A noite não chega. Ela se impõe.
Não cai como um manto. Ela invade, se infiltra, rasteja por baixo das portas como fumaça densa, carregando um peso que não pertence ao tempo, mas à história que se desenrola naquela casa marcada por perda, angústia e agora… por um novo tipo de poder. O ar da mansão Schneider não é mais o mesmo. Há eletricidade nele. Uma energia vibrante, quase palpável, que percorre os corredores como um sussurro prestes a virar grito. Algo mudou. Algo grande está prestes a acontecer.
David Lambertini está ali. Não como hóspede, não como aliado. Mas como o Don.
Ele não pede licença, não agradece, não sorri à toa. Ele toma o espaço, domina o ambiente com a naturalidade de quem nasceu para o comando. Seu olhar é uma sentença. Sua voz, uma execução em câmera lenta. Ao lado dele, Lizandra é o contraponto perfeito, delicada, observadora, bela demais para ser subestimada. Mas ali, naquela mansão, ninguém mais se ilude. A doçura dela é uma lâmina fina, corta sem fazer barulho.
Marta se mantém firme, segurando Lua junto ao peito, como uma loba protege a cria. Ela não se intimida. Nem com o peso da presença de David, nem com o cheiro de guerra que agora se espalha pelas paredes da mansão. Ela dá um passo à frente. Sua voz é firme. Seus olhos, uma tempestade.
— Eu não vou pedir que pare.
Todos no ambiente se calariam, se não fosse o silêncio absoluto que já reinava. Marta continua:
— Só quero uma coisa... justiça. Se o meu filho estiver com pessoas inocentes, com quem não sabia, com quem acreditou estar fazendo o bem... então seja justo, por favor.
Ela respira fundo. O olhar endurece. E o que sai em seguida carrega a fúria de todas as noites mal dormidas.
— Mas se ele estiver com quem me arrancou o filho enquanto eu estava em coma... com quem me roubou com consciência e crueldade... então me diga quem é. Porque, se for possível, eu mesma quero matar essa pessoa com as minhas próprias mãos.
A sala treme.
David a encara como quem observa um novo guerreiro surgir diante dos olhos. Por um instante, seu semblante se altera. Não há sorriso, mas há algo ali… respeito. E um aceno sutil com a cabeça confirma, ela falou a língua certa.
— Você entendeu o jogo, Marta.
Ele então se ergue, com a lentidão calculada de quem sabe o peso de cada gesto. Tira o celular do bolso, digita rapidamente, e sem sequer levantar os olhos, diz com voz gélida:
— Derick, envie uma mensagem ao grupo. O Don aceitou a missão.
Derick, que até então observava quieto, se confunde.
— Mas... você é o Don.
David levanta o olhar. Um olhar que bastaria para parar o tempo.
— E então?
— Entendido.
Enquanto a mensagem percorre o submundo que só David conhece, os soldados da segurança, estrategicamente posicionados, já começam a se mover. Nenhum barulho. Nenhuma pressa. A guerra silenciosa já começou.
Jonathan se aproxima de Marta, envolvê-la é instinto, não decisão. Ele sente o corpo dela trêmulo, mas não de medo. De prontidão. Lua resmunga, como se captasse no ar que algo importante se move.
— Quanto tempo até começarem? Ela pergunta, voz baixa, cautelosa.
— Já começou, senhora, responde David, sem alterar o tom. — Neste exato segundo, os seus inimigos já estão sendo observados.
A frase cai como um trovão abafado. Definitiva. Mortal.
David então caminha até o centro do escritório. Não há trono, mas ele se comporta como se estivesse sentado em um. Ergue os olhos para Jonathan e declara:
— A segurança da mansão não está dispensada. Está, a partir de agora, sob o domínio da família Lambertini. Cada câmera, cada entrada, cada metro quadrado deste lugar... me pertence.
Jonathan apenas acena. Ele entende. Não há espaço para orgulho. Há espaço apenas para salvar Jeff.
— E que fique claro, continua David, virando-se para os soldados, respeitamos mulheres. Não porque é bonito, mas porque é lei. E quem quebrar essa lei, seja dos meus ou dos seus, vai sangrar por isso.
Pausa. Ele vira o rosto na direção de Lizandra.
— Da mesma forma, nenhum homem aqui se aproximará da minha esposa. Não por ela não saber se defender... ele sorri de canto, provocando o brilho nos olhos dela ...mas porque todos sabem que o respeito começa nos olhos. E termina no sangue, se necessário.
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