Após a saída das mulheres, o escritório de Jonathan fica cada vez mais tenso, mesmo com ar condicionado a dezesseis graus, está quente, caótico, como uma uma panela de pressão prestes a explodir.
Após longos minutos de silêncio David então pergunta, voltando o foco:
— E a Cassandra? Até onde ela chegou?
— Longe demais. Jonathan responde com amargura.
— Quando ela soube que eu estava com a Marta, Cassandra surtou de vez. Começou a persegui-la pelos corredores da sede, fazia comentários maldosos na frente de outros funcionários. Humilhações sutis, mas frequentes. E depois... foi o estopim.
— O que aconteceu?
— Marta foi ao banheiro durante o intervalo de uma reunião e eu fui pegar um café. Cassandra entrou atrás da Marta e isso chamou a minha atenção. A confrontou. Disse horrores. Chamou ela de interesseira, de vagabunda, de prostituta e outras coisas, insinuações baixas... Mas o que Cassandra não sabia é que havia câmeras inclusive nas áreas comuns dos banheiros, nos corredores e microfones de segurança por todo o andar.
David franze o cenho.
— Você tem essas gravações?
— Sim. Estão nos arquivos do jurídico. Ouvi as insinuações de Cassandra e após um tempo, um forte estalo, um tapa, então entrei de vez no banheiro, me descontrolei e peguei Cassandra pelo pescoço, só soltei quando ouvi os gritos da minha irmã, a Islanne, que é vice presidente do grupo Schneider, que a demitiu por justa causa na mesma hora. Ela saiu da empresa em desgraça.
David assente lentamente, o olhar frio, calculista.
— E mesmo assim, você acha que ela não é capaz de roubar uma criança?
Jonathan hesita mais uma vez.
— Eu... Eu acho que ela é doente, sim. Obcecada, desequilibrada. Mas... ladrões de bebê? Isso é outro nível. Não sei se ela chegaria a tanto.
David se aproxima, os olhos escuros cravados nos de Jonathan, a voz firme, cheia de aço:
— Pois eu acho que qualquer um pode ter roubado esse menino. Cassandra, um médico comprado, uma enfermeira fanática ou até alguém infiltrado. Até que se prove o contrário, ninguém está limpo para mim. Entendeu?
Jonathan engole em seco, assentindo.
David então se vira, volta a encarar o aparelho sobre a mesa. Sua voz vem baixa, mas carregada de promessas:
— Se for preciso, Jonathan... eu vou abrir as portas do inferno. Mas vou trazer seu filho de volta. Custe o que custar.
O silêncio volta a tomar conta da sala. Mas não é mais um silêncio vazio.
É o silêncio de quem prepara a guerra.
O ar no escritório parece pesar mais que o normal. Don David permanece em pé, ainda com o olhar cravado no celular sobre a mesa, de onde saem as vozes abafadas de Marta e Lizandra. Jonathan, agora visivelmente tocado pelas lembranças que ressurgiram com força brutal, recosta-se na lateral da estante, buscando recompor o autocontrole. Mas David o observa com a frieza de um assassino frio e experiente.
— Fica fora disso, diz o Don, a voz seca como lâmina.
— Você está nisso até o pescoço. E envolvimento emocional atrapalha decisões.
Jonathan ergue os olhos, protestando em silêncio, mas David continua:
— Eu entendo o que você sente. E é por isso que precisa dar um passo atrás. Marta agora deve está no quarto com Lizandra. Ela precisa de apoio, estabilidade... e isso, só você pode dar.
Jonathan parece relutar, mas acaba assentindo com um gesto contido. David não sorri, não afaga. Ele apenas vira as costas e caminha até a porta.
Minutos depois, o Don inicia a sua reunião, Ravi, Derick e Hernan o aguardam ao redor da longa mesa escura, cada um com seu semblante atento. David se aproxima sem dizer uma palavra e se posiciona na cabeceira.
— Ravi, começa, o tom direto e firme.
— Você tem condição emocional de estar nessa linha de frente?
O hacker não hesita.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino