O amanhecer chega lento, como se o próprio sol hesitasse em iluminar o que está prestes a acontecer. O quarto onde Cassandra está é silencioso, exceto pelo som do seu próprio respirar pesado. Ela passou a noite inteira chorando sob o reflexo cruel do espelho, obrigada a encarar a si mesma. Cada vez que fechava o olho, a imagem do “antes” e “depois” no teto vinha como um golpe no estômago.
Não dormiu. Não conseguiu. Entre a dor das queimaduras abertas e o peso psicológico, cada minuto se arrastou como uma eternidade.
A maçaneta gira. A porta se abre devagar, e o homem que entra não precisa ser anunciado. O ar muda. A presença de David Lambertini preenche o espaço como se ele carregasse o peso de um mundo inteiro sobre os ombros e, naquele mundo, ele é o soberano absoluto.
Ele caminha até a beira da cama sem pressa, o olhar fixo nela. Cassandra sente seu único olho se encontrar com aqueles azuis intensos que, mesmo sem gritar, impõem obediência.
— Vejo que passou a noite se lembrando de quem você era… e entendendo o que você é agora, ele diz, a voz grave, pausada, como se cada palavra fosse medida.
Ela tenta manter a postura, mas a garganta queimada só permite um som rouco.
— Don… David… tenta, com um fio de voz. — Eu…
— Cale a boca. Ele ergue a mão levemente, e ela obedece.
— Não estou aqui para ouvir desculpas. Estou aqui para ouvir a verdade.
David pega uma cadeira e se senta ao lado da cama, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão. É um gesto quase casual, mas seu olhar não vacila nem por um segundo.
— Onde está Jeff Maia Schneider? Pergunta, como se fosse a questão mais simples do mundo.
O silêncio dela é uma resposta em si.
— Interessante… ele comenta, recostando-se.
— Você passou a noite encarando essa aberração que se tornou. Passou a noite se lembrando que eu, se quiser, posso acabar com o pouco que sobrou de você. E ainda assim, acha que pode me desafiar.
Cassandra respira fundo, tentando manter a calma.
— Não sei… arrisca.
Ele sorri, mas é um sorriso frio, sem calor humano.
— A pior mentira é aquela que insulta a inteligência de quem ouve.
Ele se inclina para frente, o rosto a poucos centímetros do dela.
— Você acha que eu vim até aqui sem saber quem você é? Sem saber o que fez?
Ela tenta falar, mas a garganta seca e queimada não colabora. Apenas um som rouco escapa.
— Não precisa responder, continua ele.
— Eu já sei que você não tem nada a me dizer hoje. Mas, ao contrário do que você pensa… eu não tenho pressa.
Ele inclina o corpo para frente, o rosto a poucos centímetros do dela.
— Meus homens já entraram nas suas contas bancárias. Todas elas. Sabe o que fizemos?
Um sorriso frio atravessa seus lábios.
— Transferimos cada centavo.
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