O silêncio do quarto pesa como chumbo. Lá fora, a mansão adormece em paz artificial. Mas dentro daquele espaço onde Marta e Jonathan dividem o mesmo ar, a calmaria é uma mentira cansada. Ele está sentado na beira da cama, os cotovelos nos joelhos, a cabeça baixa. As mãos tremem discretamente, como se tentassem segurar algo que insiste em escapar. Marta o observa através do travesseiro, os olhos atentos, o coração apertado.
— Eles querem que eu me afaste do Grupo, Marta — ele diz de repente, a voz rouca, grave, como se confessasse um pecado. — Afonso… Islanne… até minha mãe. Eles acham que é o melhor para mim, para você, para Lua… para o Jeff.
Ele não chora, mas cada palavra parece encharcada de dor. Marta se senta devagar, enrolada no lençol, e se aproxima, com calma, como quem tenta tocar um animal ferido.
— E o que você sente? — ela pergunta.
— Eu não sei — ele solta, com honestidade crua.
— Me sinto... dividido. Eu cresci dentro daquela empresa, Marta. Eu e a Islanne fizemos ela sobreviver quando parecia que ia afundar. Aquele lugar também é meu filho. Só que agora... — ele engole em seco.
— Agora eu tenho um filho de verdade que está sumido. E tudo parece sem sentido.
Marta respira fundo, segura a mão dele.
— Jonathan, você é o homem mais forte que eu conheço. Mas até os mais fortes precisam escolher onde colocar a força. Lua precisa de você. Eu... ela hesita, a voz embargada
— Eu também. E Jeff... se estiver em algum lugar esperando, você acha que ele quer o pai mergulhado em papelada e reuniões?
Ele balança a cabeça, devagar.
— Eu tenho medo, Marta. De falhar. De perder o meu lugar. De não conseguir encontrá-lo, mesmo tentando. E mais do que tudo… de parecer fraco.
Marta o puxa para perto, apoia o rosto no ombro dele.
— Isso não é fraqueza, amor. É coragem. Coragem de escolher com o coração. Você não precisa se afastar para sempre. Só… por um tempo. Fica um dia na semana no Grupo, mantém sua presença. O resto do tempo, dedica ao que importa agora. Mobiliza as pessoas certas, pressiona as autoridades, contrata especialistas… intensifica as buscas, nós temos dinheiro para isso.
— E se mesmo assim, não encontrarmos? — ele sussurra, e a frase vem como uma punhalada muda.
— Então pelo menos saberemos que fizemos tudo. Que você fez tudo. Sem peso na consciência. Sem se culpar por estar atrás de uma mesa enquanto o mundo lá fora gira sem Jeff.
Jonathan fecha os olhos e se deixa envolver por Marta. O abraço dela não traz respostas, mas oferece direção. E isso, agora, é mais do que ele tinha.
— Um dia por semana — ele murmura.
— Só um. O resto… vou usar para achar o nosso filho.
— Isso já é um recomeço — ela responde.
— Você sempre esteve aqui — diz ela, baixinho. — Mas agora… eu preciso que esteja por inteiro.
Ele fecha os olhos, e quando os abre de novo, há decisão em cada linha do seu rosto.
— Eu vou me afastar do Grupo. De verdade. Um dia por semana, no máximo. O resto do tempo vai ser nosso. Vou atrás do Jeff. Vou sacudir esse país se for preciso. Mas eu não vou mais deixar você segurar isso sozinha, Marta. Eu prometo.
Ela segura o rosto dele com as mãos, emocionada, e o beija com ternura e gratidão.
— Obrigada… por não me deixar afundar.
Eles se abraçam no escuro, enquanto Lua dorme serena no bercinho ao lado. E, pela primeira vez em muito tempo, Marta fecha os olhos com uma chama de esperança aquecendo o peito.
Mas lá fora, em algum ponto da noite, um bebê chora. E ninguém escuta.
Será que Jonathan vai conseguir encontrá-lo?
Será que Jeff está mesmo vivo… ou a esperança é apenas um eco do amor que ainda não aceita o fim?
E se ele estiver mais perto do que imaginam… por que ninguém o vê?

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