Jonathan estava de pé, braços cruzados, quando Islanne e Ravi entraram em sua sala. O olhar severo no rosto do presidente do Grupo Schneider deixa claro que aquele não era um convite para uma conversa leve.
— Senta os dois — ordena, apontando para as cadeiras à frente da mesa.
Islanne e Ravi obedecem em silêncio, o clima denso como uma nuvem prestes a desabar.
— Eu não vou fazer rodeios — começou Jonathan, a voz controlada, mas carregada.
— O que aconteceu entre vocês dois… não tem justificativa. Nenhuma. Não importa o que vocês sintam um pelo outro, o que houve foi, no mínimo, irresponsável.
Islanne abre a boca para falar, mas ele ergue a mão, cortando qualquer tentativa de defesa.
— Eu recebi o Rui aqui hoje de manhã. Ele entrou nessa sala como um homem destruído. Um dos caras mais inteligentes e centrados que eu conheço. E saiu… um trapo. Pediu férias. Duas. Uma vencida e outra antecipada. E eu autorizei, porque ele não tem condição de continuar aqui. E sabem por quê? Porque viu vocês dois juntos.
Grudados.
O silêncio ficou ainda mais pesado. Islanne abaixou os olhos. Ravi mantinha o queixo erguido, mas os punhos cerrados no colo denunciavam a tensão.
— Vocês têm ideia do que poderia ter acontecido? — continuou Jonathan.
— Se o Rui tivesse perdido a cabeça? Se tivesse puxado a pistola da cintura? Vocês estavam colados, distraídos. Não teriam nem tempo de se defender. Iria dar merrda. E não pensem que é exagero. Isso acontece todos os dias. Homens matam por impulso, por ciúme, por dor. E ninguém volta depois.
Ele os encarou com firmeza, as palavras cortantes:
— Vocês são maiores de idade. Vacinados. Não tinham por que esconder isso. Podiam ter conversado. Tido decência. Eu podia ter evitado que isso explodisse dessa forma. Mas não. Escolheram o caminho mais inconsequente, agindo como dois filhos da putta.
Ravi respirou fundo, o olhar firme voltado para Jonathan.
— Eu entendo a sua revolta. Sei que erramos. Mas eu amo a sua irmã. E quero casar com ela. — disse, com convicção.
— Mas antes… eu preciso conversar com o Afonso e a Cátia. Com os pais de vocês. E, até lá, acho melhor a gente manter tudo em sigilo, por respeito ao Rui. Por enquanto.
Islanne vira-se para ele, surpresa e tocada, pela coragem da declaração. Mas a sua própria indignação também transborda.
— Eu não fiz nada de errado! — rebate, olhando para Jonathan.
— Rui nunca me assumiu. Nunca me levou a sério. Só aparecia à noite. Nunca se comprometeu. Eu não iludi ninguém.
Jonathan a olha com severidade.
— Não tô aqui pra alimentar essa discussão. Mas você precisa entender uma coisa, Islanne, não se brinca com homem. Não se brinca com o sentimento de ninguém. Mesmo que você ache que ele não fez por merecer, isso não te dá o direito de entrar em outra história sem clareza, escondida, como se não houvesse consequências.
Ela abaixa a cabeça, visivelmente abalada. A voz saiu mais baixa, sincera:
— Eu lamento por ele. De verdade. Nunca quis magoá-lo. Mas eu e o Ravi… a gente se apaixonou. Aconteceu. E decidimos viver esse amor.
Jonathan observa os dois por longos segundos. Depois, suspira, cansado, sentando-se finalmente à cadeira atrás da mesa.
— Vocês já tomaram uma decisão. E agora vão ter que arcar com ela. Sem mais mentiras. Sem joguinhos. Eu só peço que sejam responsáveis. Discretos. E que, pelo bem de todos, resolvam isso com a família e com maturidade. A dor do Rui... essa já está feita. E vai levar muito tempo para cicatrizar.
Ravi assente. Islanne também.
Jonathan apoia os cotovelos sobre a mesa e encara os dois com firmeza, a voz mais baixa, mas ainda carregada de autoridade.
— Vocês podem ir. Mas pensem bem no que estão fazendo. Isso não é só sobre sentimentos, é sobre consequências. Evitem o Rui nos próximos dias. Dêem espaço para ele respirar. Assim que ele viajar, as coisas talvez fiquem menos tensas.
Ravi e Islanne assentem em silêncio. Não há muito mais a dizer. A saída dos dois é silenciosa, pesada, e quando a porta se fecha, Jonathan recosta na cadeira, soltando um longo suspiro.
Olha para a parede por um momento, mas seus pensamentos estão ali.
Islanne.
Nada nunca foi simples com ela. Desde criança, sempre teve o espírito inquieto, os impulsos na frente da razão. Temperamental, intensa, dona de um orgulho feroz. Jonathan sempre tentou protegê-la, mesmo quando ela não queria proteção. Mas agora… agora ele sente medo.
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