3 Meses depois
A dor não grita, ela rasga. Silenciosa, impiedosa, ela atravessa Marta como um punhal sem cabo. Faz quase um ano desde o desaparecimento de Jeff, e cada dia que nasce sem resposta é mais um prego cravado no coração de uma mãe que não chegou sequer a ver o rosto do filho. Todos procuraram. A polícia, os detetives particulares, os aliados políticos, os amigos mais próximos... até Ravi mergulhou de cabeça na busca. E mesmo assim, o silêncio permanece. Gritante. Atroz.
— Fica com a Lua, Isadora. Eu preciso ir sozinha, diz Marta, com a voz firme, mas os olhos trincados pela angústia.
— Marta, por favor... Isadora tenta, mas não há espaço. A mulher diante dela já decidiu.
Marta entrega Lua aos braços de Isadora como quem entrega o coração embrulhado numa caixa. Isadora tenta conter a preocupação, mas obedece. Assim que Marta sai dirigindo o blindado preto da mansão, a ruiva liga imediatamente para Jonathan.
— Ela saiu. Disse que precisava estar sozinha. Me deixou com a bebê, explica Isadora com firmeza, antecipando o tom de reprovação do outro lado da linha.
— Eu não deixaria Lua sozinha, Jonathan. Você me conhece.
Marta dirige como se as lágrimas fossem parte do caminho. O mundo à sua volta se dissolve em flashes de memória, a notícia do filho que sumiu da uti neonatal, o teste de DNA, os meses de busca, a ausência de qualquer pista. Mas agora, agora ela sabe onde precisa estar. O mesmo lugar onde sentiu a primeira resposta quando tudo começou. Um chamado que nunca se esquece.
Ela estaciona em frente à paróquia antiga, e só quando lê o letreiro percebe o nome.
Paróquia de Santa Marta.
O destino, talvez. Ou um sussurro divino.
Dentro da igreja, o ar é de paz e de peso. Ela se ajoelha no altar lateral, onde há uma imagem da santa com o dragão aos pés. Os vitrais lançam luzes coloridas sobre seu rosto banhado de lágrimas. Marta respira fundo, e então ora com o coração em carne viva.
— Santa Marta, Santa minha...
A voz sai embargada.
— Acolhe-me à Vossa Proteção, pois entrego-me ao Vosso amparo...
As palavras vêm como um desabafo.
— Imploro a vós, que domine essa dor que sinto, que me ajude, e traga o meu filho Jeff de volta para casa!
Ela chora. O corpo inteiro se curva em agonia.
— Pela felicidade que tiveste em hospedar o Divino Salvador, consola-me! Intercede por mim e minha família! Imploro com o que me resta de fé: traz o meu filho, meu bebê, o filho que nunca pude segurar!
Marta soluça.
— Minha Santa Marta dominadora, domina essa situação! Rompe o véu que me impede de enxergar! Mostra-me o caminho! Eu suplico!
— Vamos rezar juntos. Com fé verdadeira. Porque quem pede com fé, alcança. Não no tempo dos homens, mas no tempo de Deus.
Os três se ajoelham no chão frio da igreja, e o padre começa a rezar em voz baixa, mas carregada de poder:
— Senhor nosso Deus, olhai para esta mãe e este pai em agonia. Tocai com vossa mão santa o coração de quem quer que esteja com esta criança. Iluminai os caminhos escuros, rompei os véus da mentira, dissipai as sombras do mal. Que pela intercessão de Santa Marta, esta família seja restaurada. Que o filho que foi levado, retorne. Que o que foi separado, seja unido. Que o que foi ocultado, venha à luz.
Marta aperta os olhos com força, lágrimas jorrando como cachoeiras contidas por tempo demais. Jonathan, de cabeça baixa, não segura o pranto, o peito sobe e desce num soluço silencioso, desesperado.
— E a vocês, eu digo com fé, diz o padre ao terminar, a graça virá. Não deixem o medo falar mais alto que a fé. A fé é o que sustenta quando tudo desmorona. Sigam buscando. Sigam orando. Porque às vezes, a resposta de Deus está mais próxima do que imaginamos...
As palavras do padre ressoam fundo. Marta sente algo dentro dela estremecer. Uma chama se reacende, tímida, mas viva. Jonathan segura sua mão com força. Ambos choram, mas agora há algo novo no choro, a esperança.
E quando se levantam, ainda abraçados, Marta olha para o altar com os olhos marejados e o coração inquieto.
Mas... por que a sensação de que algo está prestes a acontecer não a abandona?
E por que, ao olhar para Jonathan, um estranho medo se mistura ao amor que sente?
O que mais está sendo escondido... e por quem?

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