O clima dentro do apartamento de Ravi é denso como fumaça de pólvora antes do disparo. Jonathan está ali, sentado no sofá, firme, mas com o olhar perdido, como se cada segundo de espera fosse uma navalha. Ao fundo, o chiado suave da cafeteira quebra o silêncio, e o cheiro amargo do café recém passado tenta, em vão, acalmar os nervos expostos dos dois.
Ravi segura o celular entre os dedos, como se soubesse que, dali em diante, não haveria mais retorno. Respira fundo. Os olhos se encontram com os de Jonathan por um instante, e há um entendimento mudo ali, é agora ou nunca.
Ele gira os ombros, se afasta da bancada e toca no contato que importa.
Derick Horn.
A ligação toca duas vezes. Do outro lado da linha, uma voz rouca, ligeiramente desconfiada, atende.
— Fala.
— Derick... é sobre o bebê.
Ravi vai direto ao ponto, sem rodeios.
— Não dá mais para esperar. A gente tentou seguir pelo caminho certo. Pelas vias “legais”. Mas agora... mudou. Tudo mudou.
— O que mudou?
— Jonathan está aqui comigo. E ele topa pagar o preço. Seja qual for.
Ravi caminha devagar até a janela, os olhos fixos na cidade lá embaixo, como se buscasse ali a criança desaparecida.
— A gente precisa da máfia.
Do outro lado da linha, há um silêncio curto, mas carregado.
— Você tem ideia do que tá pedindo?
— Tenho. E ele também tem. Já passamos da linha. Não queremos justiça. Queremos o filho de volta. Custe o que custar.
Derick suspira, e o som parece o rosnar de um lobo velho prestes a entrar na mata.
— Se eu entrar com vocês nisso... se eu envolver o Don, não tem mais volta. Vocês vão ter que seguir regras que não têm perdão. Vai ter lealdade cega. Vai ter sangue. E o nome da máfia... jamais será citado. Nem num sussurro, nem sob tortura. Nem que o mundo inteiro arda.
Ravi assente com a cabeça, mesmo que Derick não possa ver.
— Aceitamos. Todas as condições. O nome da máfia vai morrer nos nossos lábios, se for preciso. Mas queremos o bebê de volta. Não importa quanto, nem como.
— Então, escuta bem. A voz de Derick desce um tom, como se um segredo antigo estivesse sendo revelado.
— Eu vou acionar o Don. E ele vai mover os fios certos, chamar os homens certos. Mas conhecendo o David... ele só entra de cabeça depois de uma coisa.
— O quê?
— Ele vai querer olhar nos olhos do pai. Vai querer sentir a dor. Vai querer saber se vale a guerra e se o pai desse bebê tem culhõoes para sustentar uma aliança com a máfia.
Ravi encara Jonathan mais uma vez. O homem que já perdeu tudo, menos a esperança.
— Ele vai olhar nos olhos certos, diz, firme.
— E vai ver exatamente o que precisa ver.
Derick não responde de imediato. Apenas diz, num tom mais sombrio:
— Então se prepara. Porque quando o Don entrar... o inferno entra junto.
A ligação termina. E no silêncio que se segue, Ravi só consegue pensar em uma coisa:
Quanto de si Jonathan ainda terá de perder… para ter o filho de volta?
A ligação de Ravi mal termina e o silêncio pesa no ar, denso como fumaça de pólvora.
Derick encara o celular por dois segundos, e no terceiro já está discando para o único número que importa quando o mundo vai começar a arder, Don David Lambertini. O homem que resolve tudo, com dinheiro, poder e ou sangue.
— Temos um caso, diz Derick direto, assim que ouve a voz grave do Don do outro lado.
— Tão grave assim para me ligar antes das sete?
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