A manhã mal começa a se espreguiçar pela mansão Schneider quando a porta se abre com a energia avassaladora de sempre. Marta entra como um furacão de luz, os cabelos soltos voando com o vento e Lua agarrada ao seu pescoço como um macaquinho eufórico. A criança solta gritinhos doces e risadinhas que enchem o escritório com um som quase mágico, como se, naquele instante, o mundo parasse para sorrir também.
O perfume suave de Marta e o cheiro de bebê se misturam no ar, invadindo o espaço com algo difícil de descrever: acolhimento, lar e pureza.
Eduardo, que está de pé junto à porta, sorri no mesmo instante em que ouve a risada da menina. Mas seus olhos, ah, os olhos, denunciam o peso de tudo que ainda não foi dito.
— Olha só quem chegou! — Marta exclama, entrando de vez.
— A Lua tava doida pra ver o titio Dudu, né, filha?
— Tava mesmo — ele responde, indo ao encontro delas com passos lentos, mas firmes. Ele toca de leve o cabelinho fino da menina, e Lua imediatamente estende os bracinhos na direção dele, balbuciando sons quase cantados de pura alegria.
Marta percebe. Ela sempre percebe. E o jeito como Eduardo a encara agora, como se cada palavra estivesse presa entre os dentes, faz com que ela fique em alerta.
— O que foi, Dudu? — pergunta, estreitando os olhos, mesmo com Lua pendurada no braço. — Fala logo… Tá com essa cara de quem vai me dar uma bomba.
Eduardo respira fundo. O momento chegou.
— Eu pedi demissão, Marta. Vim resolver tudo com o Jonathan. E... eu tô indo embora.
— Como é?! — Ela arregala os olhos, dá um passo à frente com Lua ainda encaixada no quadril. — Que história é essa de ir embora? Para onde?
— Eu vou morar com a Darlene. Lá na fazenda. A gente... a gente vai ter um filho.
Silêncio.
Por dois, três segundos, o mundo parece parar. Nem o riso de Lua, nem o barulho da rua. Nada. Só o peso da notícia pendurado no ar, prestes a explodir.
E então explode.
— O QUÊ?! — Marta grita, soltando uma risada histérica enquanto pula com Lua nos braços. — Eduardo do céu! Você tá falando sério? Meu Deus, MEU DEUS!
Ela gira no meio da sala como se fosse uma menina outra vez, os olhos brilhando, os cabelos voando, Lua gargalhando junto, contagiada.
— Cê vai ser PAI, rapaz?! — Ela para e o abraça com força, prendendo a menina entre eles com cuidado.
— Eu não acredito! Parabéns, seu danado! Essa criança vai ser linda, inteligente e cheia de marra, igual ao pai!
Eduardo ri, emocionado, mas a voz falha.
— Obrigado, Martinha… de verdade. Assim que tudo estiver ajeitado lá, quero que você e a Lua vão nos visitar. Vai amar matar a saudade dos ares da roça. É paz, sabe?
— Paz?! Paz é saber que você vai ser feliz! Eu levo a Lua, levo pão, bolo, o que for. Faço essa criança aí da Darlene sentir a presença da futura amiguinha-rival logo no útero!
Eles riem juntos, e Eduardo sente um nó no peito se desfazendo. Mas logo outro se forma.
— Tem mais uma coisa — diz ele, o tom agora mais calmo, quase reverente.
— Miguel e Mariana... estão juntos. Estão namorando.
— O QUÊ?! — Marta quase derruba Lua de tanta empolgação. Ela precisa dar um passo para trás, processar. Os olhos dela se enchem de lágrimas na mesma hora.
Lua emite uma risadinha doce, toca o rosto dele com a mãozinha pequena, e uma lágrima solitária escorre pela bochecha de Eduardo.
— Você vai ser um pai incrível, Marta sussurra, emocionada.
— Eu sempre soube que você tinha isso em você. Essa ternura aí... escondida atrás desse jeitão bravo.
Ele sorri, mas não responde. Apenas beija o topo da cabeça de Lua, abraça mais uma vez e a devolve a Marta com carinho.
— Agora eu preciso ir. Tenho que passar na casa do condomínio, arrumar minhas coisas. Quero começar essa nova fase com tudo certo. Sem pendências. Sem olhar pra trás.
— Vai, meu amigo. Vai viver esse amor. Vai construir a sua família. Vai ser feliz… Mas olha, assim que vocês estiverem prontos para visita, eu sou a primeira a chegar. Com bolo e tudo.
Eles se abraçam com força, por um tempo longo demais para ser só despedida. É carinho de alma. Gratidão de vidas que se cruzam.
Eduardo se afasta, para na porta, olha uma última vez para Marta e Lua. E sorri. Um sorriso cheio de emoção e promessas.
E então ele vai. Fecha a porta atrás de si e segue em direção ao carro, à estrada, à vida nova que o espera.
Mas enquanto dirige rumo ao condomínio, o coração pulsa inquieto. Marta pareceu forte, alegre… mas será que ela realmente está bem com tudo isso?
Será que Eduardo conseguirá sustentar esse novo capítulo sem as sombras do passado interferirem?
E Mariana… estará mesmo pronta para enfrentar o mundo?
A estrada de volta ainda é longa. Mas talvez… não mais escura do que o que ainda falta ser dito.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino