O carro avança pela estrada de terra, levantando uma nuvem fina de poeira que some ao longe, como se tentasse apagar as pegadas de um homem que parte, mas deixa um pedaço de si para trás. No retrovisor, Eduardo ainda enxerga Mariana e Darlene, lado a lado, com os olhos marejados, tentando disfarçar a emoção com sorrisos frágeis. É uma despedida provisória, ele repete para si mesmo. Só uns dias… mas o coração não entende a lógica da razão. O coração sente, e o dele está apertado, pulsando com um nó que parece subir pela garganta e se agarrar no peito.
Ele respira fundo e liga o som. Uma música qualquer preenche o silêncio do carro, mas não é o suficiente para calar o barulho dentro da mente dele. Imagens da infância surgem com força. A mãe. Fria, distante, moldando as regras e cega perante a verdade. A irmã Mariana, pequena, indefesa, escondida atrás das pernas dele em tantas brigas. E agora… aquela menina está virando mulher. Uma mulher que ele ainda quer proteger com unhas e dentes. Mas proteger não é o mesmo que aprisionar. E ele sabe disso.
— Ela cresceu — murmura para si mesmo, engolindo o orgulho.
— E eu preciso deixar.
O pensamento machuca. Talvez porque, no fundo, ele ainda esteja aprendendo a confiar que o amor também é feito de liberdade.
Lembra do corpo quente de Darlene, do choro abafado no pescoço dele quando ela com medo da gravidez, da força que ela carrega, mesmo frágil. Darlene, a mulher que chegou como um furacão, e que agora carrega dentro de si a tempestade mais linda que ele já viveu, o filho deles. E por esse filho, ele voltará. Não importa o que aconteça. Ele vai estar ali, inteiro.
Lombadas. Faróis. Músicas. Pensamentos. Tudo se embaralha no peito enquanto ele entra em São Paulo. A cidade o engole sem cerimônia, como um monstro de concreto que nunca dorme. O GPS indica o caminho automático, mas Eduardo sabe o percurso de cor. Logo, o carro estaciona em frente à mansão Schneider.
Ele estaciona, desce, respira fundo, ajeita a camisa e toca a campainha. A porta se abre com a pontualidade militar de Isadora, a ruiva. Ela o encara com a mesma expressão afiada de sempre, meio tédio, meio prontidão.
— Jonathan está no escritório — ela diz, seca, já se afastando pelo corredor sem esperar resposta.
Eduardo ri sozinho. Aquela mulher não perde o jeito.
Ele entra no escritório e encontra Jonathan atrás da mesa, olhando papéis com uma concentração quase teatral. Mas assim que vê Eduardo, sorri e se levanta.
— Sabia que você viria hoje. Tem olhos de quem quer cortar laços, diz Jonathan, sem rodeios.
— E você tá com cara de quem já aprendeu a fazer isso sorrindo, responde Eduardo, apertando a mão do amigo antes de puxá-lo para um abraço breve, mas sincero.
— Vim resolver tudo. Oficialmente. Me desligar, me ajeitar... me reconstruir.
— Já começou. Desde que deixou tudo por Darlene, você se reconstruiu.
Eduardo se senta, os ombros pesados.
— Cara, eu não esperava essa virada. Não era o meu plano me apaixonar, ser pai, trocar tudo por uma fazenda no meio do nada…
— Ninguém espera. Só acontece. Um dia você acorda e percebe que a ideia de voltar à sua rotina anterior te enoja. Que o que era zona de conforto virou prisão.
— E o que parecia loucura agora é paz.
Jonathan cruza os braços, atento.
— Darlene é uma mulher forte. Mas é sensível. Precisa de cuidado.
— Eu sei. Por isso mesmo tô aqui. Quero fazer certo. E também… cara, às vezes fico assustado. Tudo mudou tão rápido.
— Porque você é impulsivo. Sempre foi. Mas não é mais moleque. Você sabe que tem uma responsabilidade enorme agora.
Eduardo encosta o corpo na poltrona, mexe nos dedos.
— Eu fico pensando se vou dar conta. Se vou conseguir segurar a barra quando ela pirar por causa dos hormônios, ou quando o bebê nascer e a gente não souber o que tá fazendo…
— Você vai dar conta, Jonathan afirma, sem pestanejar. — Mas precisa aprender a ouvir. A respirar antes de reagir. Darlene não é a Cici. E você não pode punir uma mulher por traumas que não são dela.
O silêncio se instala por um instante. Eduardo balança a cabeça, como quem absorve o golpe de uma verdade incômoda.
— A Cici… você entende… eu não consigo. Só de estar perto, é como se tudo que lutei para ser escorresse pelos dedos. E agora, eu preciso estar inteiro para ser o marido que a Darlene precisa, nós vamos ter um filho!
— A Mariana começando a viver a vida dela… eu preciso estar presente. De verdade, ela e o Miguel… estão namorando.
Jonathan cruza os braços e sorri com cinismo bem humorado.
— Ah, meu amigo… Eu te avisei. Você ia acabar encontrando a sua louca do caos. Igualzinha à minha.
— Igualzinha mesmo — Eduardo diz, e os dois riem alto.
— Uma grávida destemida, o passado batendo na porta, e a irmã começando a desafiar o mundo com um namorado novo… É, você está bem encaminhado.
— E você tá rindo da minha desgraça, Eduardo provoca.
— Não é desgraça, é evolução. Crescimento. Sofrimento com propósito.
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