Islanne está em sua sala no Grupo Schneider quando a notificação vibra no celular. Uma mensagem discreta, sem emojis, sem figulas. Apenas um endereço, horário e três palavras:
Hoje. Só nós.
O coração dela aperta. Não de dúvida, mas de desejo. Um desejo manso, calmo, que agora precisa de espaço para respirar, longe dos lençóis, longe das culpas, longe de Rui. Longe da guerra que paira sobre eles como uma tempestade contida.
Ela responde com um simples:
“Estarei lá.”
O tempo corre lento até o almoço. No elevador, a caminho da garagem, ela ajeita a blusa de tecido fino sobre a calça de alfaiataria. Perfume leve, maquiagem só o suficiente. Quando entra no carro, liga o motor com a decisão de quem não quer mais esconder quem é, nem de quem ama.
O restaurante é discreto, elegante, com mesas externas cobertas por toalhas de renda e uma brisa que acaricia a pele. Ravi já a espera. Camisa dobrada nos cotovelos, sem blazer, sem gravata. Mas com aquele olhar que diz tudo. Que grita tudo.
Quando ela se aproxima, ele se levanta. Não se beijam. Ainda não. Mas o toque das mãos no cumprimento dura mais do que o necessário.
— Achei que não viria — ele diz, e o sorriso é leve, mas carregado de tensão.
— Eu prometi que não fugiria mais. E estou tentando cumprir.
A mesa é em um canto reservado, cercada por samambaias altas e a trilha suave de música francêsa. Eles pedem vinho branco, pratos leves, mas o apetite real está nos olhos. Eles se observam como se precisassem decorar um ao outro de novo. Como se tivessem apenas aquela hora para lembrar por que ainda vale a pena lutar por “nós”.
— Você conseguiu falar com o Rui? — ela pergunta, depois de alguns goles.
— Não. Liguei duas vezes. Ele mandou uma mensagem dizendo que está “processando”. Não insistir agora talvez seja meu único gesto de respeito.
Islanne assente, pensativa. O silêncio volta, mas dessa vez não é desconfortável. É necessário. É como se cada palavra tivesse que encontrar o lugar certo para pousar.
— Sabe — ela diz, mexendo distraidamente no talher, às vezes eu penso que a gente se quebrou antes mesmo de se amar.
— A gente se quebrou tentando amar em silêncio. E silêncio demais grita.
Eles riem, meio tristes, meio cúmplices. O prato principal chega. Ravi elogia o risoto, ela saboreia o salmão, mas o verdadeiro banquete está na conversa.
— Você confia em mim agora? — ele pergunta, sério.
Ela o encara. E não hesita:
— Pela primeira vez… sim. Mesmo com medo.
O garçom recolhe os pratos, oferece a sobremesa, mas eles recusam. O tempo está apertado. O mundo real espera lá fora.
— A gente pode... — ele começa, meio perdido — ...ter isso mais vezes? Almoços assim? Momentos só nossos? Sem dor?
— Podemos. Se a gente tiver coragem de encarar tudo lá fora juntos — ela segura a mão dele, de leve.
— Inclusive o que ainda não sabemos.
Ravi concorda, mas há algo em seus olhos que escurece, só por um segundo.
O garçom se afasta após trazer a conta, mas nenhum dos dois se move. O mundo ao redor parece ter desacelerado, como se aquela mesa fosse um porto seguro num oceano de incertezas.
Ravi desliza a mão sobre a dela, sem pressa.
— Eu não sei o que vai acontecer quando a gente sair por aquela porta — diz ele, com a voz rouca, carregada de emoção.
— Mas eu sei o que sinto agora. E o que eu sinto por você, Islanne, não é desejo, não é culpa, não é impulso. É amor. Um amor que eu demorei a reconhecer, que eu neguei por medo... mas que agora eu não quero mais esconder.
Ela engole em seco. Os olhos brilham com lágrimas que não escorrem, mas queimam. Respira fundo, como se o ar estivesse pesado demais, e finalmente responde, com a voz trêmula:
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