A chuva começa fina, quase tímida, como se pedisse licença ao cair sobre o para-brisa do carro de Marta. O vidro embaçado reflete seu rosto ainda marcado pelas lágrimas, e, ao lado, Jonathan acompanha tudo do carro dele, como uma sombra silenciosa. Eles saem da igreja, mas levam consigo algo que não se dissolve com as bênçãos do padre: a ferida aberta da saudade, da incerteza… e o eco de uma oração que ainda pulsa no peito dos dois.
Marta não diz para onde vai, e Jonathan não pergunta. Apenas segue atrás, como se soubesse que aquele trajeto não era mais só dela. Era deles. Em silêncio, ela dirige pelas estradas até estacionar em frente a um restaurante afastado, rústico, à beira de um lago escondido pelo verde. A fachada é simples, charmosa, com luzes amareladas e flores nos parapeitos. Ele entende de imediato: ela precisa de paz. E ele está ali para ser isso pra ela, nem que seja por uma noite.
— Você quer mesmo entrar? — pergunta ele, ao descer do carro, o olhar gentil.
Marta assente, os olhos cansados, mas mais leves.
— Quero… só por hoje, sem perguntas, sem promessas. Só... presença.
Jonathan sorri de leve, estende o braço para que ela se apoie. E ela aceita.
Dentro do restaurante, o cheiro de pão assado e vinho cria um abraço invisível. Eles escolhem uma mesa perto da janela, com vista para o lago. A chuva lá fora engrossa, criando uma sinfonia suave contra o vidro. O garçom, simpático, oferece um vinho tinto da casa. Marta aceita. Jonathan também. O jantar é simples: massas frescas, um pão crocante, risos que nascem tímidos e, devagar, crescem como flores em terreno queimado.
— Eu precisava disso, diz Marta, observando a taça entre os dedos. — Um momento em que eu não me sinta só uma mulher quebrada.
Jonathan segura a mão dela, por cima da toalha de linho.
— Você nunca foi só dor, Marta. Você é força. Você é… esperança em carne viva.
Ela sorri, com os olhos marejados.
— E você é o quê, então?
— Eu? Ele ri de canto.
— Eu sou só o homem que quer te ver sorrindo de novo. Que sonha em te dar uma nova lembrança pra cada lágrima que você já derramou.
O riso dela vem sem pedir permissão.
— Isso foi brega demais, Jonathan…
— Talvez… Ele rebate, erguendo a taça para um brinde.
— Mas é verdade.
Eles brindam. O som do cristal é suave, quase íntimo.
Depois do jantar, caminham sob a marquise da varanda. A chuva diminui, e o ar cheira a terra molhada e saudade. Jonathan para, puxa-a devagar pela cintura, e os olhos deles se encontram sob a luz suave do lampião.
— Marta… posso te dizer uma coisa? Pergunta ele, sério agora.
— Pode, ela sussurra, o coração acelerando.
— Eu não sei onde tudo isso vai dar. Não sei se a vida vai nos deixar ser o que poderíamos ser. Mas o que eu sinto por você… não é passageiro. Não é distração. É algo que me faz querer ser melhor, só para estar à tua altura.
Ela inspira, e por um momento o tempo para.
— Eu não tenho como te prometer o amanhã, Jonathan. Mas hoje… eu também te sinto aqui dentro. E por mais confuso que seja, você é uma das únicas coisas que não me machucam.
Ele a beija na testa, demorado. Um gesto de amor mais puro do que qualquer palavra.
Os dois seguem andando até o estacionamento, onde seus carros os esperam como dois caminhos diferentes, mas alinhados.
— Vai para casa bem? — ele pergunta, encostado na porta do próprio carro.
— Vou, ela responde.
— Mas obrigada por hoje. Foi… quase como respirar de novo.
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