O sol ainda mal se ergue no céu quando Darlene já está de botas no chão de cimento cru do curral, as mãos firmes na cintura e o olhar atento que denuncia mais que experiência e mostra paixão. O cheiro de terra úmida, couro e esperança embriaga o ar daquela manhã de rotina e resistência. É nesse cenário rústico, quase poético, que ela comanda tudo com precisão e doçura, como uma sinfonia regida por mãos calejadas e um coração valente.
— Vamos, Bravinho... anda, garoto — chama com carinho, batendo levemente na lateral da parede de concreto que forma o corredor. O animal hesita, mas ao ouvir a voz conhecida, segue confiante.
Um a um, o gado nelore passa pelo corredor de manejo. O líquido carrapaticida diluído escorre pelos pelos brancos, escoando aos pés, garantindo que nenhuma praga sobreviva naquela pele tratada com tanto zelo. Darlene observa cada movimento, inspeciona olhos, patas, pelagem.
— Você aí, Clarinha, não adianta fazer essa carinha, viu — brinca com uma novilha que hesita. — Vai passar sim, minha mocinha, você e essa tua pinta charmosa.
Ela acaricia os animais, fala com eles como quem conversa com filhos. E, de certa forma, são mesmo. Do bezerro que ainda cambaleia nas patas finas ao garrote já forte que se prepara para o desmame, todos ali têm nela a figura de uma matriarca firme, mas afetuosa.
Com o manejo concluído, ela faz uma última vistoria nos bezerros recém nascidos, conferindo se mamaram bem, se têm o olhar vivo, a cura do umbigo, se não há sinais de febre ou parasitas. Em silêncio, mas com o coração em festa, agradece por cada vida saudável naquele pasto. Quando tudo está sob controle, ela volta para casa.
Um banho quente e o cheiro de arroz fresco com carne acebolada invadem os corredores da sede. O almoço é simples, mas farto, como tudo que a vida no campo ensina a valorizar. Após comer, Darlene sobe, retira as botas com um suspiro de alívio e se j**a na cama, desejando apenas esticar as pernas por meia hora.
Mas é no silêncio do quarto, no calor do corpo relaxando contra o colchão, que a ausência se faz mais barulhenta.
Eduardo.
A lembrança dele vem como um relâmpago bom, o sorriso torto, a voz grave, os olhos que leem a alma. Ela suspira, pega o celular e digita com os dedos hesitantes:
Estou com saudade, só queria dizer isso.
A mensagem voa, mas não é visualizada. Ela sorri, compreensiva. “Deve estar ocupado”, pensa. Mas a saudade não entende de relógios nem de lógica.
O tempo passa e Darlene, guerreira como é, levanta e volta para o curral. Os últimos ajustes, o gado solto no pasto, a checagem de cercas e bebedouros. O céu começa a mudar de cor e os grilos já afinam os violinos noturnos.
Ela repousa as mãos sobre o tronco de madeira e observa o rebanho como quem observa um legado.
Mas enquanto o campo silencia e a noite cai, uma inquietação sutil começa a dançar em seus pensamentos.
Por que ele não respondeu?
Estaria tudo bem com Eduardo?
A vida no campo ensina a esperar, mas nem todo coração sabe fazê-lo em paz.
Darlene permanece ali, encostada na madeira gasta do curral, sentindo a brisa da tarde que já anuncia a chegada da noite. Seus olhos seguem os passos lentos do gado que pastoreia, livre e calmo, mas dentro dela, a serenidade escapa. Ela aperta o celular nas mãos com uma ansiedade silenciosa, olhando de tempos em tempos para a tela ainda escura, sem notificações, sem resposta.
Ela tenta afastar os pensamentos, focar no trabalho, no som dos cascos na terra, no mugido distante de um bezerro chamando pela mãe. Mas é inútil. O nome dele ecoa no peito.
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