Se há algo mais perigoso do que um inimigo armado, é um Don com ciúmes e tempo livre. E Don David Lambertini está, naquele momento, em combustão interna.
Ele circula a sala de guerra como um tigre preso em jaula, terno impecável, mas a mente em ebulição. Ravi e Derick estão concentrados, teclando como dois gênios loiros invocados, e tudo corre bem. Bem demais. Só que Lizandra… sumiu.
E o problema não é exatamente o sumiço.
É o silêncio.
David está de pé, braços cruzados, olhando o monitor de segurança sem realmente enxergar. Os olhos azuis faiscam com aquela inquietação tipicamente masculina de quem pensa que a mulher foi comprar pão, mas no fundo acredita que ela pode ter fugido para Paris com um diplomata turco.
Ele pigarreia, sem motivo. Coça o queixo, sem coceira. E então, como quem está apenas “checando algo trivial”, desliza o olhar até o canto da mesa onde o celular dele repousa, conectado ao sistema interno.
— Só por precaução, murmura para si mesmo, como se precisasse se justificar.
Discretamente, aproxima-se e digita a senha como quem aciona um míssil e ativa a escuta do celular dela..
A voz dela surge, clara, suave, mas o conteúdo... o conteúdo é um soco direto no estômago do Don.
— “Jonathan, Marta, agradeço sua hospitalidade... mas o cuidado que Marta precisa agora é mais interno que externo.”
— “Obrigado, Lizandra. Eles estão todos no meu escritório, lá embaixo.”
David trava.
É um colosso sendo atingido por um grão de arroz, mas que, por algum motivo, explode como dinamite.
A mandíbula dele range. O maxilar trinca. As têmporas pulsam. Ele respira fundo três vezes. Nada funciona.
— Escritório do Jonathan? Ele rosna. — Escritório. Do. Jonathan?!
O tom dele começa num sussurro incrédulo e termina num trovão abafado, o que faz Hernan, parar e encará-lo como se tivesse visto um urso polar com crise de TPM.
— Don...? Hernan tenta, cauteloso.
David gira o pescoço lentamente, como uma garça com raiva, e responde com os olhos quase vermelhos de fúria:
— Ela está no quarto com Jonathan.
— Jonathan Schneider? Hernan confirma, já dando dois passos para trás.
David não responde. Apenas aperta os punhos com tanta força que os nós dos dedos embranquecem. O ciúme não é uma faísca. É uma tempestade de granizo com labaredas.
— Quem ela pensa que é? Florence Nightingale versão mafiosa? Vai curar traumas com café e empatia agora?
Ele começa a andar de um lado para o outro.
— “Hospitalidade”, ela disse! E “lá embaixo”... LÁ EMBAIXO AONDE, HERNAN? EMBAIXO DE QUÊ? DE QUEM?!
— Don… a Lizandra estava lá no quarto com a Marta e foi você mesmo quem mandou Jonathan subir e ficar com a mulher dele.
— HERNAN! DON! DON DAVID LAMBERTINI! Eu mato e salvo empresas com a mesma frieza. Eu não aceito “visitas casuais” no quarto de outro homem. Não a minha mulher!
Hernan apenas faz o sinal da cruz.
David então vira os olhos para o alto e balança a cabeça, como se pedisse força aos antepassados mafiosos.
— Jonathan... eu juro, se ele tiver servido café sem minha permissão...
Ele não termina a frase. Em vez disso, volta à mesa, taca o celular no canto e afunda no encosto da poltrona como um furacão sentado.
— Me avise quando ela voltar. Ou quando a Terra parar de girar.
Mas antes que Hernan possa responder, três toques suaves soam à porta.
Quando a abre, Lizandra sorri, como quem volta para casa. Mas o Don não sorri. Apenas a puxa com brutalidade controlada, enfia o rosto em seu pescoço e inala como quem precisa respirar para viver.
— Fique perto de mim, diz, a voz rouca.
— Por Deus, Lizandra... me poupe de um surto.
Ela ri, envolta no gesto, como quem compreende exatamente o que aquilo significa.
David não parece convencido. Seus olhos percorrem as telas, como se buscassem uma falha, uma rachadura no que Ravi afirma.
— Então... ele diz, devagar, se existe algum inimigo real, ele não está no passado da Marta. Está no passado ou presente do Jonathan.
— Isso eu acredito, Ravi confirma.
— O Jonathan é poderoso. Fez muitos cortes duros nos últimos anos no grupo Schneider. E quando se tem poder, sempre se faz inimigos. É mais provável que o alvo nunca tenha sido Marta... mas ele. E o preço foi o filho.
David caminha lentamente até uma das janelas, onde vê o jardim iluminado pela lua, a mansão cercada por silêncio. Então gira, firme:
— Ravi... invada o sistema do grupo Schneider.
Derick ergue uma sobrancelha, surpreso com a ordem.
Mas Ravi não se altera.
— Não preciso invadir. Eu sou o sistema de segurança do grupo. Tenho acesso a tudo. Servidores internos, banco de dados, e-mails, câmeras. Desde que entrei, eu reestruturei tudo com segurança em nuvem e criptografia militar.
— Então comece com os arquivos de funcionários demitidos. Quero as últimas fichas. Veja se alguém saiu revoltado. Se houve ameaças, comportamento estranho, alguma pontinha de vingança não digerida.
— Certo, responde Ravi.
— Vou cruzar a lista de desligamentos dos últimos cinco anos com ocorrências disciplinares, notificações internas, histórico de denúncias e... se houve algum caso de sabotagem ou espionagem industrial.
— E teve? David pergunta, direto.
— Que eu saiba, não. Mas agora vou verificar com olhos de guerra.
Don David volta a se calar. Lizandra segura o braço dele, como quem lê nos olhos que algo ainda o perturba. Ele respira fundo, mas ainda assim, a tensão se agarra à pele como fumaça densa.
Enquanto os dois hackers mergulham nos labirintos dos dados da Schneider, David observa os nomes surgindo na tela como fantasmas de um passado que talvez nunca tenha sido enterrado.
Mas quem está escondido ali dentro?
E até onde alguém seria capaz de ir… para destruir uma vida inteira?

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