O ar na sala continua denso, quase sólido, como se qualquer palavra a mais pudesse fazer tudo explodir. O clima que antecede o rompimento. Ravi entra como uma tempestade, os olhos azuis turvos de raiva, a respiração pesada, os punhos cerrados. A dor que o move é real, latejante, e explode no som grave da sua voz.
Ele atravessa a sala em poucos passos, como se o chão estivesse pegando fogo sob seus pés.
— Você enlouqueceu de vez, karalho? — a voz sai baixa, mas carregada como um trovão prestes a romper.
— Sai sozinha. Desliga o celular. Some. Vai para o meio de sabe-se lá o quê... Tá brincando com a própria vida agora?
A frase corta o ambiente como um chicote. Cátia se levanta, assustada, mas Afonso segura o braço dela com firmeza. Seus olhos, fixos no casal, não piscam.
— Deixa. — ele murmura, num tom quase imperceptível, mas que carrega um peso de comando.
— Eles precisam disso.
Islanne gira nos calcanhares, o rosto em choque pela forma como Ravi invadiu o espaço, mas não demonstra medo. Pelo contrário, há uma eletricidade em seus olhos, um desafio silencioso, inflamado.
— E se ele fosse o seu sobrinho? — grita, a voz trêmula de emoção.
— E se fosse alguém da sua família sumido há meses, com a polícia empacada, sem rumo? Você ia ficar aí, parado, criticando?
— Eu tô nessa também! — Ravi explode.
— Eu também amo aquele garoto! Mas você… você se j**a no fogo como se fosse imortal!
— Imortal?
Ela ri sem humor.
— Eu penso no Jeff todos os dias! E se eu tiver que me arriscar de novo, eu vou! Dez vezes, cem vezes! Eu não sou covarde!
— Você pode ir para o inferno, sim! Mas não sozinha! — Ele berra, avançando.
— E se fosse uma emboscada? E se você não voltasse? Você quer que eu enlouqueça?
Ela arregala os olhos, sem resposta imediata.
— Eu juro... se você fizer isso de novo, Islanne, eu te prendo num lugar onde ninguém te ache — diz ele, aproximando-se até a encurralar contra a parede. Seus olhos incendeiam os dela.
— Eu não vou deixar você morrer!
— Você não manda em mim! — ela rosna, os corpos quase colados, as respirações se misturando em nuvens invisíveis de tensão.
— Desafia mais uma vez… só mais uma, Schneider... — ele murmura, a voz rouca, carregada de uma fúria que esconde um amor febril.
Ela ergue o queixo, prestes a rebater. Mas não há tempo.
Num impulso desgovernado, ele a beija.
É um beijo que fere e cura ao mesmo tempo. Um beijo de saudade sufocada, de noites em claro, de desejos contidos, de uma dor que nenhuma palavra poderia traduzir. Ravi a segura com força, como se ela pudesse sumir se ele afrouxasse os dedos. E Islanne, enfim, entrega-se, porque lutar contra aquele sentimento agora seria como lutar contra o próprio sangue.
Quando se afastam, ofegantes, Ravi encosta a testa na dela.
— Você ainda vai me matar, sua diaba. Não faz mais isso… por favor.
Antes que ela possa responder, um pigarro ecoa do canto da sala.
Os dois se viram, ainda colados.
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