Se não fosse o boi mugindo no fundo, Miguel diria que Eduardo estava prestes a desmaiar. Porque ali, no meio do calor do curral e do desespero paterno, o homem que nunca teve medo de nada parecia prestes a se dissolver em angústia só por ver sua grávida dirigindo um caminhão. Miguel quase achou que ia precisar usar RCP no próprio cunhado — e nem era de um infarto, era de puro ciúmes misturado com pânico.
Agora, com a poeira baixa e o sol subindo, Miguel gira o volante do carro com calma rumo à clínica recém-instalada no centro da cidade. O consultório da doutora Mariana Rossi. Sua namorada. Sua médica favorita. E, nas últimas semanas, sua ponte entre o amor e o caos.
Estaciona, ajeita a camisa, passa a mão no cabelo e entra. O ambiente tem aquele cheiro de lavanda misturado com álcool gel. Profissional e acolhedor, como ela. Ele cumprimenta a recepcionista, que já o conhece.
— Bom dia, Miguel Maia! — ela brinca, com um sorriso.
— Só Miguel, por favor. O único diploma que eu tenho é o de aguentar Eduardo surtando.
A moça ri e aponta com o queixo para a porta entreaberta.
— A doutora tá terminando uma consulta. Você pode esperar ali na salinha dos acompanhantes.
Miguel obedece, mas nem senta. Fica andando devagar, lendo os quadros na parede, imaginando Mariana ali todos os dias, cuidando de mulheres, bebês, famílias. Orgulha-se dela, de verdade. Do jeito como se equilibra entre ciência e carinho. Do jeito como carrega tudo nos ombros com leveza.
Minutos depois, a porta do consultório se abre. Uma gestante sai sorrindo, acompanhada de uma mãe ainda mais emocionada. Mariana aparece atrás, prancheta na mão, jaleco aberto, um coque no alto da cabeça.
— Pode entrar, doutor do coração, ela diz, piscando.
Miguel entra, fecha a porta e, antes de qualquer coisa, a beija com suavidade. Ela sorri contra os lábios dele.
— Veio se consultar ou só ver se eu tô viva?
— Os dois. Ele senta no divã lateral. — E talvez pedir uma receita de calmante… para o seu irmão.
— Ai, meu Deus. Mariana se encosta na mesa. — O que ele aprontou?
— Não foi ele. Foi a Darlene. Miguel gesticula como se precisasse reviver o drama.
— A mulher resolveu pegar o caminhão boiadeiro, sozinha, para descarregar no matadouro. Grávida. Cinco meses. E o Eduardo? Entrou em modo sirene. Quase jogou café na parede, esmurrou o ar e saiu dirigindo como se fosse buscar um refém.
Mariana tapa a boca, mas não segura o riso.
— Mentira…
— Eu juro! Miguel levanta a mão. — E quando chegou lá… Darlene tava plena, com óculos escuros, suco bem gelado na mão, cantando Zezé Di Camargo como se fosse uma road trip.
Mariana se dobra de tanto rir.
— Eu sabia! Sabia que essa mulher ia aprontar alguma. Mas o caminhão foi demais.
— E o Eduardo tava roxo. Roxo! Achei que ia parir no lugar dela.
— Coitado. — Mariana ainda ri, mas assume um tom mais sério. — Mas falando sério, Miguel… ela precisa pegar leve. Mesmo que esteja se sentindo bem. É o segundo trimestre, a energia volta, os enjôos somem… mas isso engana. Ela precisa de limites. Estresse e esforço excessivo nessa fase podem trazer riscos.
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