O céu ainda está riscando os primeiros tons de azul quando Miguel desperta, os olhos brilhando com um entusiasmo que nem ele tenta disfarçar. Espreguiça-se devagar, calçando as botas ao pé da cama. O canto dos galos lá fora já chama para a lida e, sem reclamar, ele parte direto para os galpões, onde centenas de pintinhos esperam por água fresca e ração medida com cuidado e toda a sua atenção.
Miguel trabalha em silêncio, os movimentos firmes, repetidos com a precisão de quem conhece bem a rotina. Mas, por dentro, seu coração corre em outro ritmo. A cada passo, a cada comedouro cheio, ele pensa nela. Em Mariana. Na voz suave, no sorriso que desarma, na doçura decidida que mexeu com tudo dentro dele.
Quando termina, já suado e coberto de poeira fina, volta para casa assobiando. Dona Maria já colocou café fresco na garrafa térmica, e o cheiro invade o alpendre. Mas antes de qualquer gole, Miguel vai direto para o chuveiro. Tira a roupa suada, entra na água morna e deixa o corpo relaxar.
— É hoje — murmura, sorrindo, enquanto a água escorre pelos ombros largos. — Hoje ela conhece minha velha. E meu velho também, que já vai querer saber de tudo, e vão gostar de saber que ela é irmã do Eduardo.
Depois do banho, veste uma bermuda jeans e uma camisa de botão clara, as mangas dobradas com descuido. O cabelo ainda úmido cai rebelde sobre a testa. Ele se olha no espelho e sorri como quem está indo buscar um prêmio.
Na cozinha, Dona Maria está cortando pão de milho, e Seu Heitor folheia o jornal com os óculos escorregando no nariz.
— Bom dia, minha gente! — Miguel diz, puxando a cadeira com gosto.
— Bom dia, filho! — responde Dona Maria, com um sorriso maternal.
— Tá com pressa, hein? Nem sentou e já tá com esse brilho nos olhos.
— Tô indo buscar a minha dona — diz ele, já passando a manteiga no pão.
— Hoje vocês vão conhecer a mulher da minha vida.
Seu Heitor ergue uma sobrancelha por cima do jornal. Dona Maria para o corte.
— Mas já vai trazer ela aqui assim? — pergunta ela, surpresa. — Sem preparar a gente?
— Ué, mãe… vocês não vivem dizendo que tão loucos para ver neto correndo por esse terreiro?
— Olha que isso pode acontecer mais rápido do que você pensa — diz Seu Heitor, entre sério e divertido.
— Pode deixar — Miguel ri.
— A Mariana é especial. E eu vou casar com ela.
Dona Maria sorri, encantada sem nem conhecer a moça. Troca um olhar cheio de ternura com o marido. Ambos sabem que, se o filho fala com esse brilho nos olhos, é porque a coisa é séria.
Na fazenda de Darlene, o sol já aquece o curral. Mariana está ao lado de Eduardo, observando Darlene aplicar um medicamento em um dos bezerros. Mariana segura uma caixa de instrumentos veterinários, atenta, embora vez ou outra se perca nos próprios pensamentos — especialmente nos que envolvem um certo rapaz de sorriso provocador.
— Olha só quem chegou! — diz Darlene, erguendo o rosto.
Miguel aparece no portão do curral com aquele andar preguiçoso e sorriso atrevido. Seus olhos encontram os de Mariana, e ele não espera convite. Entra, a puxa pela cintura e a beija ali mesmo, diante de todos.
— Hoje você vai conhecer seus sogros, meu bem — diz, com um brilho nos olhos e um tom que mistura promessa e provocação.
— Sogros? — Mariana ri, surpresa e envergonhada ao mesmo tempo.
Eduardo solta um suspiro alto e impaciente.
— Isso tá indo rápido demais, não?
— Relaxa, cunhadinho — provoca Miguel, lançando um olhar debochado.
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