O silêncio da mansão Schneider é quebrado apenas pelos passos apressados de Eduardo no hall principal. Há algo no ar, uma tensão quase elétrica, como se o mundo estivesse prestes a desabar sobre os seus ombros. Ele nem precisa que algo dê errado para saber que vai dar. Já aprendeu, à força, que em dias como hoje, quando o peito parece apertado demais e o mundo se aquieta, é porque o inferno está só esperando a hora certa de abrir as portas.
Ele respira fundo, tenta domar a inquietação. Jonathan está com os pais na empresa, e ele, como responsável pela segurança da casa, sabe que precisa estar ali. Não só por profissão, mas por Marta. Por Lua. Por tudo o que carrega calado. Só que ultimamente, aquele trabalho, aquele ambiente, está se tornando sufocante. Com Cici por perto, respirar já custa caro. E ainda assim, Eduardo se mantém firme. Sabe que Marta o considera, confia nele, e que mais cedo ou mais tarde, ela merece ouvir a verdade. Toda ela.
Mas não agora. Não hoje. Ele precisa de paz. E sabe exatamente onde buscar.
Na ala íntima da casa, Eduardo se aproxima do berço e vê Lua dormindo. Tão pequena, tão inocente. A respiração dela embala o silêncio como música suave. Ele a pega com cuidado, a aconchega nos braços. Aquilo acalma. O cheiro de bebê, o calor do corpinho, a maneira como ela se ajeita como se reconhecesse os braços dele. Pela primeira vez no dia, Eduardo sorri de verdade.
Mas a paz dura pouco. Porque quando tudo parece calmo demais, é sinal de que a tempestade está no caminho. E ela vem. Na forma de salto alto, batida de porta e voz que antecede o caos.
— Abre logo essa porta, que eu não vim de tão longe para ser anunciada feito figurante!
É Mariana. A irmã. A sua menina. A mulher que ele defendeu com unhas, dentes, sangue e silêncio. E como sempre, ela chega como um furacão de palavras, presença e emoção. Os seguranças a reconhecem e a deixam passar, mas já sabem, quando ela chega daquele jeito, não é visita é um verdadeiro terremoto.
— Dudu! — ela grita, antes mesmo de vê-lo. — Me diz que é a princesa Lua que você tá embalando!
Eduardo se vira, Lua ainda no colo. Os olhos se encontram. A emoção no rosto de Mariana derrete qualquer distância. Ela se aproxima, devagar, como se o momento fosse sagrado. Os dedos tocam os pezinhos da bebê com reverência.
— Meu Deus... ela é perfeita… exatamente como você falou.
Eduardo sorri, mas por dentro uma sirene toca. Ele sente. Vai dar merrda.
— Mari, vamos para ala dos empregados — diz, em voz baixa.
— A gente conversa lá.
— Por quê? Tá me escondendo, é? — ela provoca, mas ainda com ternura.
Antes que ele consiga responder, Marta surge. Sorridente, tranquila, sem saber o que está prestes a explodir.
— Oi! — diz, animada. — Você deve ser a Mariana. Já ouvi tanto falar de você!
— E eu de você! — Mariana responde, e se abraçam como velhas conhecidas. O clima é bom. Por um instante, Eduardo pensa que talvez, só talvez...
Mas o instante evapora. Porque Cici aparece no topo da escada. Os olhos brilham, os braços se abrem, e a voz sai com toda doçura:
— Mariana, minha filha…
Eduardo endurece.
Mariana congela.
O mundo, por um segundo, para de girar.
— Sai de perto de mim, demônio — Mariana diz, fria.
— Eu só quero te abraçar… — Cici insiste, descendo um degrau.
— Não encosta em mim! — a voz de Mariana agora carrega ferro e fogo.
Marta está paralisada. As peças não se encaixam. Algo mais profundo vive ali, algo que não foi dito. E Mariana, aos prantos, continua:
— O meu pai, a minha mãe... foram ele. — Ela aponta para o irmão. — Eduardo me criou. Ele me protegeu. Ele pagou a minha faculdade. Ele acreditou em mim quando você fingia que não via. É ele quem eu amo. E é por ele que eu tô aqui hoje. Mas você... você nunca mais, nunca mais ouse usar a palavra “mãe” na minha frente!
Cici chora. Mas Mariana não se comove. Há dor demais para perdão.
Eduardo, por fim, se aproxima. Coloca a mão no ombro da irmã. Ela respira fundo, treme.
— Vamos, Mari... já deu.
Ela encara Cici uma última vez. Sem ódio. Só com a decepção cravada como faca.
— Você não perdeu uma filha. Você abriu mão dela.
E sai.
Marta abraça Lua com mais força. O instinto de mãe que ela sente parece uma ironia cruel diante do que acabou de testemunhar. As palavras ecoam nos corredores da mansão como um grito preso por anos.
Mas, quando tudo parece ter se acalmado, uma pergunta ainda paira no ar:
O que, afinal, aconteceu naquele passado que ninguém teve coragem de contar?
E será que Marta está pronta para saber com quem, de fato, dividiu sua casa e o coração?

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