O telefone toca quando o dia já começa a se despedir. A voz do secretário municipal avisa que é o prefeito de uma das cidades do interior, envolvida até o pescoço no esquema de licitações fraudulentas que Cassandra comandava. Alan Moretti atende com a calma habitual, mas a inquietação se instala no instante em que ouve o tom carregado do homem do outro lado da linha.
— Doutor Moretti… preciso falar com você sobre a Cassandra.
A voz é grave, quase um trovão abafado, como se temesse ser ouvido por mais alguém.
— Você sabe onde ela está?
Alan se recosta na poltrona, franzindo a testa.
— Por que a pergunta?
— Porque ela sumiu! O prefeito dispara, já sem paciência.
— Tínhamos reunião marcada, ela ia trazer os novos contratos prontos, e simplesmente não apareceu. Liguei no escritório dela… fechado. O CNPJ da empresa de RH já está com baixa registrada na Receita Federal. Isso é sério, Moretti. Ela me deixou na mão! E não é só comigo. Outros prefeitos também tentaram falar com ela e nada. São mais de quinze dias sem dar sinal de vida.
Alan sente o estômago revirar. Quinze dias. Isso é tempo demais. Se fosse um desaparecimento controlado, ela teria dado notícias. Cassandra sempre foi vaidosa demais para se esconder por tanto tempo sem um jogo em andamento.
— Você é amigo dela… o prefeito insiste.
— Não me diga que não sabe onde ela se meteu.
— Não sei, Alan responde, seco, tentando controlar o tom.
— Pois trate de saber, Moretti.
A voz do prefeito se torna uma ameaça velada.
— Porque se isso explodir, vai respingar em todos nós.
O clique do desligar ecoa no ouvido de Alan como um tiro abafado. Ele fica ali, com o celular ainda na mão, encarando o vazio do gabinete. O relógio marca o fim do expediente, mas ele não sente vontade de ir para casa.
Um peso incômodo se instala no peito. Uma lembrança latejante. Uma verdade que ele nunca ousou pronunciar em voz alta.
Vítor não é apenas o seu filho. Ele é Jeff Maia Schneider!
O bebê que Jonathan e Marta choram por meses, que ele próprio ajudou a sumir para sempre. O golpe mais certeiro que conseguiu dar no seu maior inimigo. No início, foi apenas isso, vingança. Um ato frio, calculado, para arrancar de Jonathan o que nenhum dinheiro poderia devolver.
Mas o tempo, cruel como sempre, foi alterando as regras do jogo. O menino cresceu sob seu teto, chamou-o de papa, agita os bracinhos e sorri quando o vê. Agora, Alan sente algo que nunca quis sentir, o amor verdadeiro.
E é esse amor que o apavora.
Porque se alguém descobrir… se Jonathan souber… nada vai impedir que ele arranque o seu filho, o seu Vítor de sua vida.
Se a verdade vier à tona, o que restará?
A rua lá fora começa a se encher de sombras. O bar, antes quase vazio, agora murmura conversas ao fundo. Alan permanece no mesmo lugar, imóvel, como se qualquer movimento pudesse quebrar o frágil equilíbrio que ainda sustenta sua vida.
Outro gole. Mais um. Ele quer se punir com cada dose, talvez para encontrar coragem no fundo do copo. Mas a coragem não vem. Apenas mais perguntas.
Onde está Cassandra?
Quem a pegou?
E quando… não se, mas quando ela falar… o que dirá sobre ele?
Alan segura o copo com força, os nós dos dedos esbranquiçando. A bebida balança, quase transborda. Pela primeira vez em muito tempo, ele não tem um plano. Não tem para onde correr.
O medo não é mais uma sombra distante. É uma presença constante, sentada ao seu lado, respirando no seu ouvido.
E agora, cada minuto que passa é uma contagem regressiva para o momento em que o segredo mais sujo da sua vida pode se tornar público.
A questão é, ele terá tempo para reagir?
Ou quando finalmente se mover, já será tarde demais?

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