O instinto nunca grita, ele sussurra. Mas há dias em que até o sussurro tem o gosto de sangue. E Islanne Schneider sente isso no ar. A cidade acorda com um véu de silêncio espesso, como se algo estivesse prestes a se romper. Ela termina o café ainda quente, os olhos vidrados na tela do celular que vibra em cima da mesa.
Uma única mensagem.
Formal. Objetiva. Estranhamente calculada e profissional:
“Islanne Schneider. Hoje às 10h. Estacionamento subterrâneo 2 do antigo hospital desativado. Comparecer sem seguranças ou acompanhantes. Informação relevante sobre o caso Jeff Maia Schneider. Assunto reservado.”
O impacto não vem com o pânico, mas com um silêncio pesado. Não há emojis. Não há nome. Mas o tom… o tom tem assinatura. E o nome “Jeff” basta para que o seu sangue corra como um rio subterrâneo de gelo e fogo. Islanne se levanta com precisão militar. Dante, ao lado, nota a mudança no ar e nos olhos dela, há mais sombras do que a luz da manhã.
Ela segue para o Grupo Schneider sem dizer uma palavra. No andar da presidência, Catia e Afonso ainda trocam palavras leves, mas o olhar da filha destrói qualquer traço de tranquilidade.
— O que houve, minha filha? — pergunta Catia, a voz já trêmula, ao ver o celular nas mãos de Islanne.
Ela apenas vira a tela para os pais. Afonso pega o aparelho, os olhos afiados vasculhando cada letra da mensagem. O nome do sobrinho salta como uma lâmina.
— Isso aqui... — ele fecha o punho — ...pode ser tudo. Desde uma pista quente até uma tentativa de te usar como isca. Parece coisa de gente da lei, mas pode ser bem o contrário.
— Tem formato de despacho sigiloso — diz Catia, olhando por cima do ombro do marido. — Mas quem mandaria isso assim?
Afonso a segura pelo braço e a conduz para a sala da vice presidência, trancando a porta atrás deles. Dante entra junto, sem pedir permissão.
— Você não vai, Islanne — diz Afonso com firmeza. — Vamos acionar contatos da inteligência e…
— Eu vou — ela corta, a voz dura, contida, quase gélida.
— E vou sozinha.
— Filha — intervém Catia, já com o olhar úmido, por favor. Pensa melhor. Se for uma armadilha, e você...
— Eu sinto que é sobre o Jeff — ela diz, encarando os dois com o olhar de quem já passou por guerras maiores do que gostaria de admitir.
— E se for mesmo… se for alguém que sabe de algo, eu preciso estar lá. Sozinha. Sem seguranças. Sem barulho.
— Filha, o protocolo diz que… — Afonso tenta, mas ela ergue a mão, cortando-o.
— Desde quando eu sigo protocolo, pai?
Ela vai até o cofre escondido atrás do quadro, digita a senha sem hesitar, retira a pistola, confere a munição, trava e encaixa na cintura. Fecha o cofre com um estalo estridente.
— Seja quem for, se me chamar de presa, vai conhecer os meus dentes.
Ela se vira. Dante se aproxima.
— Vai sair assim? Armadilha ou não, você não vai sozinha — diz ele.
Ela para em frente a ele, sem piscar.
— Se você me seguir… ou avisar o Jonathan… eu mesma te derrubo, Dante. E sem remorso.
Dante não recua. Encara-a de igual para igual.
— Eu sei que você é capaz disso. E é por isso que não vou te seguir. Mas também não vou te deixar na escuridão.
Ela gira nos calcanhares e segue em direção ao elevador. Catia se antecipa, segura sua mão.
— Só me promete… volta para mim, filha.
— Eu volto, mãe. Mas se não der… que leve o inferno junto comigo.
O elevador desce e, com ele, a sombra da incerteza.
Assim que ela desaparece, Dante liga imediatamente para Ravi.
— Islanne recebeu uma mensagem. Oficial demais para ser qualquer ameaça comum. Citaram o Jeff. Marcaram encontro às 10h. Ela foi. Armada. E ninguém pode saber.
— Merda — Ravi murmura. — Tô entrando agora no sistema. Me manda o modelo do carro.
— Pode esquecer — Dante suspira. — Ela pegou um da frota de manutenção. Disfarce completo.
— Essa mulher ainda me mata — Ravi bufa, teclando freneticamente.
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