A tensão não entra pela porta. Ela já está sentada à mesa.
É como se a mansão Schneider, acostumada a respirar a dor silenciosa do desaparecimento, agora inspirasse guerra e expirasse obediência. A atmosfera é espessa, carregada, como se cada centímetro do ar tivesse sido invadido por um comando não verbal, algo mudou para sempre. E quem ainda não entendeu isso, vai entender hoje.
Na grande sala de reuniões da mansão, um grupo de homens uniformizados ocupam os seus lugares em silêncio. Alguns se entreolham com inquietação contida. Outros simplesmente mantêm a cabeça erguida, tentando antecipar o que está por vir. Não é um encontro comum. Não há café, não há sorrisos, só olhos atentos e tensão no peito. No centro, Jonathan Schneider se levanta.
O homem carrega nos ombros o peso de tudo que perdeu e a responsabilidade de tudo que ainda pode salvar. Mas o que impressiona não é a dor, é o comando. Quando ele fala, não há espaço para dúvida.
— A partir de agora, começa, olhando diretamente para os seguranças à sua frente, por tempo indeterminado, todos vocês passam a responder ao senhor David Lambertini.
O silêncio se torna ainda mais espesso.
— Exceto Isadora, continua Jonathan, virando-se ligeiramente para a ruiva de expressão fria, sentada ao fundo.
— Ela permanece exclusivamente designada à proteção de Marta e Lua. Ordem direta minha. E que ninguém ouse interferir nessa decisão.
Isadora apenas assente com um leve aceno. Não sorri. Não precisa. Ela sabe que, naquele momento, tem o cargo mais sagrado da casa.
Jonathan então volta-se para o restante do grupo.
— A segurança eletrônica segue sob comando de Ravi. Mas a partir de agora, ele opera em cooperação direta com Derick. Qualquer falha, qualquer anomalia ou sinal suspeito será reportado a ambos. E por fim, tudo chegará até mim... ou até David.
Jonathan faz uma pausa, os olhos escuros percorrendo o rosto de cada homem presente. A próxima frase vem baixa, mas cortante.
— Se alguém aqui não se sentir confortável com isso, essa é a hora de sair, sem prejuízo algum.
Ninguém se move.
— Então estamos entendidos. Passo agora a palavra para aquele que, por mérito e capacidade, assumirá a liderança estratégica de toda a segurança desta casa. Senhor David Lambertini.
O silêncio que se segue é respeitoso. Mas não é vazio. É o tipo de silêncio que precede grandes decisões e grandes homens.
David se levanta com a calma dos predadores. Sua presença não é barulhenta, é dominante. Ele não precisa se impor, a sala se curva sozinha. Os olhos azuis varrem cada canto do salão, como se gravassem tudo para sempre.
— Boa tarde a todos, começa, a voz firme, grave, sem rodeios.
— Não estou aqui para tomar o lugar de ninguém. Estou aqui para garantir que a minha família, e a de vocês, continue inteira.
Ele caminha alguns passos à frente, com as mãos cruzadas nas costas.
— Eu venho de outro mundo. Um mundo onde erros custam vidas. E onde segundos decidem se um filho volta para casa... ou vira memória.
Pausa.
— Não estou exigindo que sejam mafiosos. Não precisam pensar como eu, nem agir como os meus soldados. Mas, enquanto responderem a mim, vão agir com a mesma eficiência que os meus agem. Entendido?
Todos assentem. Alguns com vigor. Outros, engolindo em seco.
— Sei que mudanças são difíceis no início, continua David.
— A rotina de vocês será ajustada. As rondas serão mais rigorosas. O monitoramento será 24h. Ninguém entra, ninguém sai, sem que vocês saibam quem, como, por quê e há quanto tempo.
Ele aponta para dois dos seguranças sentados à esquerda.
— Vocês dois assumem as entradas laterais. Dobradas. Revezamento a cada três horas. Câmeras atualizadas sob responsabilidade do Ravi, em conjunto com Derick.
Depois aponta para o fundo.
— Os quatro da retaguarda passam para a ala externa do jardim, a partir de hoje. Os fundos são vulneráveis. Não serão mais.
Anotações começam a ser feitas, discretamente. A mente dos homens trabalha rápido, não por medo, mas porque entendem que o homem diante deles sabe exatamente o que está fazendo.
— Uma coisa precisa ficar clara, diz David, parando no centro da sala. — Marta Schneider é sagrada. A filha dela, Lua, é um milagre. E minha esposa, Lizandra... é a minha vida. Quem ousar olhar para qualquer uma dessas mulheres com qualquer intenção que não seja respeito... perde os olhos.
A frase não é metáfora.
David ergue o queixo.
— Literalmente.
A tensão se espalha como um incêndio silencioso. Mas ninguém questiona. Porque todos ali, mesmo os mais céticos, sabem o que ele representa. O Don não fala por falar.
Um dos seguranças ergue a mão, cauteloso.
— Senhor Lambertini... como será a comunicação com o senhor ou com o senhor Derick? Temos acesso direto?
David assente.
— Haverá um canal interno. Sigilo absoluto. Qualquer alerta de risco, mesmo que mínimo, será priorizado. Vocês terão uma linha exclusiva, codificada. Ninguém mais saberá do que se trata. Ravi vai configurar isso ainda hoje.
Outro segurança se manifesta:
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