O ar dentro do escritório principal da mansão Schneider está pesado como chumbo. As paredes pareciam absorver o que acabara de ser dito, como se a própria estrutura da casa compreendesse que ali, naquele instante, algo maior estava sendo selado. As sombras da tarde invadiam o ambiente pelas janelas semicerradas, desenhando linhas cortantes de luz sobre os rostos tensos dos dois homens no centro da sala.
Don David Lambertini e Jonathan Schneider estão frente a frente. Dois líderes acostumados a mandar, a impor, a decidir. Mas, naquele momento, o que os une é mais forte do que o ego, é o instinto de proteger as suas mulheres. Suas famílias.
— Aqui, respeito não é um favor, diz David, com a calma de quem sabe que não precisa levantar a voz para ser temido. Sua voz é grave, firme, irredutível.
— É uma regra.
Ele pausa, deixando que o peso de cada sílaba afunde entre os móveis pesados e os seguranças em silêncio absoluto.
— E a Lizandra... ninguém ousa cruzar essa linha. Não por medo. Por respeito. Porque, quando se trata dela... eu não sou racional.
Jonathan, que conhece bem o próprio impulso explosivo, solta um leve sorriso, quase cúmplice. É um gesto pequeno, mas carrega uma compreensão silenciosa, quase tribal.
— Você é ainda mais louco do que eu. E olha que eu achava que tinha batido o limite da possessividade.
David arqueia uma sobrancelha, como quem aceita a provocação. Mas não responde. Não precisa. A verdade está nos olhos e nos homens que ambos já foram forçados a derrubar para proteger quem amam.
O silêncio que segue é espesso. Não desconfortável, mas cheio de códigos não ditos. Até que David desfaz os braços cruzados e muda o tom, mais denso, quase sombrio.
— Agora... preciso ver a Marta, diz.
— Preciso entender o quanto ela pode suportar. O quanto da dor ela consegue carregar antes de desmoronar. E, principalmente, o quanto dessa dor ela consegue olhar nos meus olhos e sustentar.
Ele faz uma pausa breve. Os olhos, até então frios, se suavizam por um instante.
— Ela sofreu demais. Você não precisa me dizer. Eu senti. Quando estava naquele quarto com a minha mulher, eu ouvi os silêncios da Marta. Eu senti... ela grita por dentro. Mesmo quando tenta parecer inteira.
Jonathan se endireita, protetor, atento.
— E o que pretende fazer? Pergunta, com cautela.
David segura o olhar.
— Vou ser suave. Ou tentar ser. Não quero assustá-la. Eu sei lidar com monstros. Mas não com mães feridas. E ela… ela é as duas coisas ao mesmo tempo.
Jonathan avalia por um momento. Depois, assente com um leve gesto. Não porque confia completamente. Mas porque sabe que, naquele momento, David é a única chance real que têm de encontrar o filho que lhes foi roubado.
Ele sai em silêncio, e minutos depois a porta se abre.
Marta entra.
Nos braços, carrega Lua, que dorme com a inocência de quem ainda desconhece o peso do mundo. O ar da sala muda. Todos os músculos de Jonathan se retesam num reflexo involuntário, protetor. O olhar dele permanece fixo em David, pronto para intervir se necessário.
Mas Lizandra se adianta, suave como uma brisa antes da tempestade.
— Ela é perfeita, diz, com um sorriso doce nos lábios e um brilho de ternura nos olhos.
— Tem os seus olhos, Marta.
Marta não recua. Apenas sorri.
Ela segura a filha com mais firmeza e mantém o olhar cravado em David. O predador. Ela reconhece um quando vê. E David não disfarça o que é. Mas, naquele momento, há algo mais em seu semblante, uma dor antiga, talvez, ou um respeito silencioso.
Ele não sorri. Apenas fala, com a mesma voz que tantas vezes já selou destinos.
— Viemos buscar o seu filho.
— E, quando começarmos... não há mais retorno.
Jonathan respira fundo, como quem mergulha.
— Ravi nos contou... vocês operam fora do sistema. É disso que precisamos.
David faz um gesto discreto com a cabeça, reconhecendo.
— Derick me contou sobre o bebê. Jeff. Um caso absurdamente bem costurado, um crime cheio de camadas. O tipo de coisa que o sistema não tem estrutura ou coragem para tocar.
Ele fecha brevemente os olhos, como se enxergasse o rastro do que foi escondido.
— E onde o Estado falha... nós entramos.
Jonathan troca um olhar com Marta. Ela está pálida, mas seus olhos ardem. Está em guerra. E ainda assim... firme.
David continua.
— Ravi nos deu o panorama. Vocês buscaram todas as vias legais. Hospital. Registros. Nada.
Ele sorri de canto, um sorriso sem alma.
— Nós não usamos o que é possível. Usamos o impossível, tudo que está fora do radar.
Marta estreita os olhos.
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