O amanhecer chega lento, mas dentro do quarto de Cassandra o tempo parece não existir. O espelho no teto continua refletindo o horror que ela se tornou, obrigando-a a encarar cada detalhe da própria destruição. A foto de “antes” e “depois” ao lado parece rir dela, zombando de tudo o que perdeu. O corpo lateja, as feridas abertas pela crueldade do enfermeiro ainda ardem como se estivessem sendo queimadas de novo.
O som dos passos pesados no corredor é inconfundível. O Don está voltando.
A porta se abre e David Lambertini entra como se o espaço fosse dele desde sempre. O ar muda. Ele não carrega pressa, mas a calma mortal de quem já tem todas as peças no tabuleiro.
— Dormiu bem, Cassandra? Pergunta com um tom quase educado, mas carregado de sarcasmo.
Ela não responde. O silêncio é a única arma que ainda lhe resta, mesmo que seja uma arma inútil diante dele.
David se aproxima da cama, coloca um envelope grosso sobre a mesa de cabeceira e puxa uma cadeira para sentar. Seus olhos a examinam como um predador que mede o cansaço da presa antes do ataque.
— Recebi mais relatórios esta madrugada, diz, abrindo o envelope.
— Interessantes, eu diria.
Ele retira algumas folhas, espalhando-as no colo.
— Movimentações bancárias, ligações, mensagens… ele ergue o olhar, sorrindo de lado.
— Você realmente confia demais no Moretti.
Cassandra tenta disfarçar a tensão, mas o único olho visível pisca rápido demais.
— Descobri que ele não só te ajudou a conseguir contratos fraudulentos como também te garantiu rotas de fuga, contatos no exterior… até documentos falsos.
David fecha o envelope, apoiando-o na mesa.
— Só tem um problema, Cassandra. Ele se inclina, a voz baixa, cortante.
— Meus homens já têm acesso a todas as suas contas… E adivinha?
Uma pausa curta, venenosa.
— Eu já tirei o que me interessava. Você está… pobre.
O impacto é visível. Cassandra arregala o olho, o ar preso na garganta.
— Sua empresa de RH?
Ele dá um leve sorriso.
— Encerrada. Cancelada oficialmente ontem à noite. Seus clientes receberam avisos de fraude, e suas portas estão fechadas para sempre.
Ela respira com dificuldade.
— Não… você não pode…
— Eu posso. A resposta vem firme, certeira.
— E já fiz.
David volta para a mesa, abre um notebook prateado e o gira para que Cassandra veja a tela.
— Quer uma prova? Pergunta, clicando com precisão nas teclas. Em segundos, a tela exibe o saldo da conta principal dela: zero absoluto.
Ele ri, um som baixo, quase divertido.
— Está vendo, Cassandra? O pagamento pelo meu serviço… ele pausa para saborear a própria ironia, sair da minha casa e encontrar Jeff… já foi feito. Por você.
Ela arregala o olho, confusa, sem entender.
— Eu não vou cobrar um centavo de Jonathan. A voz dele carrega um deboche calculado.
— Você já me pagou, e muito bem pago.
— Então, me diga… ele se inclina de novo, com o rosto a centímetros do dela, onde está Alan Moretti?
Ela fecha o olho, tentando manter-se firme, mas o terror está estampado no rosto deformado.
— Eu não…
David não deixa terminar. Pega o espelho portátil da mesa e coloca sobre o rosto dela, forçando-a a ver.
— Olhe bem, Cassandra. Esse é o preço de mexer com a família errada. A voz dele é quase um sussurro, mas cada sílaba pesa como chumbo.
— E eu ainda posso piorar.
As lágrimas escorrem pelo rosto dela, misturando-se ao suor e à sujeira.
— Fale… ordena.
Ela treme, a boca se abrindo, mas em vez de palavras, um soluço preso sai.
David se endireita, ajeita o paletó e caminha até a porta.
— O dia está só começando. Ele lança o último olhar antes de sair.
— Pense bem, Cassandra. Quando eu voltar, quero respostas… ou trago o inferno inteiro para esta sala.
Ele sai. O som da porta se fechando é como uma sentença.
Lá fora, passos ecoam, e Cassandra percebe que a rede ao seu redor está apertando. O Don já a deixou sem dinheiro, sem aliados, e agora vai atrás de Alan.
Quanto tempo até ele encontrar… e trazer Alan junto?
Quanto tempo até ela perder o último fio que a mantém viva?

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