A tarde cai sobre a mansão Schneider como um véu pesado, abafando os sons, tornando cada movimento mais contido, como se todos soubessem que algo está prestes a mudar. No térreo, perto da porta de entrada, Eduardo está de pé com Isadora, a ruiva, ao seu lado. Ambos em silêncio por alguns instantes. O ambiente carrega aquela tensão densa que antecede despedidas importantes, mesmo que temporárias.
Isadora, de braços cruzados, observa os detalhes do hall, os quadros, o piso impecável e o eco leve dos passos no mármore. Mas seus olhos não se fixam em nada. É Eduardo quem ela analisa agora. O jeito inquieto com que ele tamborila os dedos na lateral da perna, a respiração contida, o olhar que parece pesar.
— Tem certeza que quer ir? — ela pergunta, direta, mas com voz baixa. — Isso aqui… é sua segunda casa, não é?
Eduardo solta um riso sem graça, os olhos cansados.
— É, Ruiva. Aqui sempre foi minha zona segura. Mas tá ficando impossível respirar com a Cici por perto. Eu olho pra ela e… parece que tudo o que sangrou volta a doer de novo. E não é justo. Nem comigo, nem com eles.
Isadora assente devagar, compreensiva.
— E com a Marta e o Jonathan? Não acha que vão se sentir meio… abandonados?
— Eles são minha família. Os únicos que me restaram, de verdade. — Eduardo suspira, desviando o olhar.
— Mas às vezes a gente precisa se afastar de quem ama para não acabar machucando também. E eu não posso explodir aqui dentro. Ainda mais com a Mariana do jeito que tá, pronta para enfrentar Cici como um touro em dia de fúria.
Isadora sorri de canto.
— Jonathan vai sentir tua falta. E a Marta… ela parece confiar muito em você.
— Eu confio nela também. E no Jonathan. Eles confiam em mim ao ponto de me deixarem proteger a filha deles. — Ele se cala por um instante. — Por isso não posso falhar agora. Se eu continuar aqui desse jeito… posso perder o controle. Ou pior, perder a razão.
Isadora coloca a mão no ombro dele, firme.
— A fazenda vai te fazer bem. Vê a sua garota, respirar ar de verdade. Voltar para o seu eixo.
Eduardo sorri, sem abrir totalmente o rosto.
— Você vai segurar bem aqui. Marta vai estranhar no começo, mas confia em mim. Vai dar certo.
Passos se aproximam. É Jonathan quem surge primeiro, a expressão mais leve, mas os olhos atentos.
— Tudo certo por aqui? — ele pergunta, parando ao lado de Eduardo.
— Tudo. — Eduardo aponta com o queixo para Isadora. — Só ia me despedir. Já expliquei para ela tudo que precisa saber. E ela vai me mandar relatório diário. Qualquer coisa fora do normal, você será o primeiro a saber.
Jonathan olha para Isadora e assente com respeito.
— Confio em você porque confio nele. Então não me decepcione.
— Não costumo decepcionar — Isadora responde, firme.
Nesse momento, Marta aparece com Lua no colo. Ela desce o último degrau da escada com um sorriso contido, mas basta ver Eduardo com a ruiva ao lado para o sorriso hesitar. Um leve arquear de sobrancelha entrega sua tristeza a e talvez um quê de receio.
— Está indo mesmo? — ela pergunta, já parando próxima de Jonathan.
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