O som vem limpo, cortando o ar como uma lâmina afiada.
— Estarei em São Paulo em dois dias. Quero esse contrato ajustado até lá. Nos encontramos pessoalmente para finalizar e assinar tudo.
Ravi congela por um segundo. O dedo permanece suspenso sobre o teclado, o fone colado ao ouvido. A voz de Cassandra soa despreocupada, quase entediada, como se discutisse o menu de um restaurante. Mas ela está falando sobre milhões. Sobre fraudes. Sobre movimentações ilegais com um empresário que mal esconde a ansiedade na voz. E essa ligação… é o erro que vai custar caro.
Com a precisão que só a experiência dá, Ravi aciona um protocolo silencioso de rastreamento. Dentro de segundos, um ponto vermelho pulsa no mapa digital diante dele, a localização exata do celular de Cassandra. Coordenadas. Velocidade. Direção. Tudo ali, ao alcance de um clique.
— Don, chama ele, sem tirar os olhos da tela.
— É ela. Tenho a localização em tempo real. E ela acaba de marcar um encontro presencial em São Paulo, daqui a dois dias.
David surge na sala de jogos, que virou uma espécie de quartel general. Está com a expressão calma, mas o olhar... esse brilha com algo que só os que conhecem o submundo reconhecem. Fome de encerramento. De justiça. De vingança.
— Mostra. Ele se inclina sobre o ombro de Ravi, observa a tela por alguns segundos. Depois endireita a postura e fala como quem define o fim de uma guerra.
— Envia isso agora para a equipe em Matão. Eles vão segui-la. Quero tudo monitorado. Passo a passo. E no dia da viagem, a captura será feita num trecho da pista sem câmeras. Limpo. Sem testemunhas. Rápido.
— Quer que a polícia seja envolvida? Pergunta Derick, já antecipando caminhos jurídicos.
David nega com um leve gesto de cabeça.
— Ainda não. Primeiro, precisamos do que ela sabe. A confissão. O nome dos envolvidos. O paradeiro do menino. Depois... o que vier, será bônus.
Ele se aproxima mais de Ravi, o tom ainda mais baixo:
— Ninguém da casa precisa saber. Nem Jonathan. Nem Marta. Nem os pais dele. Evitar expectativas falsas é preservar o emocional dessa família. Só falamos quando tivermos resultados. Comprovados.
Ravi assente com respeito, já digitando os dados e enviando os protocolos de rastreio para a equipe.
Menos de quinze minutos depois, a confirmação chega.
— Equipe em Matão já está na cola dela. Ravi olha para David.
— Tudo sob controle.
David respira fundo, os ombros relaxam milimetricamente.
— Ótimo. Agora é esperar. E vigiar.
O Don se afasta da tela, os passos firmes e calculados. Mas, ao sair da sala, ele deixa para trás a tensão e mergulha na calmaria rara de uma casa que começa a se curar.
No jardim dos fundos, ele escuta uma risada infantil. É Lua, brincando sozinha no cercado de brinquedos, cercada por almofadas e bichinhos de pelúcia. As mãozinhas gordinhas batem palmas enquanto ela tenta alcançar um urso cor-de-rosa. A luz da tarde banha a cena com uma suavidade quase surreal.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino