A porta se fecha com um estalo abafado, mas o impacto ressoa como um trovão na sala de reuniões. Islanne permanece imóvel, os olhos presos ao espaço onde o irmão estava segundos antes. O ar parece denso, carregado de algo que não se pode nomear, mágoa, talvez. Ou decepção. Ou pior, o abandono.
Catia leva a mão ao peito, respirando fundo, como se quisesse puxar o filho de volta só com o sopro de uma oração. Afonso senta-se devagar, os olhos fixos na mesa, calculando os danos de cada palavra dita.
— Eu devia ter esperado mais. Ter conversado com ele sozinha, primeiro — murmura Islanne, quebrando o silêncio com uma culpa que se insinua por cada fresta do corpo.
— Não, filha. — Catia se aproxima e segura a mão dela com firmeza.
— Você fez o que era certo. O que era necessário. Às vezes, o amor exige decisões que parecem traição… mas são salvação disfarçada.
Afonso concorda com um leve movimento de cabeça.
— Jonathan é forte. Mas não é indestrutível. Ele vai digerir. Precisa de tempo. E talvez… de mais dor ainda antes de aceitar ajuda.
Islanne assente, mas a dúvida ainda paira em seus olhos.
— Eu o conheço. Ele vai fingir que entendeu. Vai sorrir e dizer que aceita. Mas por dentro… vai ruir em silêncio.
— Por isso — diz Afonso, com um olhar firme — não vamos deixá-lo sozinho. Vamos caminhar ao lado dele. Mesmo quando ele disser que não precisa.
Islanne se levanta, sentindo a urgência crescer no peito.
— Eu preciso falar com ele. Agora. Antes que ele se feche de vez.
Catia segura seu braço, com suavidade.
— Dê tempo. Se você for agora, ele vai levantar muralhas. Espere. Hoje ainda. Mas na hora certa.
O celular de Afonso vibra sobre a mesa. Ele confere a tela, franze o cenho e mostra discretamente para Catia.
É uma notificação da segurança do Grupo Schneider.
"Sr. Jonathan deixou o prédio pela garagem reservada. Acompanhado por veículo não identificado."
O olhar de Islanne se estreita, captando a troca silenciosa entre os pais.
— O que foi?
Catia hesita. Afonso responde com calma:
— Ele saiu. Agora há pouco. Mas não com o carro dele. Alguém veio buscá-lo.
— Alguém? Quem? — pergunta Islanne, alarmada.
Afonso dá de ombros.
— O veículo não está cadastrado nos registros internos. Placa protegida. Vidros escuros.
Catia tenta minimizar:
— Pode ser alguém da equipe de segurança. Ou um amigo.
Mas Islanne não relaxa. O instinto dela desperta como uma lâmina afiada.
— Ou alguém que não quer ser visto. E que ele não quer que ninguém saiba que viu.
O silêncio se instala mais uma vez. Mas agora, não é feito de dúvidas… e sim de presságios.
Porque se Jonathan saiu com alguém de fora, no meio daquela tensão toda…
...quem o levou?
E, pior:
Para onde?
E se o que os pais e a irmã consideraram um alívio temporário… tiver aberto a porta para um novo e sombrio perigo?
Será que ao tentar protegê-lo, acabaram empurrando Jonathan direto para o abismo que ele tentava evitar?
Ou será que... alguém de fora acabou de cruzar o limite que jamais deveria ser atravessado?
A luz do fim de tarde se derrama pelas vidraças do Grupo Schneider, tingindo a sala de reuniões com um dourado melancólico. Mas nada da beleza do entardecer suaviza a inquietação no peito de Islanne. Ela anda de um lado para o outro, os saltos ressoando no chão como um relógio marcando a contagem regressiva de algo que ainda não tem nome, mas que ela sente se aproximar.
— Ele não atende — diz, pela terceira vez, baixando o celular e franzindo o cenho. — Nem liga de volta. Nem uma mensagem.
— Isso não quer dizer nada — tenta ponderar Afonso, embora sua voz esteja mais tensa do que ele gostaria.
— Jonathan é impulsivo. Às vezes ele só precisa dirigir por horas, ficar em silêncio. Você mesma já fez isso.
— Mas eu nunca saí escondida, pai. — Ela se vira para ele. — Nunca entrei num carro com vidros pretos e placa protegida sem avisar a ninguém.
— Oi, meu amor… — murmura, pegando a filha no colo, apertando-a contra o peito com força, como se quisesse fundir-se a ela. Lua sorri, inconsciente da tempestade no peito do pai.
— Tava com saudade de você…
Isadora assiste em silêncio, discreta, mas quando Marta aparece no topo da escada, seus olhares se cruzam. Nenhuma palavra é dita. Mas Marta entende.
Algo mudou em Jonathan.
Ela desce lentamente, seus olhos repousam nos dele por apenas dois segundos, e basta. Marta percebe. Percebe até quando ele tenta esconder. E agora, ele nem tenta.
Ela não pergunta nada. Apenas estende a mão para pegar Lua, que já cochila nos braços do pai.
— Vou subir com ela. Você toma um banho, tá?
Jonathan apenas concorda.
No quarto, Marta prepara a banheira com água morna e óleos calmantes, enquanto segura Lua com cuidado. Jonathan entra, retira a roupa em silêncio e mergulha na água. Fecha os olhos. Deixa que o calor alivie um pouco o torpor que carrega desde que saiu da reunião.
Quando sai, encontra Marta deitada na cama, Lua entre os dois, dormindo tranquila. Ele se junta a elas, envolve o pequeno corpo da filha com delicadeza, encosta os lábios na testa dela e depois beija-lhe o nariz.
— Tá tudo bem agora — sussurra, mais para si do que para ela.
Marta apenas observa. Silenciosa, presente. Sem perguntas. Porque o amor também sabe quando calar.
Jonathan acaricia a bochecha da filha e fecha os olhos. Mas em vez de descanso, o que vem é o vazio da ausência.
Ele imagina Jeff. Seu filho. Seu gêmeo perdido. Onde estará? Está bem? Está com frio? Está com medo?
A mão aperta o colchão sem que ele perceba. Marta nota, mas nada diz. Apenas encosta o rosto no ombro do marido. Um gesto. Só um.
Mas ali, entre o silêncio da noite, o calor da filha e o aconchego de quem o ama, Jonathan finalmente respira mais fundo.
Mas por quanto tempo conseguirá segurar as pontas?
Será que o tempo está a favor… ou contra ele?
E Jeff… estaria mesmo tão longe quanto imaginam?
O sono não chega fácil. Porque as perguntas, essas, continuam acordadas.

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