Se há um lugar onde tudo pode parecer calmo enquanto o mundo pega fogo, é dentro da sala de reuniões da presidência do Grupo Schneider. Mas não por muito tempo.
O ar condicionado zumbindo sutilmente, as vozes dos acionistas reunidos em torno da grande mesa, e Jonathan Schneider tenta, com elegância e paciência, lidar com projeções de mercado e relatórios financeiros. A presidência ainda não esta oficialmente em suas mãos novamente, ele divide as responsabilidades com Islanne, sua irmã, e os pais, Afonso e Cátia, mas mesmo assim, o seu nome ainda faz peso quando fala.
E então que Monica entra...
Nada nela indica pressa. O salto alto ressoava firme no piso escuro, o blazer impecável sobre a blusa de seda creme. Ela cumprimenta a todos com um leve aceno e caminha com precisão até Jonathan. Se curva ligeiramente, como se fosse apenas lhe entregar uma pasta, mas murmura com firmeza:
— Incêndio controlado na linha de produção 4. Preciso que o senhor veja com os próprios olhos. Já estão lá os brigadistas e o pessoal da segurança do trabalho.
Jonathan já está de pé antes que alguém perceba a gravidade do que foi dito. Seus olhos se voltam aos acionistas, e ele fala com naturalidade:
— Peço que continuem sem mim. Um assunto técnico urgente na produção.
E sai, sem dar tempo para questionamentos.
***
O calor residual do incêndio ainda paira no ar quando Jonathan chega à área afetada. A fumaça fina se dissipa aos poucos, carregada pelos grandes exaustores industriais. Os bombeiros civis estão dispersos, alguns com roupas molhadas e sujas de fuligem. O som abafado de alguns rádios chiando, passos apressados e ordens trocadas preenche o ambiente.
— Todos fora da linha de produção até segunda ordem, diz ele com firmeza, pegando um rádio da mão de um dos líderes de turno.
— Quero um relatório completo da causa preliminar em duas horas. Nada vai voltar a funcionar aqui até que eu veja pessoalmente cada laudo técnico.
— Sim, senhor! Responde um engenheiro, engolindo seco diante da autoridade com que Jonathan comanda.
Não há pânico, mas a tensão é nítida. O incidente foi contido rápido, mas o impacto na rotina e na confiança é grande. Jonathan observa o local, os cabos parcialmente derretidos, os rastros negros nas paredes de metal, os olhares assustados dos funcionários.
Depois de confirmar com o chefe da brigada que não houve feridos, ele suspira e se afasta. Caminha em silêncio pelos corredores longos da fábrica até o elevador que o leva de volta à torre administrativa. Na sala da presidência, encontra seus pais e Islanne já reunidos.
— A situação está sob controle, ele informa, retirando o paletó e deixando-o sobre a poltrona.
— Foi um curto circuito num quadro antigo. Por sorte, ninguém se feriu. Mas vamos revisar toda a rede elétrica da ala 4, imediatamente.
— Que bom que ninguém se machucou, diz Cátia, colocando a mão no peito.
— Você vai almoçar aqui?
Jonathan sorri, cansado.
— Não. Vou para casa. Marta deve estar com a Lua agora... e honestamente, eu quero ver a minha filha. Me dá uma razão real para respirar.
— Eu vou também, diz Islanne, fechando o seu notebook com um estalo.
— Tô com saudades da minha bonequinha... e da minha cunhada. Sem contar que o Ravi deve estar lá. Não posso desperdiçar a chance de deixá-lo desconcertado.
Afonso e Cátia se olham e sorriem discretamente.
— Vamos todos, diz Afonso.
— Um almoço em família depois de um susto desses... é justo.
Enquanto isso, a cozinha da mansão Schneider é tomada por um fenômeno quase mitológico: união feminina em torno de panelas, risadas e caos controlado.
Marta e Lizandra estão lado a lado, como se se conhecessem há décadas. A amizade nasceu rápido, intensa, costurada por algo invisível, talvez a mesma dor, ou a mesma esperança.
— Se eu soubesse que a gente ia acabar cozinhando para um batalhão, tinha feito escala de revezamento, brinca Marta, mexendo um molho com cheiro de ervas.
— E eu pensei que você era toda fashion e delicada... provoca Lizandra, cortando tomates com precisão cirúrgica.
— Aí vem você com papo de ração, conversão alimentar e galpão climatizado para frango.
— Ué! Posso gostar de salto e também saber o ponto ideal da carne de frango, oras, responde Marta, rindo.
— Quero visitar esse seu sítio. Com o Don, Ravi, todo mundo. A gente passa uns dias lá, você mostra os galpões... e em troca, você vai para minha fazenda. É isolada, linda, e... ela sorri de canto, vou dar um presente inusitado para os gêmeos.
Marta para de mexer o molho e encara Lizandra.
— Você falou... gêmeos?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino