genuína. Ela precisava mesmo de tempo. Mas não para si, para aquilo que vinha sufocando por dentro desde que tudo desabou.
Islanne desliga o telefone e toma uma decisão silenciosa. Em vez de voltar para casa, vira à direita no próximo cruzamento. Ela sabe onde precisa ir. A mansão Schneider. Marta está lá. E com ela, a pequena Lua… e Cici. Talvez, ali, no calor daquela casa tão cheia de histórias mal resolvidas e verdades enterradas, ela consiga encontrar algum tipo de direção.
Quando estaciona, o sol está alto no céu, espalhando uma luz dourada sobre as janelas. A mansão de Jonathan, tão grandiosa por fora, parece banhada de um acolhimento inesperado por dentro. Como se, naquele dia em particular, ela estivesse preparada para ouvir confissões.
Cici é quem a recebe, com um olhar curioso, mas gentil.
— Marta está lá em cima com a Lua — diz, com um gesto de cabeça. — Vai lá, ela vai gostar de te ver.
Islanne agradece com um aceno discreto, sem trocar muitas palavras. Os passos ecoam suaves na escadaria, mas cada degrau parece pesar mais do que o anterior. Quando chega ao quarto da bebê, para diante da porta entreaberta. Um cheiro suave de lavanda vem de dentro. Lua dorme profundamente no berço, serena, o rostinho levemente virado para o lado, como se sonhasse com coisas que ainda não existem.
Islanne entra devagar, o coração apertado. O silêncio ali dentro é quase sagrado. Ela se aproxima, observa a sobrinha com uma ternura silenciosa, mas o olhar denuncia que por dentro, está em ruínas. A paz daquela criança contrasta brutalmente com o caos que pulsa em seu peito.
Marta surge atrás dela, apoiando-se na moldura da porta com um meio sorriso e os braços cruzados.
— Ela parece um anjo quando dorme, não é? — diz, em voz baixa.
Islanne assente, sem conseguir devolver o sorriso.
— É… uma paz que parece tão distante da gente.
Marta percebe no ato. A voz embargada. A rigidez nos ombros. O cansaço. A confusão.
— Vamos descer — diz com suavidade. — Eu fiz chá. Você está com cara de quem precisa de algo quente… e verdadeiro.
Na varanda dos fundos, a brisa suave brinca com os cabelos de ambas. As xícaras fumegam, o céu já se tinge de púrpura. Islanne segura a borda da caneca como quem se agarra a algo para não desmoronar. Marta não força, não apressa. Ela apenas espera.
O desabafo vem como um fio que finalmente se solta.
— Eu vi o jeito que você me olhou, aquele dia... no estacionamento da Schneider. Você viu. Eu vi que você viu.
Marta não finge surpresa. Encosta-se mais fundo na poltrona e suspira.
— Vi, sim. Vocês estavam… entregues. Tão entregues que parecia que o mundo tinha sumido em volta. Não era só tesã0. Era... outra coisa. Mais fundo.
Islanne abaixa os olhos, envergonhada, quase culpada.
— Eu nunca quis machucar ninguém, Marta. Nunca. Mas a verdade é que tudo fugiu do meu controle. Rui viu. Nos viu. E agora... ele tá destruído. E eu tô me sentindo como um caco de vidro que cortou sem querer.
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